Hamilton observa o vencedor do GP da Rússia, Bottas, no pódio
(Foto Mark Sutton / LAT / Mercedes)

Erro no Q2 e punição na prova: o conturbado GP da Rússia de Hamilton

Lewis Hamilton foi para Sochi no último final de semana com a expectativa de igualar o recorde de vitórias de Michael Schumacher na F1. Porém, o triunfo de número 91 do inglês escapou aos poucos, com problemas e erros desde a classificação no sábado até a corrida de domingo.

Com uma estratégia já comprometida por conta do tipo de pneus que ele foi obrigado a largar e uma penalização de 10 segundos na corrida por quebra de protocolo de teste de largada, suas chances foram quase a zero ainda no primeiro terço de prova.

Desta forma, a vitória na Rússia foi escapando aos poucos das mãos de Hamilton, que teve que se contentar no final com um terceiro lugar, atrás do companheiro Valtteri Bottas, vencedor, e o segundo colocado Max Verstappen, da Red Bull.

Estratégia de Hamilton comprometida

A ideia inicial da Mercedes e de Max Verstappen era largar na corrida com os pneus médios, já que os macios estavam durando pouco e perdiam muito desempenho após as primeiras voltas. Desta forma, eles poderiam fazer um primeiro trecho de prova mais consistente e trocar para os duros mais perto da metade do GP, podendo chegar ao final com uma parada de forma tranquila.

Só que para Hamilton, isso tudo foi por água abaixo no sábado. Os pilotos que ficam entre os 10 primeiros do grid e que passam ao Q3 largam na corrida com os mesmos pneus com que fazem seus melhores tempos nesta fase. Por isso, a estratégia de prova já começa a ser definida neste ponto do final de semana.

Na primeira tentativa com os compostos médios, Bottas e Verstappen marcaram tempos enquanto Hamilton teve sua marca deletada porque ultrapassou o limite de pista na última curva do traçado russo. Todos partiram para uma segunda volta. Bottas conseguiu melhorar seu tempo, o deixando em posição mais confortável para passar ao Q3, mas um acidente de Sebastian Vettel fez a direção de prova interromper a sessão com bandeira vermelha, obrigando Verstappen e Hamilton abortarem suas voltas.

Hamilton ultrapassa o limite de pista na classificação em Sochi
Hamilton ultrapassa o limite de pista na classificação em Sochi (Reprodução/F1)

Faltando apenas 2 minutos e 15 segundos para o final do Q2, Red Bull e Mercedes precisaram resolver um dilema com o risco de ficarem fora. Os pneus médios normalmente demoram mais para chegarem à temperatura ideal e com a pista com tráfego intenso nos segundos finais, Verstappen e Hamilton poderiam não conseguir fazer a preparação ideal na volta de saída do pit.

Por isso, os dois times resolveram mandar seus pilotos à pista agora com pneus macios para se garantirem no Q3. Verstappen já tinha uma volta cronometrada, e quando a Red Bull identificou pelo que os outros adversários estavam fazendo que seu tempo com os médios não seria batido, mandou o holandês tirar o pé para não melhorar e ficar com a marca anterior. Assim, ele largaria na corrida com os médios.  

Só que Hamilton não tinha essa opção porque ele simplesmente não tinha completado nenhuma volta cronometrada. Por isso, ele passou ao Q3 com pneus macios enquanto Bottas e Verstappen tinham os médios.

Sendo assim, sua estratégia já estava comprometida. Ele teria, como realmente aconteceu, que parar bem antes dos rivais, e mesmo tendo largado na pole e mantido a liderança, muito possivelmente perderia a ponta após as rodadas de pit stop. Ou, na melhor das hipóteses, teria pneus com 10 voltas a mais de desgaste na segunda metade da prova. De qualquer maneira, ele ainda teria chance de lutar na pista. O que ele não esperava, é que suas chances acabariam por um erro de cumprimento de protocolo.

Punição por teste de largada

Todas as quintas-feiras pré-GP, a direção de prova publica uma série de diretrizes específicas para aquela corrida. Essas “notas da direção de prova” são ainda discutidas no briefing com os pilotos e têm peso de regra para aquele final de semana.

São pontos que levam em conta características de cada circuito e evento, pois cada traçado tem entrada e saída de boxes diferentes, possuem alguma curva que se pode ganhar tempo passando por fora do limite de pista, entre outros diversos itens observados pelo diretor de prova, Michael Masi.

Para o GP da Rússia, por conta do desenho da saída dos boxes, em um ponto em que os carros que vem da pista não têm visão total de quem está deixando o pit lane e velocidade elevada, foi avisado que testes de largada só poderiam ser realizados em um ponto específico, onde fica o farol de sinalização perto do final dos boxes.

Nota da direção de prova publicada na quinta-feira antes do GP da Rússia sobre o local específico em que os testes de largada (“Practice starts”) poderiam ser feitos

Na volta em que deixa o box para seguir ao grid, antes da corrida, Hamilton realiza um teste de largada naquele ponto, mas pergunta pelo rádio para seu time se poderia fazer outro, mais à frente. Isso porque como todos os outros pilotos fizeram diversos experimentos naquela posição durante o final de semana, o asfalto estava bem mais emborrachado do que o grid, o que passaria uma sensação e parâmetro não tão exatos ao que eles enfrentariam na largada.

Sem ver que Hamilton já feito seu teste no local indicado, a engenheiro do inglês, Peter Bonnington, disse que ele poderia sim, desde que se mantivesse bem à direita para dar espaço aos outros carros que passariam ao lado, pela esquerda. Muito provavelmente ele esperava que o piloto faria o experimento poucos metros à frente, ainda próximo da área determinada pela direção de prova.

Só que o erro do engenheiro fica ainda mais claro quando Hamilton pergunta se poderia ir “até o final do muro do pit, e mesmo assim recebe o ok. Ele parou ao final da faixa de saída dos boxes, já quase dentro da pista. Era justamente o que a diretriz da prova proibia. E a ação ainda foi flagrada pela transmissão de TV no momento, o que chamou a atenção dos comissários instantaneamente.

Teste de largada de Hamilton fora de posição em Sochi
Teste de largada de Hamilton fora de posição em Sochi (Reprodução/F1)

Hamilton recebeu então já durante a corrida duas sanções de 5 segundos cada, somando 10 segundos que teria que cumprir parado em seu primeiro pit stop. Na visão dos comissários, ao realizar o teste de largada em um lugar diferente, além da questão de segurança, o piloto da Mercedes teve uma vantagem esportiva, já que os outros não realizaram o experimento nas mesmas condições de pista que ele, mais próximas ao que todos enfrentariam no grid.

Por isso, o heptacampeão foi punido com tempo. Além disso, ele ainda infringiu a nota da direção de prova que obriga o piloto a deixar o pit em velocidade e aceleração constantes. Ao parar o carro, ele recebeu a segunda punição de cinco segundos.

Pontos da carteira

No momento em que a penalização foi publicada, foi anunciado que Hamilton também receberia um ponto por cada infração em sua Superlicença. O que o levaria a 10, sendo que o máximo antes de uma suspensão é de 12 dentro de um período de 12 meses.

Algumas horas depois da corrida, ao ouvir a comunicação de box em que mostra o engenheiro da Mercedes orientando Hamilton de forma errada, os comissários revisaram a decisão e retiraram os pontos da Superlicença do piloto, que volta aos seus oito (dois pelo acidente com Albon no GP do Brasil de 2019, por ignorar bandeira amarela no GP da Áustria de 2020, pelo acidente com Albon na Áustria, por não respeitar sinalização de box fechado no GP da Itália). Eles impuseram então uma multa de 25 mil euros à equipe.

E isso significa então que Hamilton não deveria ser punido? Não, pois a visão principal é que, seja por erro dele ou da equipe, o inglês teve uma vantagem esportiva. Por isso, a punição de tempo durante a prova. Os pontos na Superlicença deixaram de ser dados porque estes sim só são contabilizados quando é um ato do piloto, como um acidente ou desrespeito à uma bandeira amarela.

Desta forma, o momento histórico para Hamilton de igualar o recorde de vitórias na F1 foi adiado por algumas semanas. Ele poderá fazer uma nova tentativa em Nurburgring, no dia 11 de outubro.

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