Hamilton teve muita dor de cabeça com a McLaren de 2009
(Foto: Mercedes)

A última vez que Hamilton teve carro ruim e como foi a volta por cima

Ver Lewis Hamilton com dificuldades de desempenho com um carro novo na F1 é algo bastante raro desde o início da carreira do inglês. Não é à toa que ele tem vitórias em todas as temporadas em que competiu no Mundial até hoje.

Enquanto ele luta para destravar desempenho de sua Mercedes W13 em 2022, ainda não sabemos se ele irá manter essa escrita. Mas podemos lembrar qual foi a última vez em que ele enfrentou tamanha dificuldade com um novo modelo.

Neste quesito, duas campanhas chamam a atenção. Em 2013, Hamilton definitivamente não tinha um carro para disputar o título em seu primeiro campeonato pela Mercedes. Porém, seria exagero dizer que o carro era ruim. Nem mesmo o próprio piloto considera assim por conta de toda a situação.

O inglês conquistou apenas uma vitória, enquanto seu companheiro, Nico Rosberg, duas. Hamilton, no entanto, ficou à frente no campeonato de pilotos, em um bom quarto lugar, com 189 pontos, enquanto Rosberg fechou o ano em sexto, com 171. Pela regularidade da dupla, a Mercedes conquistou o vice-campeonato entre os construtores, atrás apenas na Red Bull, o que era o melhor resultado da marca desde seu retorno à F1, em 2010.

Ou seja, pela contextualização, podemos dizer que apesar de não ser um carro para levantar a taça, a Mercedes em 2013 tinha mais uma questão de momento de evolução do time, que se preparava para dar o grande pulo do gato a partir de 2014 com a grande mudança de regulamento que a F1 iria introduzir. Não era o caso de um caso de carro simplesmente ruim.

Então, precisamos recuar mais um pouco no tempo para encontrarmos o último carro realmente ruim de Hamilton na F1. E aí caímos na temporada de 2009. E não deixa de ser curioso as coincidências que aquela época tinha com a atual. O inglês era o atual campeão mundial e a categoria também passava por uma grande alteração de regulamento.

Em uma entrevista ao site Motorsport, o próprio Hamilton fez um paralelo com a atual situação e a de 12 anos atrás. “Há pessoas que assistem e dizem que nunca tive um carro ruim. Posso garantir a vocês que já tive. O de 2009 estava muito, muito longe, foi o pior carro que já tive. Esse carro atualmente não está muito longe disso, mas acho que tem muito potencial”, disse o heptacampeão, durante o GP da Emília-Romanha. “E assim como fizemos com aquele carro, eventualmente voltamos à luta. E tenho toda a fé de que minha equipe poderá fazer isso agora também”.

As dificuldades de Hamilton e McLaren para 2009

Hamilton era a nova estrela da F1. Após uma surpreendente estreia em 2007, em que terminou empatado em pontos com o companheiro de equipe na McLaren, Fernando Alonso, que vinha de um bicampeonato mundial, o inglês conquistou o título em sua segunda tentativa, em uma histórica decisão em Interlagos, com uma ultrapassagem na última curva de Interlagos e vantagem de apenas um ponto para o vice, Felipe Massa.

Em 2009, a FIA promoveu uma revolução no regulamento técnico. Os carros passaram a ter um visual muito mais limpo aerodinamicamente, com a proibição de apêndices sobre a carenagem. Além disso, as dimensões das asas dianteira e traseira também foram alteradas. Para compensar, os pneus sulcados foram substituídos pelos slicks, o que proporcionava melhor desempenho devido ao aumento da superfície de contato com o solo.

Carro de 2009 da McLaren teve problemas desde o começo e causou muita dor de cabeça para Lewis Hamilton
Carro de 2009 da McLaren teve problemas desde o começo e causou muita dor de cabeça para Lewis Hamilton (Foto: Mercedes)

Por fim, um item que era opcional dava a dica do caminho que a categoria viria a seguir. O regulamento permitia o uso do Kers, que recuperava energia cinética e o transformava em potência extra para o motor. Uma primeira versão do atual MGU-K. Ainda que de forma tímida e sem obrigação para todos, era o início da era dos motores híbridos da F1. Só que por ser uma tecnologia bastante nova e que demandava investimento para desenvolvimento, apenas algumas equipes ligadas a montadoras adotaram o sistema. Foram elas BMW, Ferrari, Renault e a McLaren, que na época era não só parceira da Mercedes, como tinha quase metade de suas ações nas mãos da marca alemã.

O conjunto dessas mudanças no carro e motor tiveram consequências diretas no balanço de forças da categoria. A nova Brawn GP, espólio da Honda, que abandonou a categoria ao final de 2008, surgiu como o grande carro se aproveitando de brechas no regulamento aerodinâmico, que a permitiram explorar o polêmico difusor duplo. Outros dois times, Toyota e Williams, também tiveram um bom começo de ano utilizando-se no mesmo artifício. Além disso, a Brawn foi uma das equipes que optaram por não usar o Kers, o que em um primeiro momento ajudou a economizar peso, balancear de forma mais simples o carro, não enfrentar problemas com um equipamento tão novo, e ainda economizar em desenvolvimento.

Já as duas grandes forças das temporadas anteriores, McLaren e Ferrari, se deram muito mal com toda essa situação. Nenhuma das duas tinha difusor duplo e ambas se enrolaram com o Kers. Principalmente a organização inglesa. Projetado em uma parceria entre Neil Oatley e Paddy Lowe, com participação ainda do engenheiro Pat Fry, o modelo MP4-24 enfrentou problemas desde os primeiros testes da pré-temporada, com falhas mecânicas e falta de pressão aerodinâmica. Em média, Hamilton e seu compenheiro, Heikki Kovalainen, ficavam 1s5 atrás das melhores marcas a cada sessão.

Na estreia, no GP da Austrália, a McLaren não conseguiu colocar seus dois pilotos nem entre os 10 primeiros. Saindo de 18º após pagar uma punição por troca de câmbio, Hamilton até fez uma boa corrida de recuperação e até recebeu a bandeirada em quarto. Mas uma confusão durante um safety car a três voltas do final em que Jarno Trulli saiu da pista e depois ultrapassou o inglês de novo abriu caminho para o “Liegate” (“Escândalo da Mentira” em português), em que Hamilton foi desclassificado da prova por mentir para os comissários. Se quiser saber detalhes dessa história, já contamos aqui no Projeto Motor. Desta forma, McLaren e Ferrari ficaram com todos os seus carros fora dos pontos na prova inicial de 2009.

E a situação se arrastaria desta forma por toda a primeira metade da temporada. Após as nove primeiras corridas do ano, a Brawn GP liderava o campeonato de construtores com 112 pontos, seguida pela Red Bull, com 92,5. A Ferrari era a quarta com apenas 32 pontos e a McLaren vinha em sexto com meros 14. Hamilton tinha apenas quatro resultados entre os dez primeiros.

O carro tinha sérios problemas aerodinâmicos e mesmo com a inclusão do difusor duplo logo na segunda etapa, na Malásia, o modelo MP4-24, por não ter sido desenhado para a potencializar a peça, não fazia bom proveito do conceito. O modelo gerava muito menos pressão aerodinâmica que os rivais. Além disso, o trabalho com o Kers também atrasou o desenvolvimento, pois o equipamento era pesado e prejudicava o equilíbrio. Era uma queda muito grande para quem vinha de um título mundial e uma equipe que tinha ficado apenas duas vezes fora do top 3 de construtores nos dez anos anteriores, com cinco vice-campeonatos no período.

A cada rodada, ficava óbvio que um bicampeonato para Hamilton ficava quase impossível, mas a McLaren continuou investindo em atualizações. Isso fez com que o time tivesse alguns altos e baixos. Mas o desbloqueio do seu potencial viria apenas no segundo semestre.

Volta por cima tardia

Os primeiros sinais de que a McLaren finalmente encontraria um caminho a seguir com seu desenvolvimento aconteceram no GP da Alemanha, em Nurburgring, nova etapa de um total de 17.

Hamilton conseguiu um bom quinto lugar no grid, igualando seu melhor resultado de classificação no ano, com seu companheiro, Kovalainen, em sexto. O inglês fez uma boa largada e chegou a pular para segundo, mas tomou um toque de Mark Webber por trás que furou seu pneu traseiro direito. Assim, caiu para as últimas posições. Kovalainen ainda terminou em oitavo.

Duas semanas depois, no GP da Hungria, mais confiante com as evoluções anteriores de seu equipamento, a McLaren enfim introduziu uma especificação nova de seu modelo MP4-24. E não poderia ter dado mais certo. Hamilton largou em quarto e venceu a prova. O triunfo entraria para a história da F1 como o primeiro de um carro híbrido na categoria.

2009 foi uma temporada difícil, mas McLaren e Hamilton conseguiram se recuperar na metade do campeonato
2009 foi uma temporada difícil, mas McLaren e Hamilton conseguiram se recuperar na metade do campeonato (Foto: Mercedes)

Nas sete corridas seguintes até o final do ano, Hamilton e a McLaren finalmente voltaram ao jogo. O inglês conquistou mais uma vitória e subiu ao pódio em mais outros três oportunidades. A reação foi tardia para brigar pelo título, mas o piloto ainda conseguiu terminar o ano em quinto no campeonato, atrás apenas das duplas de Brawn GP e Red Bull, as duas grandes forças da temporada. A McLaren também se recuperou entre os construtores, terminando em terceiro.

Em 2010, as coisas voltariam para o normal. Hamilton brigou pelo título até a prova final, terminando em quarto, a 16 pontos do campeão, Sebastian Vettel. Ele conquistou três vitórias e nove pódios, em uma das temporada bastante acirrdada entre McLaren, Ferrari e a campeã, Red Bull. A McLaren ficou com vice de construtores, retornando ao seu lugar usual na época.

Agora, é esperarmos para ver se Hamilton e a Mercedes também conseguem uma recuperação parecida.  

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