Momento de Aston Martin e Vettel faz parceria ser ideal para ambos
Uma das equipes de melhor custo benefício do grid nos últimos anos e que está entrando em uma nova fase, com investidores e um uma marca que remete a um ícone dos esportivos: Aston Martin. Um multicampeão que vem em má fase e perdeu espaço entre os times grandes, mas ainda é jovem (33 anos) e tudo indica que ainda tem muito gás para um novo projeto: Sebastian Vettel.
A união desses nomes faz muito sentido. Não vamos entrar aqui na questão de quem deveria sair para a chegada do alemão, Sergio Pérez ou Lance Stroll, até porque nos últimos meses a dúvida ficou menos óbvia do que no começo do ano. Mas a chegada de Vettel na futura Aston Martin, que corre até o final de 2020 ainda com o nome de Racing Point, marca o início de uma nova fase para os dois lados.
Possivelmente, ainda mais importante para a equipe que recebe o tetracampeão. Quarta colocada do campeonato de construtores por dois anos consecutivos (2016 e 17) quando ainda era a Force India, o time teve uma mudança importante de acionistas, com um grupo de investidores liderado pelo canadense Lawrence Stroll chegando em 2018, após quase fechar as portas.
Em janeiro de 2020, o consórcio do empresário comprou parte relevante da montadora Aston Martin e ele assumiu a direção da empresa. E uma de suas primeiras decisões foi de unir a marca à sua equipe na F1 através de um patrocínio de direitos de nome, como acontece na relação atual entre Sauber e Alfa Romeo, por exemplo. E nova contratação é mais um passo para impulsionar o projeto.
Por que é bom para a Aston Martin
Por pior que seja a fase de Vettel nos últimos dois anos, o alemão ainda é um tetracampeão mundial e dono de 53 vitórias na F1. O terceiro piloto mais vitorioso da história, atrás apenas de Michael Schumacher e Lewis Hamilton. Ele também tem apenas 33 anos, ou seja, difícil imaginar que ainda não tenha gana e condição física para mais. É só olhar o exemplo de Kimi Raikkonen correndo aos 40 anos e Fernando Alonso, aos 39, retornando à categoria.
Vettel é um cara rápido e com experiência. Com o carro certo, ele ainda faz a diferença, como vimos em algumas ocasiões em 2019, principalmente no GP do Canadá. E sua chegada à Aston Martin não soa como um piloto em fim de carreira querendo espremer um pouco mais de sua passagem pela categoria, como Raikkonen na Alfa. Cai mais para o lado de um talento precisando de ares novos e encontrando no time a chance de liderar um novo projeto.
Em sua época como Force India, a equipe mostrou várias vezes que conseguia fazer bastante com poucos recursos. Talvez, com mais de investimento poderia dominar com ainda mais tranquilidade o pelotão intermediário. Com sua polêmica “Mercedes Rosa” de 2020, já sob nome de Racing Point, tem conseguido bons resultados.
Claramente ainda falta um pouco mais de consistência e a operação ainda tem seus altos e baixos em algumas etapas. Mas a ideia é crescer de forma orgânica, sem loucuras. O time está construindo uma nova sede, que terá instalações mais modernas, mas que deve ficar pronta apenas ao final de 2022. Além disso, a estrutura que se tem hoje também está sendo melhorada para essa fase de transição.
E a chegada do teto de gastos e novo Pacto de Concórdia, que prometem em conjunto diminuir a distância financeira entre os times da F1, é mais do que interessante para a Aston Martin. Se não pode levar o orçamento de sua equipe para o nível de Mercedes, Red Bull e Ferrari, Lawrence Stroll pode, através do patrocínio da Aston Martin e outras parcerias comerciais, chegar próximo do limite de U$ 145 milhões que entra em vigor em 2021 e que cai nos anos subsequentes.
O mais importante é que o nome Aston Martin e a chegada de Vettel dão mais credibilidade ao projeto. Apesar da manutenção de Lance Stroll, que tem evoluído aos poucos e com apenas 21 anos ainda promete crescer na categoria, ainda existia uma visão de tudo ser um capricho de um bilionário que tem um filho piloto e que tinha resolvido brincar de F1. Essa imagem vai se exaurindo no momento em que tantas peças vão se encaixando.
Por que é bom para Vettel
Não existe dúvida que desde o GP da Alemanha de 2018, a carreira de Vettel parece ter entrado em uma ladeira abaixo. E no meio de tudo isso, seu relacionamento com a Ferrari também.
Ao receber a notícia no começo de 2020 de que seu contrato com a escuderia italiana não seria renovado, ele ficou com poucas opções na mesa. Uma delas, e como ele mesmo disse, uma das que parecia mais fortes, era a da aposentadoria. Para a F1, ver um tetracampeão mundial deixar a categoria apenas aos 33 anos não seria legal. Isso lembrando que o campeonato perdeu Nico Rosberg, recém coroado campeão em 2016, apenas aos 31.
Vettel é uma estrela do esporte e vê-lo fora do ambiente que não estava dando certo na Ferrari será muito interessante para os fãs da F1. Afinal, ele pode mais? O que ele ainda pode fazer? São dúvidas que ficariam no ar.
O alemão nunca deixa de mostrar sua paixão pela F1, automobilismo e carros. Ele fala como poucos pilotos da história da categoria e mostra muito apreço por grandes pilotos e carros. Recentemente, ele comprou uma Williams FW14B com a qual Nigel Mansell foi campeão em 1992. Aí, você diz para um cara desses que ele tem a chance de defender a Aston Martin, na primeira empreitada da marca na F1 desde 1960. Imagina se não interessou…
Depois de passar por Red Bull e Ferrari, claro que a atual Racing Point, por mais que ela esteja crescendo e por pior que esteja a equipe de Maranello, parece um passo atrás. E é mesmo. Mas se não existe uma vaga na Mercedes, o time de Stroll é uma aposta válida. Tem o orçamento para os próximos anos minimamente garantido, está investindo em estrutura e tem uma parceria técnica interessante com a Mercedes.
O time teve uma clara chance de vitória no GP da Itália e com alguma evolução, pode incomodar um pouco mais no pelotão da frente. Claro, importante colocar no contexto que diversas equipes no pelotão intermediário, como Renault (futura Alpine) e McLaren, experimentam momentos parecidos.
Claro que seria melhor um acordo com uma Mercedes. Mas na falta desta opção, esta transferência mantém Vettel em uma posição relevante e em situação em que ele pode mostrar seu talento em carro rápido nas próximas temporadas. Mesmo que seja para brigar (pelo menos em um primeiro momento) apenas por pódios.
O que deixa dúvidas para os dois lados
Pelo lado da Aston Martin, claro que existe uma preocupação com a decadência de Vettel nos últimos anos. A expectativa é que em um novo ambiente, ele se sinta motivado e encontre de novo sua melhor forma.
O grande problema é que Vettel tem um estilo de pilotagem que não se encaixa com qualquer carro. Modelos que saem muito de traseira ou são muito ariscos, atrapalham o alemão, que ficou bastante acostumados com os monopostos “na mão” dos tempos de Adrian Newey na Red Bull, que soube explorar bem a era dos difusores soprados que pregavam a traseira dos carros. Com o carro certo, Vettel já mostrou diversas vezes que pode bater qualquer adversário na pista. Porém, se não tem encaixe, os resultados não aparecem de forma tão fácil.
Do outro lado, claro que para Vettel colocar todo seu currículo ao dispor de uma equipe que não vence um GP há 17 anos (a última vitória foi ainda nos tempos em que carregava o nome da Jordan, em 2003) não é qualquer coisa. O time mostrou bastante consistência com pouquíssimo ou nenhum investimento em seus tempos de Force India e evoluiu rapidamente com algum dinheiro para 2020, sob a nomenclatura de Racing Point. Mas será que é o bastante?
Além de uma nova estrutura física e a chegada do próprio Vettel, a equipe precisa contratar mais pessoas qualificadas para seu corpo técnico. E deve fazer isso já nos próximos meses, de olho na formação de um time para a mudança de regulamento de 2022.
É uma grande aposta para os dois lados. Mas para o momento de ambos, uma parceria que não poderia ser feita em melhor hora.
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