(Foto: Chris Jones / IndyCar)

Bicampeão da Indy 500, Sato tem uma carreira melhor do que você lembra

Como vários japoneses que passaram por categorias de alto nível no automobilismo, Takuma Sato ainda faz os fãs lembrarem mais de seus momentos afobados do que suas conquistas. Só que agora ele tem duas vitórias nas 500 Milhas de Indianápolis e já é hora de revermos isso.

Para se ter ideia, Sato entre em uma lista de apenas 20 pilotos que venceram a prova mais importante do mundo mais de uma vez. Ele já deixou para trás Mario Andretti, Mark Donohue, Scott Dixon, Tony Kanaan, Ryan Hunter-Reay e Will Power, estes últimos, campeões da Indy que estão na ativa há anos e conquistaram a corrida apenas uma vez. Ao seu lado, com dois triunfos, estão estrelas como Emerson Fittipaldi e Al Unser Jr.

Sato merece seu reconhecimento por uma carreira bastante interessante no geral, incluindo na F1, e que agora está marcada por estes dois momentos históricos. Além de tudo, ele é responsável por destacar também o automobilismo japonês, que normalmente é só lembrado pelas grandes marcas que participam das competições e pilotos desastrados. Já passou da hora de mudar este conceito.

Claro, ninguém aqui está defendendo que Sato deve ser considerado um dos maiores da história e que o Japão é um celeiro de grandes pilotos. Porém, o às de 43 anos já tem um currículo mais respeitável do que muita gente por aí e os japoneses estão sim evoluindo na escala de pilotos.

Vitórias e títulos de Sato na base

Sato explodiu bem na base europeia, sempre com o apoio imprescindível da Honda em cada um de seus passos. Em 2000, foi terceiro colocado na F3 Inglesa, numa era em que a categoria ainda tinha grande importância entre os campeonatos de formação.

No ano seguinte, ele teve uma temporada mágica. Não só foi campeão da F3 Inglesa, como ainda levou o Masters da categoria (batendo nomes como André Lotterer e Anthony Davidson) e o prestigioso GP de Macau. Paralelamente, com o apoio que recebia (e recebe até hoje) da Honda, ele acumulou 1.890 km em testes pela equipe BAR da F1, durante 13 dias de testes.

Bons resultados, apoio de fábrica da Honda, experiência em testes, tudo indicava que Sato estava pronto para a F1. E a montadora japonesa deu aquele último empurrão para ele chegar lá, o levando para a equipe Jordan, onde ele faria sua estreia no Mundial cercado de grande expectativa.

Passagem de altos e baixos pela F1

Sato sempre teve um estilo extremamente agressivo. E isso lhe trouxe bons e maus momentos durante sua carreira. Só que combinado com o estereótipo do piloto japonês no geral, não só nos fãs, mas na comunidade da F1, isso muitas vezes lhe rendeu críticas. Muitas delas, justas. Outras, nem tanto.

Em sua temporada de estreia, esse seu estilo selvagem somado à inexperiência de qualquer estreante assustou muito gente. Ele sofreu diversos acidentes e que logo fizeram as pessoas pensarem que se tratava de mais um piloto japonês maluco na F1. Mas ele conseguiu reverter a situação aos poucos. Seu grande momento veio na última etapa, justamente em casa, no circuito de Suzuka, em que ele terminou na quinta posição e conquistou seus primeiros pontos na F1.

Resultado nos pontos de Sato fez público japonês em Suzuka delirar com o novo ídolo
Resultado nos pontos de Sato fez público japonês em Suzuka delirar com o novo ídolo (Foto: Honda)

O saldo final da temporada, ele terminou com dois tentos contra sete do companheiro, futuro vencedor de GPs, Giancarlo Fisichella. O japonês terminou seis vezes entre os dez primeiros contra sete do italiano, mostrando, com um carro limitado como o da Jordan daquele ano, que podia evoluir em constância.

Em 2003, a Honda passou a concentrar sua força na equipe BAR e levou Sato para ser piloto de testes do time. Mais uma vez, em Suzuka, ele entrou no lugar de Jacques Villeneuve, que estava sendo dispensado pelo time após marcar apenas seis pontos durante toda a temporada. E na estreia na equipe, o japonês mais uma vez mostrou a força de correr em casa e terminou na sexta colocação, o que naquele campeonato passava a equivaler três pontos.

Com o bom resultado e a confiança da Honda, Sato foi confirmado para a temporada completa de 2004 ao lado de Jenson Button na BAR. Essa era a grande chance da carreira do piloto, mas também a que ele talvez mostrou mais inconsistência, o que talvez lhe custou melhores oportunidades na F1 no futuro.

Sato teve seus azares, somando seis quebras de motores durante 2004. No total, ele marcou 34 pontos, como o pódio no GP dos EUA, em Indianápolis (veja só). Só que a comparação com o companheiro não lhe era favorável, com o inglês somando 85 pontos e dez pódios no total. O carro do time, sem dúvida nenhuma era bom, tanto que, muito apoiado no desempenho de Button, o time terminou com o vice no campeonato de construtores.

Sato conquistou seu primeiro e único pódio na F1 no GP dos EUA de 2004
Sato conquistou seu primeiro e único pódio na F1 no GP dos EUA de 2004 (Foto: Honda)

Na temporada seguinte, a BAR não conseguiu repetir o desempenho. Para piorar, o time ainda chegou a ser banido de duas etapas por usar um sistema que permitia o carro andar abaixo do peso durante a prova. De qualquer maneira, Sato marcou apenas um ponto durante todo o campeonato contra 37 de Button. Uma diferença injustificável.

Ao final do ano, a Honda resolveu comprar a BAR para formar sua equipe de fábrica na F1 e manteve os acordos pré-estabelecidos para ter Button e Rubens Barrichello, que chegava da Ferrari. Uma grande campanha no Japão para que a empresa encontrasse uma vaga para Sato se formou.

Diante da comoção, a empresa resolveu apoiar a iniciativa de Aguri Suzuki para entrar com um novo time na F1, fornecendo uma verba em dinheiro, motores e apoio técnico no primeiro ano e até mesmo a base do chassi para a segunda temporada. Não era o melhor dos lugares da categoria, mas Sato conseguiu se manter mais um tempo no Mundial.

E neste momento, não fez feio. Se o ano de 2006 foi sofrível, 2007 ele chegou a andar em vários momentos à frente até mesmo da equipe oficial da Honda. Ele ficou duas vezes dentro da zona de pontuação, fechando o campeonato com quatro pontos, apenas dois atrás de Button e três à frente de Barrichello.

Só que em 2008, a Honda resolveu retirar seu apoio financeiro para a Super Aguri e o time se desfez após quatro etapas. Sato estava mais uma vez desempregado.

A redenção de Sato na Indy

Sato passou uma temporada como piloto de testes da Toro Rosso e em 2010 recebeu apoio da Honda para entrar na Indy. Na categoria americana, manteve uma evolução constante, mostrando que tinha muito o que mostrar ainda como piloto.

E sua primeira temporada terminou apenas em 21º pela equipe KV, na segunda marcou duas pole position em terminou em 13º. Na terceira, passou para a RLL e conquistou dois top 3, e teve sua primeira grande chance em Indianápolis. Em uma bela atuação, ele partiu para cima da dupla favorita da Ganassi nas voltas finais, mas na abertura da última volta, tentou a ultrapassagem sobre Dario Franchitti na curva um de forma bastante agressiva a acabou batendo. Muitos ali lembraram de sua “falta de paciência”.

Não demorou para ele dar a volta por cima. E em 2013, agora pela AJ Foyt, ele conquistou sua primeira vitória na Indy, em Long Beach, além de dois top 3 e uma pole.

A grande chance de Sato aconteceu em 2017, quando finalmente teria um carro de ponta na mão, da equipe Andretti. E no geral, ele não foi mal. Mais do que isso, entregou o maior momento de um piloto japonês na história do automobilismo internacional ao vencer pela primeira vez as 500 Milhas de Indianápolis, mostrando velocidade, estratégia e segurando a pressão do multivencedor da prova Hélio Castroneves nas voltas finais.

Só que para 2018, ele teve que voltar à RLL por conta da demora na negociação de renovação entre Andretti e Honda, com a equipe ameaçando mudar para a Chevrolet, o que acabou não acontecendo.

Mesmo nunca conseguindo uma campanha para brigar pelo título, Sato se manteve como um piloto importante da Indy vencendo corridas em todos os anos desde então, terminando em 2019 à frente de seu companheiro, Graham Rahal, no campeonato, em nono. Com o novo triunfo nas 500 Milhas de Indianápolis, agora em 2020, ele já soma seis na categoria.

Sato definitivamente não é um piloto constante. Por isso, em toda sua temporada, no longo prazo da pontuação dos campeonatos, decepciona muitas vezes. Mesmo assim, ele é rápido e com o tardio amadurecimento, aprendeu cada vez mais equilibrar agressividade com estratégia, sem comprometer seu estilo.

Aos 43 anos, é difícil saber quantos anos pela frente ele ainda tem no automobilismo em alto nível, mas com dois feitos históricos em Indianápolis (um poderia ser considerado sorte, mas dois?!), é preciso reconhecer sua importância para colocar o piloto japonês em novo nível e acabar de vez com o estereótipo de desastrados que os competidores do país possuem.

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