Gasly vence GP da Itália apenas 0s4 à frente de Sainz
(Foto: Mark Sutton / LAT Images/Pirelli)

Como Gasly se aproveitou de situações inusitadas para vencer em Monza

Não foi o banimento do modo festa do motor, chuva ou estouros de pneus. Mas algumas situações inusitadas que chacoalharam a estratégia do GP da Itália que levaram Pierre Gasly a uma surpreendente vitória em Monza no último domingo (06).

O piloto e a Alpha Tauri souberam se aproveitar de quase todos os fatores que entraram no jogo a partir da 18º volta da corrida para subirem na classificação e tomarem a ponta. No final, Gasly ainda precisou pilotar na pressão de um perseguidor com um carro mais rápido para se tornar o primeiro piloto francês a vencer uma etapa da F1 em 24 anos. O último tinha sido Oliver Panis no GP de Mônaco de 1996, com uma Ligier equipada coincidentemente com motor Mugen-Honda.

Também foi a primeira vez desde que se iniciou a era dos motores híbridos na F1, em 2014, que uma equipe fora da tríade Mercedes, Ferrari e Red Bull vence. E também desde o GP da Hungria de 2012 que nenhum desses times subiram ao pódio, completado na prova de Monza por Carlos Sainz, da McLaren, e Lance Stroll, da Racing Point.

Ou seja, não faltaram surpresas no GP da Itália. E o que foi que transformou uma prova que indicava mais um domínio da Mercedes e Lewis Hamilton para essa loucura toda? Vamos lá:

Mercedes fora da equação

Se olharmos para o resultado da classificação do sábado, em que Lewis Hamilton fez a pole seguido pelo companheiro Valtteri Bottas com sobra de 0s8 para o terceiro colocado do grid, Sainz, a aposta mais segura seria de mais uma vitória da Mercedes. E mesmo o ritmo inicial da corrida, com o inglês abrindo 13s nas primeiras 19 voltas, nada poderia indicar algo diferente.

Só que a dupla da equipe alemã foi aos poucos se colocando fora da briga com vacilos internos. O primeiro foi de Bottas. O finlandês largou de forma terrível e depois, durante boa parte da primeira volta, ficou perdido por conta das ultrapassagens em posição ruim de pista, o que o fez perder mais espaço. Na primeira passagem na corrida, ele já tinha caído para sexto.

A Mercedes é um carro projetado para andar muito rápido na classificação e liderar as corridas. Quando os pilotos do time caem para o meio do pelotão, normalmente sofrem com a falta de velocidade de reta, já que o modelo é pensado para ganhar tempo nas curvas. Com a nova regra que proíbe a mudança de configuração dos motores durante a classificação e a corrida, Bottas também não teve a chance de aumentar seus giros para partir para o ataque e ficou preso no tráfego.

Importante ressaltar, no entanto, que mesmo com todas as essas “desculpas”, o desempenho do finlandês foi, na melhor das hipóteses, apático. Mesmo com uma corrida inteira pela frente, em nenhum momento ele ensaiou uma recuperação. Caiu para sexto na largada e terminou em quinto.

O que a Mercedes não contava era perder também Hamilton da disputa da vitória. E de forma tão boba. Na volta 18 da corrida, a Haas de Kevin Magnussen quebrou na entrada do pit e ficou estacionada na lateral da pista que leva para o pit lane.

Após duas voltas com bandeira amarela localizada, a direção de prova precisou chamar o safety car, pois fiscais precisariam circular naquele ponto para retirar o carro do dinarmaquês. Apenas dez segundos após a neutralização da corrida, Hamilton entrou no box para a troca de pneus, como seria natural com um safety car neste estágio da prova. Só que a afobação de aproveitar a situação fez os estrategistas da Mercedes não notarem que junto da mensagem de entrada do carro de segurança, também veio o aviso da direção de prova que o pit lane estava fechado.

Local onde carro da Haas ficou estacionado após quebra mecânica (Reprodução/F1)

A decisão foi tomada por uma questão de segurança. Apesar de ter uma abertura no guardrail naquele ponto, ela não é larga o bastante para passar um carro, apenas para passagem dos fiscais. Por isso, a Haas teria que ser empurrada até os boxes. Desta forma, a direção de prova resolveu fechar o pit lane para dar tempo que os fiscais fizessem a operação em segurança, sem os outros pilotos chegando no ponto em velocidade.

A Mercedes perdeu o aviso e Hamilton também não observou os sinais luminosos na saída da curva Parabólica. Com a publicação das mensagens de rádio depois da corrida, ficou-se sabendo que o time até percebeu o erro e tentou avisar o inglês, mas ele já tinha entrado no pit. Não tinha o que fazer. Eles conseguiram evitar, no entanto, que Bottas cometesse o mesmo erro. Tudo isso aconteceu num período inferior a 20 segundos.

Luzes sinalizavam que o pit lane estava fechado quando Hamilton se aproximava (Reprodução/F1)

O resultado da comida de bola foi uma penalização de stop and go (em que o piloto precisa entrar no pit e ficar parado) de 10 segundos. É a segunda pena mais pesada que um competidor pode receber durante uma corrida, atrás apenas da desclassificação com bandeira preta. Tudo isso, porém, está previsto no regulamento por ser uma infração contra uma chamada de segurança da direção de prova. Assim, tínhamos as duas Mercedes fora da briga pela vitória.

Bandeira Vermelha deixa Stroll em ótima posição

Além do problema de Hamilton, o safety car por conta de Magnussen chacoalhou um pouco a prova por dois motivos. A começar, alguns pilotos tinham feito sua parada voltas antes de sua entrada. Em destaque, Kimi Raikkonen, na volta 16, e Pierre Gasly, na 19.

Com o pit lane fechado na primeira volta do carro de segurança, na 20, o pelotão todo se agrupou e só então os outros pilotos entraram no pit. Isso fez com que o francês da Alpha Tauri pulasse de 15º para terceiro e o finlandês da Alfa Romeo, de 16º para quinto. O outro piloto da Alfa, Antonio Giovinazzi, saltaria para quarto, só que ele parou na mesma situação de Hamilton, o que também lhe renderia uma punição.

Lance Stroll resolveu tentar algo diferente. Ele não fez a troca de pneus, o que o jogou de oitavo para segundo. E melhor ainda, atrás apenas de Hamilton, que teria que cumprir uma punição. Só que ele dificilmente conseguiria se manter em posição tão boa por ainda precisar de uma parada. Foi quando veio um enorme golpe de sorte para o canadense.

Duas voltas após a relargada depois do safety car, Charles Leclerc bateu forte sua Ferrari na saída da curva Parabólica. O acidente exigiu a interrupção da prova com bandeira vermelha. O regulamento da F1 permite que os pilotos troquem seus pneus durante tal período. Assim, Stroll teve a chance de colocar compostos novos, mantendo a segunda posição da corrida. Como Hamilton ainda pagaria sua penalização, ele era virtualmente o líder da prova.

A bandeira vermelha ajudou também Gasly. Quando parou na volta 19, o francês colocou pneus duros para ir até o final da prova. Só que a maioria dos adversários que pararam depois, colocaram médios, o que lhes daria uma vantagem. Com a interrupção, o francês teve a chance de mudar para médios novos, igual ao dos adversários, mantendo a terceira posição da prova.

Gasly ao ataque na relargada

Se Stroll aparecia como favorito para a segunda metade da corrida, a relargada parada após a bandeira vermelha mudou a situação. O canadense pulou mal e caiu para quinto já na primeira chicane. Depois, brigando com Giovinazzi pela quarta posição, passou reto na Della Roggia e foi também ultrapassado por Sainz.

Atrás apenas de Hamilton, Gasly assume posição de vitória já na relargada após a bandeira vermelha
Atrás apenas de Hamilton, Gasly assume posição de vitória já na relargada após a bandeira vermelha (Reprodução/F1)

Esse momento foi importante para as posições finais de ambos, pois apesar de estarem naquela hora em quinto e sexto, eles tinham pela frente dois pilotos que cumpririam stop and go nas próximas voltas (Hamilton e Giovinazzi) e um Raikkonen com uma Alfa Romeo sem condições de segurar posições por falta de velocidade. Ou seja, foi a briga direta pelo segundo lugar.

Sem se preocupar com quem estava atrás, Gasly pulou para segundo na relargada, herdou a liderança de Hamilton no giro seguinte e saiu acelerando para tentar abrir vantagem importante que lhe seria essencial no final.

Galy segura a ponta no trecho final de corrida

Enquanto Gasly tinha pista livre à frente a partir da volta 28, Sainz brigava com Stroll e as Alfa Romeo. Quando o espanhol assumiu finalmente a vice-liderança na 34ª passagem, ele estava 4s3 atrás do piloto da Alpha Tauri e partiu para a perseguição.

A McLaren tinha um acerto bom para o traçado de Monza, tanto que na classificação, Sainz já tinha conquistado o terceiro lugar do grid e Lando Norris, sexto. A vantagem de Gasly passou a cair volta-a-volta até a 46, quando ela estabilizou em cerca de 1s5 por algumas voltas.

Comportamento da diferença entre Gasly e Sainz no trecho final do GP da Itália
Comportamento da diferença entre Gasly e Sainz no trecho final do GP da Itália

Sainz teve problemas neste momento para trazer a desvantagem para baixo do 1s, que o permitiria abrir a asa móvel. Isso aconteceu por conta da turbulência normal nas curvas antes das retas e pela boa pilotagem de Gasly, que sabendo que tinha menos reta que o adversário da McLaren, focou em conseguir o melhor contorno possível das curvas, para manter a vantagem.

Sainz entrou na zona de abertura de asa apenas na penúltima volta, e conseguiu usar o dispositivo para se aproximar. Mas era tarde demais. Ele cruzou a linha de chegada apenas 0s4 atrás. Uma vitória surpreendente de Gasly, que, junto com a equipe Alpha Tauri, soube se aproximar de todas as possibilidades que foram se abrindo durante a prova.

Primeira vitória de Gasly na F1 foi por apenas 0s4
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