Decisões que novos donos da Williams precisam fazer pelo futuro do time
A Williams anunciou na última sexta-feira (21) que o fundo de investimentos americano Dorilton Capital adquiriu o controle acionário do time e que passava a ser o novo proprietário principal da empresa.
Muitas perguntas ainda devem ser respondidas nas próximas semanas sobre a transação. Por exemplo, se algum acionista minoritário segue com participação na companhia e se acontecerá uma mudança da administração e diretoria, entre outros. O Dorilton é conhecido por ser um fundo que investe com política de visão a longo prazo, sem pressa de revender sua participação, e que pensa no ganho de valor neste período e não em dividendos.
Normalmante, segundo o que diz o próximo site do grupo, eles preferem trabalhar com os administradores que já estão nas firmas em que investem, realizando transições de longo prazo. Ao mesmo tempo, ele tem o foco em empresas industriais e do setor de sáude, sem ter nenhum outro investimento em esporte em seu portfólio. Por isso, precisamos esperar para saber qual será o entendimento do Dorilton para administrar uma equipe como a Williams em um esporte tão ágil como a F1.
De qualquer maneira, destacamos cinco pontos para os quais os novos proprietários do time precisam prestar a atenção para conseguirem reerguer a escuderia.
A Williams precisa gastar melhor
Ao contrário do que muita gente pode pensar ao ver os carros da Williams se arrastando na pista, o orçamento do time é do mesmo tamanho e até maior do que alguns de seus concorrentes do pelotão intermediário e da parte de trás do grid.
Em 2018, o time teve um orçamento de U$ 150 milhões contra, por exemplo, U$ 130 milhões da Haas e U$135mm da Alfa Romeo. Em 2019, pela queda de receitas, o time acabou mantendo o valor em dólares (a comparação é sempre complicada por conta do câmbio da Libra e do Euro) enquanto suas rivais subiram para o mesmo patamar, mas não necessariamente ultrapassaram. A Toro Rosso (atual Alpha Tauri) também não gastou na última temporada mais de U$ 155mm.
Por isso, fica claro que o problema da Williams não é dinheiro, mas como gastá-lo. O time não consegue converter seu investimento em pontos. Isso considerando que tem uma das melhores unidades de potência da categoria, fornecida da Mercedes. O que nos faz entender que o problema está no chassi, desenvolvimento de projetos e operação como um todo.
O Dorilton pode até não entender de corrida, mas sabe lidar com dinheiro e pode ajudar os administradores da Williams a solucionar o problema de onde colocar o dinheiro que será injetado no time da forma mais produtiva.
Reorganiação da equipe técnica
A Williams claramente tem dificuldade de evoluir porque muda a todo momento seu direcionamento técnico. Desde 2012, passaram pelo cargo de diretor técnico Sam Michael, Mike Coughlan, Pat Symonds, Paddy Lowe e Doug McKiernan. Em 2020, simplesmente não existe ninguém no posto principal, com o carro sendo desenvolvido em conjunto entre os líderes das várias áreas (aerodinâmica, projeto, mecânica, suspensão e etc).
No melhor período do time nos últimos tempos, entre 2014 e 15, com Symonds, o time se destacou mais pela unidade de potência da Mercedes do que pelo carro em si. Quando outras fabricantes se aproximaram do rendimento do motor alemão, a Williams ficou para trás de novo.
Além disso, já faz um tempo em que a Williams não tem um chefe de equipe forte no comando da operação. Oficialmente, o nome de Frank Williams ainda aparece na ficha, mas sua filha, Claire, é quem tem feito o serviço, com erros e acertos, mas principalmente sobrecarregada por outras funções da administração da empresa. Já é hora da Williams ter uma pessoa 100% focada no dia-a-dia do time de F1.
Investimento saudável e não de pilotos pagantes
A Williams teve um bom período não muito tempo atrás com uma dupla forte formada por Valtteri Bottas e Felipe Massa. Não é a toa que foi o melhor momento do time nos últimos anos, em que ficou na terceira posição no campeonato de construtores por duas temporadas consecutivas e até fez pole com o brasileiro, em 2014.
Podemos até lembrar da vitória de Pastor Maldonado em 2012, a última da Williams, mas o resultado foi claramente um ponto fora da curva na campanha, diferente de 2014.
Assim, se olharmos para os últimos dez anos, uma dupla deste nível foi exceção. Em quase todas as outras temporadas, o time teve pelo menos um piloto que “comprou” a vaga. E mesmo quando este tem potencial, como Lance Stroll, isso causou às vezes uma antecipação da promoção do piloto.
O Dorilton precisa garantir investimento que, assim como no corpo técnico, deixe o time livre para ter os melhores pilotos possíveis e disponíveis no mercado. Isso não só trará melhores resultados no curto prazo, mas ajuda no desenvolvimento do modelo para temporadas posteriores e principalmente melhora da credibilidade perante potenciais patrocinadores.
Williams será construtora solo ou terá parceria técnica
Talvez aqui temos um dos pontos principais a serem estudados pelo Dorilton considerando a estratégia da Williams para os próximos anos. Com exceção óbvia da unidade de potência, o time projeta e fabrica praticamente todo o seu carro. Mesmo as partes não listadas, como caixa de câmbio.
Isso exige um investimento extra, além de um equipe técnica específica para certas áreas e uma infraestrutura interna muito maior. Entre os times do pelotão intermediário, apenas McLaren e Renault possuem operação parecida. A Racing Point tem parceria técnica com a Mercedes, AlphaTauri com a Red Bull (mesmo dono inclusive), enquanto Alfa Romeo e Haas têm relação com a Ferrari. Esta última, fabrica em casa a menor quantidade de peças possível, incluindo terceirizando o chassi para a Dallara.
Existem vantagens e desvantagens tanto para um construtor solo como para um parceiro técnico. É óbvio que ao comprar peças, partes e projetos de um concorrente, você economiza dinheiro e tempo, porém, estará sempre um passo atrás de alguém que já está no grid. Fabricar 100% de seu carro é um caminho natural quando você está brigando por vitórias e tem dinheiro para manter uma atualização e desenvolvimentos constantes.
O que os novos proprietários precisam medir para fazer este planejamento é o quanto querem investir e onde querem chegar no curto prazo. Se apenas manter o orçamento atual e estágio esportivo do time, não faz muito sentido seguir fabricando tudo, mesmo com a chegada do teto de gastos, pois parte deste dinheiro poderia ser melhor investido em outras áreas. Se tiver investimento extra garantido para bater no teto e uma boa reorganização interna, aí já são outros quinhentos.
A ideia de uma fase de transição adquirindo partes de um adversário do pelotão da frente para depois voltar a ser uma construtora solo também não pode ser rejeitada. Mas, de novo, é uma questão estratégica e que tem muito a ver com o capital disponível e visão conceitual do time.
Williams é um caso para o longo prazo
Pensar em ganhar corridas e ser grande em 2021 deve passar longe da cabeça dos novos proprietários. O projeto aqui é de longo prazo. O momento é de organizar a casa e trabalhar em uma estratégia para a aproveitar o novo cenário que a F1 passa a ter a partir de 2022, com um novo regulamento técnico, teto de gastos e divisão das verbas mais equiparada pelo novo Pacto de Concórdia.
E mesmo em 22, ainda é difícil cobrar uma revolução. A Williams precisa trabalhar com um horizonte de três ou quatro anos para voltar a disputar pódios e dependendo de como a divisão do grid ficar nas próximas temporadas, talvez vitórias.
Pressa, neste momento, é para se iniciar um processo de modernização da administração e arrumar a casa para aproveitar a virada de chave da categoria de 22. Os resultados vêm depois disso.
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