O imbróglio dos direitos de transmissão da F1 e renovação com Interlagos
ATUALIZADO 12/11/2020 – 13h07
A última quarta-feira (11) marcou mais um capítulo da novela sobre os direitos de transmissão da F1 para o Brasil. A empresa Rio Motorsports, que há dois meses anunciou que tinha conquistado o contrato que há décadas pertencia à Globo, admitiu que não seria mais a responsável pelas negociações de TV no país.
A notícia foi dada primeiro pelo site Máquina do Esporte e depois confirmada pelo Projeto Motor, que recebeu a nota abaixo da Rio Motorsports com a justificativa sobre a mudança de postura.
“A Rio Motorsports comunica que decidiu por declinar da opção dos direitos de transmissão da Fórmula 1 no Brasil. A decisão foi tomada devido às incertezas com o calendário para a temporada 2021, provocadas pela segunda onda de contágio por COVID-19 na Europa. Diante do cenário, somado ao fato da possibilidade dessa nova onda se expandir para outros continentes, a Rio Motorsports reavaliou este investimento e abriu espaço para que a Fórmula 1 possa negociar diretamente com as empresas de televisão no Brasil.”
É curioso, claro, a forma como a empresa colocou a culpa do rompimento com a F1 na pandemia, já que o contrato de direitos tinha sido anunciado há apenas dois meses, sendo que o problema do coronavírus assola o mundo há, pelo menos, 10 meses.
Ficou claro para fontes ouvidas pelo Projeto Motor e também para outros veículos de imprensa brasileiros que o problema foi mesmo um questionamento por parte da F1, pressionada por patrocinadores, sobre como a Rio Motorsports estava conduzindo as negociações do sublicenciamento dos direitos no Brasil.
A companhia tinha um modelo de negócios no qual contava com receitas parecidas com as que a Globo conseguia em seus últimos anos de transmissão, porém, revendendo mais barato os direitos para alguma outra TV aberta. Isso seria feito através de um patrocínio cruzado de transmissão e GP do Brasil (o que incluiriam também camarotes e eventos internos), já que a Rio Motorsports pretende construir um autódromo na zona oeste do Rio de Janeiro, no bairro de Deodoro, e ser a promotora do GP do Brasil. Assim, a nova TV que fosse passar as corridas, teria que abrir espaço para os parceiros comerciais da empresa e ter um formato de parceria.
Neste formato, a Globo não se interessou e outras emissoras viram empecilhos financeiros em assumir a transmissão, já que teriam que se tornar parceiras, dependendo em parte da Rio Motorsports para conseguir receitas, e arcar perigosamente com alguns custos fixos, além de abrir espaço na programação.
Com dificuldade de negociar os direitos, a Rio Motorsports se viu praticamente encurralada quando parceiros comerciais da F1, antigos anunciantes das transmissões no Brasil e até mesmo patrocinadores indiretos. Os dois maiores problemas foram a preocupação com a falta de alcance de pública por qualquer outra emissora que não fosse a Globo e o crescente descrédito do projeto do autódromo de Deodoro. Assim, a companhia foi obrigada a renunciar aos direitos.
O que acontece com a transmissão da F1 agora?
Tanto o Projeto Motor como diversos outros veículos e jornalistas afirmaram na época em que a Rio Motorsports fechou os direitos de transmissão que ainda existia a possibilidade da Globo passar as corridas em um acordo de sublicenciamento. A emissora carioca, agora, é a mais forte candidata a ter a F1 em sua grade em 2021, porém, de uma forma bem diferente do que todos previam até então.
Com a Rio Motorsports fora das negociações, a Globo conversa sobre uma renovação direta com a F1, mantendo o mesmo modelo de negócios que ela possui há décadas no país. Claro que existem ainda muitos detalhes a serem discutidos e que ainda precisam ser alinhados para que o acordo saia, mas tudo isso deve acontecer nas próximas semanas.
Além dos direitos em TV aberta, existe a questão de canais fechados, já que o Sportv transmite os treinos e até algumas corridas em horários que batem com o futebol, e também acordo para que a categoria consiga lançar seu serviço de streaming F1 TV no país. Apesar de não ser possível afirmar que a Globo levará o pacote, os indícios para os mais diversos agentes envolvidos com a categoria no país é que a emissora agora é a franca favorita para vencer a parada.
GP do Brasil fica em SP até 2025
A Rio Motorsports insiste que mesmo abrindo mão dos direitos de TV, o projeto do autódromo em Deodoro segue em frente. Mas é claro que a cada dia que passa, questionamentos sobre a viabilidade em torno deste plano aumentam, com problemas de licenciamento ambiental e até toda a questão comercial se tornando nós difíceis de serem desatados.
Uma mudança política no Rio de Janeiro, com o recente impeachment do governador Wilson Witzel e a possível derrota do atual prefeito Marcelo Crivella nas eleições deste ano, também podem influenciar no tamanho e força do apoio estatal ao evento.
Com total inviabilidade de o autódromo estar pronto para 2021, a F1 negocia no momento um contrato com São Paulo para que a prova siga em Interlagos. A princípio, a ideia é um acordo curto, de um ou dois anos, ainda apostando que a pista do Rio de Janeiro sairá. As autoridades paulistas (governo do estado) e paulistanas (prefeitura e promotor local), porém, batem o pé em pelo menos cinco anos. Nesta quinta-feira (12), o governador de São Paulo, João Dória, anunciou acordo com a F1 para que a categoria corra por mais 5 anos, até 2025, no autódromo de Interlagos.
Minutos depois, o prefeito da cidade, Bruno Covas, confirmou a informação, afirmando que a negociação está fechada e que o contrato está sendo redigido para assinatura em breve. O novo acordo tem ainda uma cláusula de opção de renovação de mais cinco anos, podendo então chegar a um total de 10 anos de duração. Covas ainda afirmou que o nome oficial da corrida passa a ser “GP de São Paulo”.
Outra informação importante sobre o evento apurada pelo Projeto Motor é que existirá uma mudança na organização. A Liberty sempre mostrou incômodo com a atual promotora do evento, Interpub, que é liderada pelo empresário Tamas Rohonyi. A corrida será agora promovida em parceria da empresa com a IMM Esporte e Entretenimento, que já produziu no Brasil eventos como o Rio Open, UFC, NBA Global Games, regata da Volvo Ocean Race. Ela também é sócia da Rock World S.A, detentora da marca Rock in Rio e promove o Cirque Du Soleil em suas turnês no Brasil.
Importante destacar que apesar do anúncio do governador e do prefeito, a F1 ainda não confirmou o acordo. O Projeto Motor entrou em contato com a Rio Motorsports, a empresa apenas informou que que “segue com os trâmites para o processo de implantação do autódromo do Rio de Janeiro”.
A Globo, hoje, mesmo não investindo mais diretamente no GP do Brasil em Interlagos, como fazia até uns anos atrás, ainda tem um envolvimento grande com o evento e com a promotora da corrida em Interlagos. Seu relacionamento complicado (para dizer o mínimo) com a Rio Motorsports, também faz com que exista alguma preferência pela manutenção da etapa em São Paulo.
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