Eduardo Freitas será um dos novos diretores de prova da F1
(Foto: FIA)

Os substitutos de Michael Masi e as mudanças na direção de prova da F1

As decisões do diretor de provas da F1, Michael Masi, durante o GP de Abu Dhabi que definiu o título de 2021 dominaram as discussões em torno da categoria nos últimos meses. E o dirigente australiano acabou se tornando centro de uma das maiores polêmicas dos últimos anos.

Desde então, a FIA passou por uma eleição que mudou seu presidente, com a saída do francês Jean Todt e a chegada de Mohammed ben Sulayem, dos Emirados Árabes. A Mercedes colocou pressão por mudanças e, mesmo que não pedindo a cabeça de Masi publicamente, deixou claro que só não iria em frente com um processo para alteração do resultado do campeonato por conta de uma expectativa de uma reestruturação na direção de provas.  

A entidade regulamentadora prometeu conduzir uma investigação para entender possíveis erros cometidos durante o GP de Abu Dhabi de 2022 e que tipo de mudanças ela poderia fazer para evitar que isso se repetisse.

Mesmo não divulgando – pelo menos por enquanto – de forma pública as suas conclusões, a FIA, através de seu presidente, resolveu anunciar uma série de medidas que são consequências diretas do caso. Entre elas, a que mais chamou a atenção de todos foi a substituição de Masi.

“Michael Masi, que realizou um trabalho muito desafiador por três anos como diretor de provas da F1 substituindo Charlie Whiting [que morreu dias antes da abertura da temporada de 2019], receberá a proposta de uma nova posição dentro da FIA”, declarou Ben Sulayem.

Os novos diretores de prova da F1

Para o lugar de Masi, foram apontados dois nomes que irão se alternar a cada GP: o português Eduardo Freitas, que vem do WEC (Mundial de Endurance), e o alemão Niels Wittich, que atuou como diretor de provas do DTM (Campeonato Alemão de Turismo) em 2021. Ambos são bastante experientes no automobilismo e já passaram pela função em diversas categorias.

Freitas começou a carreira como fiscal em provas de motovelocidade em Portugal ainda nos anos 90 e depois começou a participar da supervisão de campeonatos de carros. No começo dos 2000, ele foi contratado para o posto de diretor de provas do FIA GT e do ETCC (Campeão Europeu de Turismo).

Com o tempo, ele desenvolveu sua carreira nas corridas de endurance e começou a dirigir algumas das principais provas da modalidade, como as 24 Horas de Le Mans. Ele é diretor de provas do WEC desde a fundação do campeonato, em 2012, e até hoje é bastante respeitado e elogiado no meio. No GP de Portugal de 2020, quando a F1 retornou ao país ibérico, ele participou da equipe que auxiliou Michael Masi na condução do evento.

O português de 61 anos é conhecido por uma abordagem prática e metódica, até pelo estilo de corrida do Mundial de Endurance, em que muitas vezes mais de 60 carros de quatro classes diferentes e que andam em velocidades bastante desiguais estão na pista,.

Em uma entrevista ao site oficial do WEC em 2020, ele resumiu sua visão do trabalho de diretor de provas da seguinte forma: “O ponto principal da equação é sempre a segurança, e então partimos disso. É seguro fazer isso? Sim ou não? Não, então o que podemos fazer para deixar seguro? Basicamente, é assim que a equação deve ser administrada. Segurança, depois as regras esportivas e depois o show. Se algo está colocando em risco a segurança, então precisamos parar”, disse.

O revezamento de Freitas será com Niels Wittich, de 50 anos. O alemão passou por diversas categorias como a F3 Europeia, entre outros campeonatos regionais. Em 2021, ele foi o diretor de provas do DTM, um dos campeonatos mais importantes do automobilismo.

Niels Wittich irá revezar com Eduardo Freitas como diretor de provas da F1
Niels Wittich irá revezar com Eduardo Freitas como diretor de provas da F1 (Foto: DTM)

Também durante a temporada de 2021, ele participou em diversas etapas da F1 como parte da equipe de apoio da direção de prova. Na FIA, ele também trabalhou como inspetor de pista para homologação geral ou para categorias específicas.

Wittich deixou o DTM ao final do ano passado, pois já tinha aceitado o convite para assumir o posto de assistente direto de Masi para 2022 e também de diretor de provas da F2 e F3, cargo que ele manterá mesmo com a nova promoção.

Com esse revezamento, a FIA tenta deixar de personalizar tanto as decisões, polêmicas ou não, durante as corridas. Assim, a ideia é evitar com que o próximo diretor de provas se torne um alvo como aconteceu com Michael Masi, criticado até mesmo em situações definidas por comissários, e não por ele.

Por outro lado, ter duas pessoas com perfis e experiências diferentes se revezando levantou a preocupação de possíveis mudanças de critério a cada GP. Para diminuir esse risco, a FIA convocou o experiente Herbie Blash para estar em todas as etapas como consultor sênior permanente da direção de prova.

Blash tem uma carreira de mais de 50 anos ligada à F1, passando por diversas equipes. Seu trabalho mais conhecido foi de gerente da Brabham nos anos 80. A partir de 1995, ele trabalhou como assistente direto de Charlie Whiting na direção de prova da F1, deixando o cargo apenas ao final de 2016. Nestes últimos anos, ele vinha atuando como consultor da Yamaha no Mundial de Suberbikes.

Outros pontos da reestruturação

Ben Sulayem anunciou também algumas mudanças no sistema de tomadas de decisão da direção de prova. Para começar, a FIA irá criar uma Sala de Controle de Corrida Virtual baseada na ideia do VAR do futebol.

A estrutura ficará baseada em um dos escritórios da FIA, e não nos autódromos, e usará tecnologia de vídeo e outras ferramentas de programação para auxiliar o diretor de provas na rápida aplicação do regulamento esportivo.

A segunda medida é que as equipes não poderão mais enviar mensagens diretas por rádio ao diretor de provas durante a corrida para, segundo o comunicado do presidente da FIA, “proteger o diretor de provas de qualquer pressão e permitir que ele tome decisões em paz”. As equipes ainda poderão enviar perguntas, porém, através de um “processo bem definido e não intrusivo”, apontou a entidade sem entrar em mais detalhes.

Por último, Ben Sulayem também enviou um pedido ao Comitê Consultivo Esportivo da F1 para examinar e reavaliar o procedimento do momento em que retardatários descontam suas voltas durante o período de safety car.

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