GP de Portugal de 2020 foi marcado por um início alucinante
(Foto: Charles Coates / LAT Images/Pirelli)

Entenda o que fez das primeiras voltas do GP de Portugal uma loucura

As primeiras dez voltas do GP de Portugal do último domingo foram bastante agitadas com McLaren indo para a ponta, Kimi Raikkonen fazendo uma primeira volta fantástica para pular de 16º para sexto e as Mercedes enfrentando dificuldades. E tudo isso não foi à toa.

A corrida em Portimão teve questões bastante pontuais que bagunçaram a briga, especialmente nas primeiras voltas. Escolha de pneus, asfalto novo e a temperatura e umidade no momento da largada em especial.

Tanto que após as primeiras voltas, a briga pela ponta estabilizou dentro do esperado enquanto os já tradicionais pegas no pelotão intermediário seguiram, mas dentro de uma normalidade. O Projeto Motor explica o que aconteceu neste pós-corrida.

Questões pré-GP de Portugal

O circuito do Algarve, que não fazia parte do calendário original da F1 em 2020, foi recapeado no final de agosto para receber a categoria. Por conta das constantes mudanças de direção e de relevo do circuito e o antigo asfalto abrasivo, substituído por um novo que gerou expectativa de criar ainda mais aderência, a Pirelli resolveu não arriscar e levou para a etapa seus três pneus mais duros.

Só que quando a F1 chegou a Portimão, encontrou um cenário um pouco diferente do que esperava. Com a pista verde, já que não recebeu nenhuma outra competição desde que a nova superfície foi instalada, e o óleo do novo asfalto não totalmente retirado, em vez de ganhar aderência, a o circuito português ficou mais escorregadio.

Você tem então um cenário com asfalto verde e pneus mais duros da Pirelli, que já são os que menos geram aderência mecânica. O problema está colocado. Vimos durante todo o final de semana do GP de Portugal os carros com dificuldades, com muitas saídas de frente nas entradas das curvas e de traseira nas saídas.

Isso também criou um dilema para equipes e pilotos sobre a utilização dos compostos. Com tantas escorregadas e temperaturas abaixo dos 24°C, o pneu mais macio levado pela Pirelli sofria rapidamente com granulação (ou “graining”, em inglês), que é quando pedaços da borracha se soltam e grudam na banda de rodagem, prejudicando a aderência por algumas voltas. E o mais duro não produzia temperatura suficiente nas primeiras voltas. Assim, o médio acabou sendo o pneu mais competitivo.

Por isso, vimos na classificação Hamilton e Bottas partindo para suas voltas no Q3 com pneus médios, algo bastante incomum. E mais, o inglês percebeu que com a temperatura da pista abaixo dos 24°C, os médios também tinham alguma dificuldade de alcançar a faixa de temperatura ideal para seu funcionamento, assim, ele apostou em fazer duas voltas rápidas em sequência, com uma lenta no meio, enquanto Bottas fez apenas uma volta lançada no final do Q3. O resultado foi a pole na segunda volta de Hamilton.

Consequências na corrida

Hamilton, Bottas e Leclerc, que saía em quarto, apostaram em largar com os pneus médios, com os quais fizeram o Q2. Verstappen largou com os macios. Bem na hora da prova, uma leve garoa caiu no Circuito do Algarve, derrubando ainda mais a temperatura da pista e dos pneus.

Ao apagar das luzes vermelhas, vimos as Mercedes logo enfrentando dificuldades com os pneus médios, sem conseguir a melhor aderência. Leclerc teve o mesmo problema na sua Ferrari, caindo de quarto para oitavo nas duas primeiras voltas.

Sainz, Leclerc e Norris na briga durante a primeira volta do GP de Portugal de 2020
Sainz, Leclerc e Norris na briga durante a primeira volta do GP de Portugal de 2020 (Foto: McLaren)

E aí veio atrás quem tinha pneus macios, que naturalmente chegam à temperatura ideal mais rápido. Verstappen e Pérez eram os que vinham logo depois das Mercedes neste momento e tinham tudo para pular na frente nas primeiras voltas. Só que os dois se esbarraram na curva quatro da primeira volta e o mexicano rodou. Albon, que largou em sexto, pulou mal mesmo com compostos macios.

Surgiram então as duas McLaren, de Carlos Sainz e Lado Norris, que largaram em sétimo e oitavo. Os dois passaram Albon logo na primeira curva. Leclerc também não resistiu com seus médios.

Verstappen a princípio conseguiu seguir em frente em terceiro após o toque com Pérez, mas perdeu ritmo nas curvas seguintes, principalmente por ficar mal posicionado em termos de traçado, e acabou superado por Sainz. Hamilton cometeu um erro na entrada da curva cinco e chegou a sair do traçado. Bottas aproveitou para tracionar melhor e ultrapassou o inglês poucas curvas depois.

Escorregando na pista com seu pneu médio, Hamilton ainda viu Sainz mergulhar por fora na 11 para tomar a segunda posição. Na confusão para encontrar o melhor traçado com tão pouca aderência, Verstappen, mesmo com pneus macios, também perdeu a quarta posição para Norris.

Bottas até completou a primeira volta na ponta, mas ainda sem temperatura nos pneus médios, também foi superado por Sainz na segunda volta. Mais atrás, aproveitando os vários carros do meio do pelotão que resolveram largar com pneus médios, Raikkonen, de macios, saiu de 16º para sexto na abertura da segunda volta.

A normalização da prova

O problema é que essa situação toda durou pouco tempo. Após as cinco primeiras voltas, os pneus médios alcançaram a temperatura ideal de funcionamento enquanto os macios, como já era esperado, passaram a sofrer granulação. Então, o GP de Portugal continuou movimentado com vários carros que perderam rendimento nas duas primeiras voltas recuperando suas posições.

As Mercedes retomaram as duas primeiras colocações. Leclerc também entrou no ritmo e na 12ª volta já era quarto de novo. E apenas Verstappen, com sua Red Bull, se segurou entre os primeiros com os pneus macios. Raikkonen, na 10ª volta já caía para nono, e na 11ª passagem parou nos boxes para trocar os compostos macios pelos médios.

E a partir daí, a corrida entrou em um ritmo mais normal depois de 10 voltas bastante agitadas. Na frente, Hamilton mais uma vez mostrou que tem uma sensibilidade muito maior de manutenção e condução dos pneus e ultrapassou na pista Bottas na 20ª volta. No momento de sua parada, na 40ª passagem, ele já tinha 10 segundos de vantagem para o companheiro.

Lewis Hamilton se tornou o maior vencedor da F1 na história (Foto: Steve Etherington/Mercedes)

Hamilton colocou os pneus duros para as voltas finais, acreditando que com a elevação da temperatura da pista, eles eram mais confiáveis para as últimas 26 voltas. Lembrando que por regulamento, ele não poderia repetir os médios. Bottas chegou a perguntar para a equipe sobre colocar os macios para tentar algo diferente, mas com medo dos compostos não aguentarem, a Mercedes preferiu colocar o finlandês na mesma estratégia.

A escolha se mostrou acertada pelo ritmo de Pérez e Albon, que pouco depois partiram para stints de mais de 20 voltas com os macios no final, e sofreram com granulação e desgaste. O mexicano que era quinto faltando cinco giros, terminou em sétimo. Albon foi apenas o 12º.

No final, Hamilton cruzou a linha de chegada com impressionantes 25 segundos de vantagem para Bottas, mesmo tendo assumido a ponta apenas na 20º de 66 voltas. Uma bela maneira de conquistar a 92ª vitória na F1 e se isolar como o maior vencedor de todos os tempos.

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