Al Unser Jr e Scott Goodyear protagonizaram a chegada mais acirrada da história da Indy 500 em 1992
(Foto: IMS)

Cronometragem errou no recorde da chegada da Indy 500 de 1992?

O final das 500 Milhas de Indianápolis de 1992 foi um dos mais incríveis da história. E até hoje é o mais apertado da tradicional prova da Indy, com a vantagem de apenas 0s043 do vencedor Al Unser Jr para o segundo colocado, Scott Goodyear. Bem, essa informação é pelo menos a que entrou no livro de recordes oficial, mas talvez não seja exatamente verdadeira.

E mais: a chegada, na verdade, foi muito provavelmente ainda mais próxima, o que deixaria o recorde mais impressionante. E essa diferença aconteceu por conta de uma questão incomum na forma como os carros desses dois pilotos estavam sendo acompanhados pela cronometragem oficial.

Acontece que os transponders – uma espécie de sensor colocado em cada carro que marca a passagem pela cronometragem da linha de chegada – não estavam posicionados no mesmo lugar nos dois monopostos. Segundo informação publicada no jornal New York Times de 3 julho de 1992, o carro de Al Unser Jr estava levando o equipamento em uma área mais à frente no chassi, no bico, enquanto que o de Goodyear estava no sidepod lateral, logo à frente da posição do piloto, o que era considerado o padrão.

Ou seja, quando os carros cruzaram a linha de chegada, a cronometragem não pegou exatamente quando as mesmas partes deles passaram. Isso poderia ter acabado em uma polêmica enorme, já que a situação abriu a possibilidade para talvez Goodyear terminar a corrida alguns centímetros na frente, mas não vencer na cronometragem oficial. Felizmente para os organizadores, as imagens mostram claramente que Al Jr passou na frente.

Quem apontou a “falha” foi o diretor técnico da Usac (United States Auto Club), Mike Devin. Na época, ele ainda explicou foi possível checar a vantagem de Al Jr de forma mais apurada cronometrando no VT a velocidade relativa dos dois carros descendo a reta final. E assim, ele calculou que a vantagem do vencedor foi ainda menor do que a registrada oficialmente, de 0s0331.

Apesar da correção histórica, a organização das 500 Milhas na época admitiu a possibilidade da diferença não ter sido aferida da maneira mais correta, mas deixou claro que não faria nenhuma alteração no resultado final da prova. Por isso, no livro de recordes de Indianápolis, até hoje consta que a chegada mais próxima da história da corrida foi entre Al Jr e Scott Goodyear pela margem de 0s043.

https://www.youtube.com/watch?v=D6z5m_MKj3E

É bom lembrar que essa não foi a primeira polêmica importante envolvendo a cronometragem das 500 Milhas de Indianápolis. Em 1966, Jim Clark liderava a prova quando precisou de um pit stop no trecho final de corrida. Na conta da equipe Lotus, ele tinha uma volta de vantagem para o segundo colocado, Graham Hill. Só que para a organização, Hill tomou a ponta enquanto o rival estava no box.

Assim, Graham Hill recebeu a bandeira quadriculada na frente e restou a Colin Chapman e a Lotus apenas protestar. A organização da Indy 500 até demorou, mas confirmou o resultado com Hill à frente no dia seguinte. Como a cronometragem da época era manual, até hoje existe uma dúvida que paira sobre esse resultado, uma das joias da tríplice coroa do automobilismo de Hill.

Edição de 1992 foi uma das mais malucas da Indy 500

Muita coisa aconteceu naquele mês de maio de 1992 em Indianápolis. Para começar, dois acidentes chocantes. No dia 6, um dos recordistas de vitórias da prova, Rick Mears bateu forte na curva dois após rodar quando um vazamento jogou água nas rodas traseiras de seu Penske. O carro capotou e ficou de cabeça para baixo enquanto deslizava pela reta oposta. O piloto, no entanto, sofreu apenas uma pequena fratura no pé e uma torção do pulso.

Mears conseguiu se recuperar a tempo para se classificar e participar da prova. No final, ele não completou com problemas mecânicos. A corrida de 1992 marcaria sua última vez em Indianápolis, já que ele se aposentou ao final daquela temporada da Indy.

No dia seguinte, um novo acidente deixou todos ainda mais apreensivos. O tricampeão da F1 Nelson Piquet fazia a preparação para sua primeira 500 Milhas quando rodou na curva quatro e bateu forte no muro. O brasileiro sofreu sérias lesões nas duas pernas e foi levado imediatamente para o hospital de Indianápolis para cirurgia. Sem condições, ele não conseguiu participar da corrida daquele ano, adiando a estreia para o ano seguinte.

https://www.youtube.com/watch?v=-2GrYBJR3lY

Na classificação, com um conjunto Lola- Buick da equipe King Motorsports, o colombiano Roberto Guerrero surpreendeu a todos ao cravar a pole position para a corrida, superando os Lola-Ford de pilotos mais experientes como Eddie Cheever, segundo colocado, Mario Andretti, terceiro, e Arie Luyendyk, quarto.

Os futuros protagonistas da Indy 500

Aos 30 anos de idade e campeão da Indy em 1990, Al Unser Jr ainda buscava sua primeira vitória nas 500 Milhas de Indianápolis. O tabu já começava a incomodar o jovem talentoso, filho de Al Unser, que ao lado de Mears e AJ Foyt é até hoje um dos recordistas de vitórias da prova, com quatro. Al Jr tinha passado perto em 1989, quando acabou perdendo a briga com Emerson Fittipaldi após uma dividida pela liderança a duas voltas do final que acabou com o americano no muro.

Aquele, no entanto, parecia que não seria o ano de Al Jr.. O conjunto Galmer-Chevrolet da equipe Galles-Kraco não se mostrava entre os mais rápidos durante os treinos. O chassi era normalmente mais competitivo em mistos e ovais curtos do que em traçados mais rápidos como o de Indianápolis, e o motor Chevrolet ainda sofria com falta de potência. Para se ter ideia, apesar de equipar 23 dos mais de 40 carros inscritos, nenhum conjunto com propulsor da marca ficou entre os oito primeiros do grid. Mesmo assim, ele conseguiu até que uma boa posição para a largada, com o 12º posto.

E se a situação não era exatamente promissora para Al Unser Jr, o horizonte também não era dos melhores para Scott Goodyear. Com o conjunto Lola-Chevrolet da equipe Walker Motorsports, ele não conseguiu sequer se classificar para a prova após sofrer o “bump” por Ted Prappas a apenas seis minutos do final do “Bump Day” (tradicional sessão classificatória que define as últimas posições grid) por apenas 0s089.

Parecia que era o fim. Mas durante a semana entre a classificação e a corrida, a equipe Walker tomou a sempre polêmica decisão de fazer uma substituição. Pelo regulamento das 500 Milhas de Indianápolis, quem se classifica para a prova é o carro e não o piloto. Assim, o time achou melhor tirar Mike Groff, que tinha conseguido colocar o seu #15 na prova, para dar a chance de Goodyear correr.

A escolha foi feita baseada no fato de Groff ser piloto para apenas algumas provas enquanto Goodyear ser competidor regular para toda a temporada da equipe, o que passava mais confiança tanto técnica quanto comercial para time e patrocinadores. Só que de qualquer forma, por conta da mudança, ele teria que largar na 33ª e última posição do grid.

A corrida

O domingo da Indy 500 de 1992 começou maluco antes mesmo da largada. A temperatura estava próxima de 0°C e por isso pilotos e equipes estavam preocupados com os pneus. Nas voltas de aquecimento antes da bandeira verde, fazendo o tradicional zigue-zague para preparar os pneus, o pole Roberto Guerrero rodou no meio da reta oposta e bateu seu carro, abandonando a prova antes mesmo da largada.

Poucos segundos depois, o novato Philippe Gache também rodou ainda nas voltas de formação, na curva quatro. Diferente de Guerrero, no entanto, o piloto da equipe Dick Simon Racing não chegou a bater no muro e retornou à pista para conseguir largar. Mas isso era uma prova da condição difícil que os pilotos estavam enfrentando com a falta de aderência dos pneus no frio intenso.

Quando a corrida finalmente começou, Michael e Mario Andretti logo foram para cima de Cheever, tecnicamente o segundo do grid. Michael passou a dominar a prova e chegou a abrir uma vantagem de cerca de 30 segundos para o segundo colocado perto da metade da corrida. E mesmo quando perdia a vantagem por conta das várias bandeiras amarelas, o jovem Andretti mostrava que estava com seu carro extremamente bem acertado e sempre abria vantagem de novo com facilidade para o pelotão novamente.

Aproveitando a corrida cheia de acidentes e abandonos, com um bom rirmo e fazendo bom proveito da estratégia, Scott Goodyear ia fazendo uma recuperação incrível saindo da última posição. Na segunda metade da prova, ele já estava entre os dez primeiros. Al Unser Jr, mesmo não tendo um carro entre os melhores em termos de velocidade pura, também mostrou ótima constância para subir o pelotão e também aparecer entre os primeiros colocados, chegando a liderar em algumas janelas de pit stops.

Faltando 12 voltas para o final, Andretti liderava com folga, enquanto, 28 segundos atrás, Al Jr conseguia ultrapassar Goodyear pela segunda posição. No giro seguinte, a famosa maldição da família Andretti em Indianápolis atacou e, depois de mandar em toda a prova, Michael sofreu uma quebra na bomba de combustível de seu carro, abandonando a corrida.

A relargada após a retirada do carro de Andretti aconteceu a sete voltas do final, e aí o público em Indianápolis assistiu à uma incrível briga até a linha de chegada com Al Unser Jr tentando segurar Scott Goodyear. O piloto da Walker tentou de tudo para pressionar o rival, mas só conseguiu uma chance de ultrapassagem clara ao sair da curva quatro na última volta.

Ele colocou seu carro ao lado do líder e os dois cruzaram a linha de chegada praticamente juntos, com a cronometragem apontando a vitória de Al Unser Jr por apenas 0s043. O número final da diferença na linha de chegada acabou se tornando questionável, mas o recorde da Indy 500, seja o oficial ou o calculado semanas depois, segue sem ser quebrado até hoje.

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