Com Leclerc e Sainz, Ferrari aposta em uma das duplas mais jovens de sua história
Apenas dois dias depois de anunciar que Sebastian Vettel não seguiria na equipe em 2021, a Ferrari fechou a contratação e Carlos Sainz Jr para a vaga do alemão. O espanhol, atualmente com 25 anos, formará ao lado de Charles Leclerc, 22, uma das duplas mais jovens da história da escuderia.
Quando alinharem para a temporada de 2021, os dois terão 26 e 23, respectivamente. Não é um perfil normal para a Ferrari, ainda mais nas últimas décadas, em que pilotos mais experientes como o próprio Vettel, Alonso e Raikkonen foram contratados. Mesmo alguns considerados jovens já chegaram com mais idade, como Felipe Massa, 24 em 2005, Rubens Barrichello, 28 em 2000, Michael Schumacher, 27 em 1996, e Jean Alesi, que competiu no time em 1991 aos 26.
Além disso, mesmo quando o time teve pilotos jovens, normalmente sempre balanceou com um companheiro mais experiente. Nos anos 60, a Ferrari teve o mexicano Ricardo Rodríguez, o piloto mais novo a competir pela organização de Maranello na F1, com 20 anos em 1961, porém, com parceiros como Phil Hill, de 34, Wolfgang von Trips, 33, e Richie Ginther, 31.
Ao procurarmos na história, vamos achar um paralelo apenas em 1968, quando Chris Amon, aos 24 anos, e Jacky Ickx, aos 23, alinharam juntos pela Ferrari. O próprio Ickx, em 1970, aos 25, também teve um parceiro relativamente novo, Ignazio Giunti, de 29. Antes disso, em 1953, a escuderia chegou a ter no GP da Itália os jovens Mike Hawthorn aos 25 e Umberto Maglioli, 26, porém, em um tempo em que mais competidores poderiam correr pelo mesmo time. Assim, também alinhavam experientes como Alberto Ascari e Nino Farina.
Mesmo em 2007, o time também teve uma dupla relativamente jovem, com Massa aos 25 anos e Kimi Raikkonen aos 27 no começo da temporada, com ambos fazendo aniversário para 26 e 28 duante o campeonato. Porém, em uma situação em que o brasileiro já tinha vencido corridas pelo time em 2006 e Raikkonen era uma estrela da F1 desde, pelo menos, 2003, com dois vice-campeonatos mundiais (03 e 05).
Dentro de histórico, a opção por Leclerc e Sainz é uma mudança bastante brusca de política em relação aos últimos anos, mas em linha com a nova geração da F1, que chegou bastante cedo ao campeonato. Em 2021, Charles Leclerc terá apenas três temporadas no Mundial nas costas, porém, já com vitórias no currículo e, com alguns altos e baixos, se mostrando uma figura carismática e ao mesmo tempo que consegue entregar resultados.
É difícil saber com quantos GPs cada um estará em 2021 pelas dúvidas em torno da temporada de 2020 por conta da crise do novo coronavírus, mas hoje Leclerc soma 42 (com duas vitórias) e Sainz já tem 102, por três equipes diferentes, o que lhe confere certa experiência.
Isso porque Sainz, mesmo aos 25, tem cinco anos na F1. Terá seis em 2021. Com uma trajetória de altos e baixos, mostrou consistência na McLaren em 2019 ao liderar a equipe em uma boa temporada. Mesmo faltando uma história de triunfos ou até sendo superado constantemente por seus companheiros, parece ser uma aposta da Ferrari de ter uma equipe sem os egos de pilotos mais consagrados, jovem e ao mesmo tempo já com alguma rodagem.
A louca trajetória de Sainz até a Ferrari
A carreira de Carlos Sainz sofreu diversos solavancos durante os anos, mas parece que tudo sempre conspirou a favor do espanhol. Piloto do programa de desenvolvimento da Red Bull, ao final de 2014 ele não tinha muita certeza do que faria, já que mesmo com título da F-Renault 3.5, ele não tinha espaço dentro do organograma da companhia. Provavelmente seguiria para Super Fórmula Japonesa aguardar uma oportunidade.
Só que a decisão de Sebastian Vettel deixar a Red Bull (curioso como as coisas se repetem, não?) e assinar com a Ferrari para o ano seguinte criou um efeito dominó dentro do time austríaco. Daniil Kvyat foi promovido para a equipe principal da empresa de energéticos ao lado de Daniel Ricciardo, e Sainz foi chamado de última hora para fazer parceria com Max Verstappen na Toro Rosso.
Ao final de 15, ele foi amplamente superado pelo holandês, 49 pontos contra 18, mas não chegou a ser ameaçado dentro do time por falta de uma opção imediata. Em 2016, aconteceu a troca entre Kvyat e Verstappen. Até aquele momento, mais uma vez ele estava atrás do parceiro, 13 a 4 após a quarta etapa. Contra um combalido Kvyat pelo rebaixamento à Toro Rosso, no entanto, ele se destacou, batendo o russo frequentemente.
Em 2017, Sainz andou a maior parte do ano novamente pela Toro Rosso, mas vendo que não teria espaço tão cedo na Red Bull, que tinha Verstappen e Ricciardo, ele começou a procurar opções e achou a Renault, que procurava um parceiro para Nico Hulkenberg. A mudança aconteceu por empréstimo para as últimas quatro corridas do ano e no geral, ele conseguiu equilibrar a disputa.
Na temporada seguinte, ele foi superado pelo alemão, 69 a 53. Como a Renault conseguiu a contratação de Daniel Ricciardo para 2019, ele ficaria sem vaga no grid, mas em uma negociação que envolveu Red Bull (com quem ele ainda tinha contrato), Renault e McLaren, ele partiu para o tradicional time inglês. Lá, no ano passado, sem dúvida nenhuma teve sua temporada mais forte, terminando na sexta posição no campeonato de construtores e premiado com um pódio no GP do Brasil, seu primeiro na F1.
Agora, o filho de uma das maiores lendas do rali, que também tem o nome Carlos Sainz, o espanhol terá que mostrar que tem o que é necessário para andar em um carro de ponta como a Ferrari ao lado de uma das principais revelações da F1 nos últimos anos.
McLaren age rápido e garante Ricciardo
Como consequência de toda a movimentação na Ferrari, uma vaga na McLaren, equipe que ficou com a quarta posição no campeonato de construtores em 2019, se abriu para 21. E o time inglês não demorou para se garantir e foi atrás de Daniel Ricciardo.
O australiano era um dos candidatos na Ferrari para a vaga de Vettel, mas foi preterido. Após sua primeira temporada na Renault em 19, os resultados foram longe do que ele esperava e assim, um ano após trocar a Red Bull pela marca francesa para teoricamente liderar o projeto de reconstrução, ele muda novamente de ambiente.
Em 2021, a McLaren terá os motores da Mercedes, deixando os atuais da Renault, que ainda irão equipar a escuderia de Woking em 2020, no caso da temporada retornar após a pandemia. Pode parecer um movimento lateral do australiano, mas mostra também certa desconfiança sobre o projeto de médio prazo da montadora.
Agora, a bola está nas mãos da Renault, que é a próxima a precisar procurar por um novo piloto após todo este movimento desencadeado pela saída de Vettel da Ferrari.
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