Ronnie Peterson: o ícone da velocidade pura da F1 nos anos 70
Em 11 de setembro de 1978, o mundo do automobilismo foi surpreendido pela triste notícia da morte de Ronnie Peterson, o “Super Sueco”, um dia depois de um forte acidente no GP da Itália.
A informação pegou a todos de forma quase que desprevenida porque na noite anterior os médicos do hospital Niguardia, de Milão, afirmaram que Peterson tinha passado por uma cirurgia nas pernas devido às múltiplas fraturas, mas que não corria risco de morte.
Pela manhã, no entanto, foi anunciado que fragmentos ósseos tinham entrado no sistema circulatório e causado embolias. O estado, que parecia bom na noite anterior, se agravou pela madrugada. Ele perdeu a consciência, com dificuldade para respirar, precisou ser entubado, e após uma insuficiência renal aguda, morreu às 9h55.
Uma grande comoção tomou conta da F1, que perdia um de seus principais talentos, ícone de um estilo de pilotagem arrojado, que fazia o público suspirar nas arquibancadas com sua forma agressiva de encarar as curvas, sempre com a traseira do carro deslizando.
A carreira de Peterson
Não é à toa que apesar de suas estatísticas sem grandes números, com apenas 10 vitórias, Peterson, assim como Gilles Villeneuve até o começo da década de 80, é sempre lembrado por aqueles que acompanharam a F1 nos anos 70.
O sueco era basicamente um piloto rápido e que arriscava muito nas curvas. Por outro lado, em uma era em que a sensibilidade do piloto ainda contava muito para o desenvolvimento do carro, ele não tinha a característica de grande acertador. Colin Chapman não escondia sua frustração em muitas vezes não conseguir arrancar de seu piloto quais eram as reações do carro. Porém, reconhecendo sua velocidade, soube tirar o que ele tinha de melhor ao coloca-lo com companheiros que sabiam conduzir este processo, principalmente em 1973 com Emerson Fittipaldi e 78 com Mario Andretti.
“Ele brincava nos treinos, enquanto Emerson trabalhava no seu acerto. Depois, copiava o acerto e conquistava a pole. Isso deixava Emerson louco, mas você não podia culpa-lo…”, disse Chapman, segundo um perfil publicado na revista inglesa Motorsport.
O começo de Peterson na F1 foi, em 1970, foi em uma equipe cliente da March. Bons desempenhos lhe renderam uma promoção para o time oficial da construtora inglesa. Lá, ele conquistou o título da F2 em 71 e terminou com um incrível vice-campeonato da F1.
Dois anos depois, o sueco foi contratado pela Lotus para ser companheiro de Fittipaldi. Ele terminou o campeonato em terceiro, apenas três pontos atrás do brasileiro e com quatro vitórias. Na temporada seguinte, ele massacrou o novo parceiro de time, Jacky Ickx. Após um começo difícil com o novo Lotus 76, a equipe voltou a utilizar o modelo 72 e ele conquistou mais três triunfos, apesar de não ter tido condições de brigar pelo título.
Como diversos outros pilotos que passaram pelo Lotus, Peterson teve uma relação conturbada com Chapman. Isso fez com que ele deixasse a organização para 76, quando voltou a guiar pela March, conquistando nova vitória, em Monza. Na temporada seguinte, ele foi amplamente superado pelo novo parceiro, Patrick Depailler, em um ano complicado na Tyrrell, que não conseguiu evoluir o seu P34 de seis rodas.
Em 78, para a surpresa de muita gente, Peterson retornou à Lotus para ser companheiro de Mario Andretti. Desta vez, porém, ele era o segundo piloto do ítalo-americano por contrato. Assim, ele era proibido de atacar o companheiro durante as corridas. A equipe dominou o campeonato com seu 79, modelo que evoluiu exponencialmente os conceitos de carro-asa e utilização de efeito solo na F1.
Os dois pilotos fizeram quatro dobradinhas e sobraram no Mundial. Apesar de críticas de parte da imprensa, Peterson nunca deixou de respeitar o acordo que tinha internamento com o time.
“Ele sabia muito bem que Mario tinha trabalhado duro para fazer a Lotus voltar ao topo, ele deveria ter vencido o campeonato em 77, ele mereceu o título. Ronnie era um grande piloto, mas devia muito a Mario, ele sabia disso. Foi Mario que fez o Lotus 79 ser o carro que era, e Ronnie se beneficiou disso, e sabia disso. Ele era um homem honrado”, explicou Chapman.
Mesmo assim, era sabido que o sueco se incomodava com a situação e que já tinha em mãos uma oferta para ser o piloto número um da McLaren em 1979.
Acidente e morte
Andretti chegou ao GP da Itália, em Monza, precisando de apenas marcar seis pontos a mais que Peterson para conquistar o título com três etapas de antecipação. Com o acordo interno de não ataque, todos sabiam que era questão de tempo. Para complicar ainda mais a situação do sueco, ele danificou seu carro nos treinos livres e precisou partir para o restante do final de semana com um antigo modelo 78. Assim, enquanto o americano saiu na pole, ele ficou apenas com a quinta posição.
Na corrida, ele não teve chance de tentar uma recuperação. Poucos segundos depois de Andretti e Villeneuve alinharem na primeira fila, o diretor de provas, Gianni Restelli, acionou o sinal verde, quando muitos carros do pelotão intermediário sequer tinham parado em suas posições para a largada. Com os carros ainda andando, os concorrentes que vinham de trás saíram mais lançados e vários veículos chegaram lado-a-lado ao final da reta, quando ela afunilava para a primeira chicane do traçado italiano.
Na confusão, Riccardo Patrese tentou se aproveitar na largada e ultrapassar adversários pela beirada da pista e acabou tocando em James Hunt. A McLaren do inglês acertou a Lotus de Peterson e vários outros carros se envolveram no acidente. O Lotus de Peterson chegou a pegar fogo e ele foi tirado do cockpit por Hunt, Clay Regazzoni e Depailler.
Um cenário de caos se instalou em Monza. O atendimento médico demorou mais de 20 minutos para chegar ao local, mesmo este sendo a poucos metros dos boxes, por conta da quantidade de pessoas que se aproximaram e pela forma truculenta como os comissários italianos tentaram afastar os curiosos. Quando chegaram, a prioridade dos médicos foi Vittorio Brambilla, que estava desacordado dentro do carro após ser acertado na cabeça por uma roda.
Apesar do fogo, Peterson sofreu apenas leves queimaduras, mas suas pernas ficaram gravemente feridas. Na pista, Hunt o segurava no colo e tentava o distrair para ele não olhar para seus membros inferiores esfacelados.
O sueco, assim como diversos outros pilotos que se machucaram no acidente, foram levados ao hospital. Ele passou por exames de raio-x que mostraram 27 fraturas nas pernas e pés. Segundo relatos, os médicos locais demoraram para se entender sobre o procedimento que deve ser realizado nas pernas do piloto. O próprio Peterson, consciente o tempo todo, participou da discussão e chegou-se à conclusão de que o máximo de fraturas deveria ser estabilizado. O sueco, no entanto, acabou perdendo a vida por conta de uma embolia.
A esposa de Peterson, Barbro, chegou a Milão quando ele já tinha morrido e foi informada por Emerson Fittipaldi e sua esposa, Maria Helena. Três dias depois, o caixão do “Super Sueco” foi levado por Jody Scheckter, Emerson, Niki Lauda, Hunt, John Watson e o compatriota Gunnar Nilsson.
Brambilla e recuperou do acidente. Hunt chegou a acusar Patrese de ter realizado uma manobra irresponsável. Na visão do inglês e de alguns outros pilotos, o italiano teria causado o acidente. Ele foi impedido de correr na prova seguinte, nos Estados Unidos, e chegou a ter que responder um processo criminal, junto o diretor de provas, Gianni Restelli, pela morte de Peterson, mas ambos foram absolvidos.
Peterson terminou como vice-campeão póstumo de 1978. Andretti ficou com o título, mas admitiu à época que perder o companheiro, de quem se tornou próximo durante aquela temporada, fez com que sentisse sentimentos bastante contraditórios. “Não foi justo ter uma tragédia conectada a o que deveria ter sido o dia mais feliz da minha carreira. Eu não podia celebrar, mas, ao mesmo tempo, sabia que aquele troféu ficaria comigo para sempre. Eu também sabia que Ronnie teria ficado contente por mim”, declarou.
O sueco, de qualquer maneira, é sempre lembrado como um dos pilotos mais habilidosos a terem passado pela F1.
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