Helio Castroneves celebra vitória na Indy 500 de 2021
(Foto: IndyCar)

De onde vem a tradição do leite ao vencedor da Indy 500

Uma das tradições mais marcantes e particulares da Indy 500 é o vencedor da prova beber alguns goles de leite, direto da garrafa, na cerimônia de premiação. A ação começou na década de 30, quase sem querer, teve um pequeno hiato, algumas polêmicas, mas é impossível pensarmos um final das 500 Milhas de Indianápolis sem esse momento.

É verdade que por mais de 60 anos, o leite na cerimônia de premiação das 500 Milhas de Indianápolis é uma ação de marketing. Porém, é interessante constatar que a tradição começou por uma vontade genuína de um piloto.

Louis Meyer tinha sido criado pela mãe com a cultura de sempre beber leitelho, aquele líquido que sobra da produção de manteigas e que possui uma porcentagem de gordura menor que o do leite, para matar a sede. Nos Estados Unidos, ele é conhecido como Buttermilk.

Sendo assim, ao final da Indy 500 de 1936, após vencer a prova pela segunda vez, ele pediu para lhe trazerem uma garrafa de leitelho para se reidratar após as mais de quatro horas de corrida.

Vendo a cena nas principais fotos dos jornais no dia seguinte, um executivo de marketing da Milk Foundation, que reunia alguns dos principais produtores de leite do centro-oeste americano, viu uma oportunidade interessante. No ano seguinte, ele convenceu a organização das 500 Milhas de Indianápolis a repetir a cena, dando uma garrafa de leite ao vencedor. O curioso é que não existia nenhum patrocínio ou incentivo monetário. Foi apenas uma questão de convencimento de aquele momento poderia se tornar uma tradição única da prova.

A ação se repetiu até a última Indy 500 antes da II Guerra Mundial. A corrida deixou de ser realizada entre 1942 e 45. Quando voltou, em 46, ela não foi retomada. O novo presidente do autódromo de Indianápolis, Wilbur Shaw, preferiu entregar ao vencedor água gelada em uma taça de prata. Nela estava escrita “Água de Wilbur”. A ação, inclusive, ficou conhecida como a “Taça de Wilbur”.

Em 54, após Shaw morrer em um acidente de avião, a ideia do leite voltou à pauta. A associação da Indústria de Leite Americana (ADI) aceitou desta vez patrocinar o momento pagando U$ 400 para o vencedor da corrida e $ 50 para seu mecânico chefe beberem um gole de leite gelado na cerimônia de premiação, minutos depois da bandeira quadriculada. Assim, também passou a existir o slogan “Leite, a bebida dos vencedores”. Importante lembrarmos que estamos falando dos anos 50, e que mesmo que o valor não fosse uma fortuna, tinha um valor muito maior do que o número simples seria hoje.

Curiosamente, dois anos depois, o leite das 500 Milhas de Indianápolis voltou a ser um pedido do vencedor que ia além do marketing, como aconteceu em sua estreia, duas décadas antes. Acontece que o vitorioso de 1956, Pat Flaherty, sofria de uma pequena insuficiência de cálcio. Por isso, ele precisava beber regularmente leite.

Assim, durante a cerimônia de premiação da prova, ele bebeu a garrafa inteira de leite que era entregue vencedor da corrida, ao contrário de dar apenas um gole, como a maioria dos pilotos faziam. E ele não parou por aí. Com todo o desgaste de uma prova que durou 3 horas e 53 minutos, ele pediu ainda uma segunda garrafa, também consumida por inteiro.

A polêmica de Emerson Fittipaldi na Indy 500 de 1993

Em 1993, Emerson Fittipaldi criou uma grande polêmica sobre a questão do leite. Na época, além de produtor de suco de laranja, ele tinha fechado um contrato com associação de produtores do Brasil para tomar uma garrafa do suco da fruta toda vez que vencesse uma corrida na Indy.

Sendo assim, quando chegou na cerimônia de premiação, ele recusou o leite – inclusive afastando com mão quando um membro da organização chegou com a garrafa – e tomou seu suco de laranja. O público no autódromo imediatamente reagiu e Fittipaldi recebeu vaias. Imediatamente, Roger Penske, dono da equipe de Fittipaldi, agiu e pediu para ele tomar em seguida um gole de leite. Emerson, então, cumpriu a tradição em um segundo momento, mas, já era tarde.

No dia seguinte, todas as fotos nas capas dos jornais americanos da cerimônia de premiação eram com o brasileiro segurando um suco laranja. A imagem de Fittipaldi, assim, sofreu muito com o público local. Como reação, a Indústria Americana do Leite, sem qualquer aviso, resolveu pegar o dinheiro da premiação que normalmente ia para o vencedor da corrida e doou para instituições de caridade de sua escolha.

Alguns também acreditam que ação de Fittipaldi teria gerado uma pequena maldição. Na prova do ano seguinte, o brasileiro liderava com tranquilidade a corrida. Faltando 15 voltas para o final, ele estava logo atrás do segundo colocado, Al Unser Jr, para aplicar uma volta. Ele então cometeu um erro sozinho e bateu no muro, perdendo uma prova que parecia praticamente ganha.

Pilotos podem escolher o tipo de leite

A tradição do leite na Indy 500 se tornou algo tão poderoso que, com exceção de Fittipaldi, não foi ignorada por nenhum outro piloto. E isso inclui alguns que tinham intolerância a lactose ou até que não gostam muito da bebida, ainda mais gelada e pura.

De qualquer maneira, aquele golinho apenas para a foto, seguido muitas vezes de um banho, no estilo champanhe da F1, passou a estar sempre na celebração assim que os pilotos dessem de seus carros.

Pelo menos, a organização começou a dar uma opção aos pilotos. Antes da prova, todos os 33 pilotos avisam se preferem o leite 2% ou com zero gordura. Desta forma, ao final da prova, eles já recebem o leite que melhor encaixa ao seu gosto.

De qualquer maneira, gostando ou não do leite, é impossível ignorar que a bebida, depois de tantas décadas, acabou realmente se tornando sinônimo de uma das vitórias mais importantes que qualquer piloto pode conquistar no automobilismo.  

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