Troféus Chapman e Clark: quando a F1 inventou uma copa só para pequenos
Nos últimos tempos, os descontentes com a atual configuração do trem de força da F1, com turbo e sistemas de recuperação de energia, já deram a ideia de um regulamento que permitisse as equipes da categoria optarem pelo caminho que quisessem quanto ao equipamento.
Algumas poderiam seguir com o atual propulsor enquanto outras, para reduzir seus custos, poderiam escolher os antigos V8. A sugestão aparece muito em fóruns de discussão de fãs e redes sociais, mas nunca foi sequer debatida entre os dirigentes que escrevem as regras do Mundial.
A ideia parece até meio absurda, dado a diferença de desempenho, já que os atuais V6 turbo híbridos são muito mais potentes que os antigos V8 e ainda possuem uma eficiência de consumo de combustível bem maior. Mas é curioso pensar que no passado a F1 já passou por algo parecido de olho em uma mudança futura no regulamento.
Nos anos 80, os motores turbo dominaram a F1. A discrepância para os aspirados, ao final da primeira metade da década, era tanta que a FIA resolveu em 1986 obrigar todas as equipes a competirem com a tecnologia, restringindo, porém, o consumo de combustível.
Só que uma mudança de pensamento veio logo a seguir. De olho nos custos e na força dos propulsores (por questões de segurança), a entidade começou a preparar a F1 para uma guinada que seria um futuro banimento dos turbos.
E o começo dessa preparação aconteceu em 1987, com o imediato retorno dos motores naturalmente aspirados. Os turbos ainda foram bastante restringidos em relação ao consumo, o que causou uma disparada dos custos e fez com que poucos equipamentos ficassem à disposição.
De olho no problema e para incentivar a adoção dos aspirados, principalmente por equipes médias e pequenas, a FIA criou então uma subdivisão dentro de seu campeonato com uma disputa paralela para os competidores que escolhessem seguir por esse novo caminho.
Assim foram criados os Troféus Colin Chapman e Jim Clark. O primeiro para premiar a melhor equipe com motor aspirado e o segundo para o piloto de um desses times que marcasse mais pontos. O novo regulamento adotou usinas aspiradas de 3,5 litros, que iriam competir contra os turbo de 1,6 litro dos times grandes.
Os pontos nessas duas Copas seriam distribuídos pela ordem de chegada excluindo os carros com turbo. Apenas quatro equipes foram elegíveis para a nova competição: Tyrrell, Larrousse, AGS e March, todas competindo com motores Cosworth, marca que historicamente era contra os turbocomprimidos. Ao final da temporada, a Tyrrell levou o Troféu Colin Chapman de lavada, com 149 pontos. A segunda colocada, Larrousse, marcou apenas 49.
A campeã, aliás, conseguiu naquele ano um bom desempenho até mesmo se considerarmos a classificação geral, ao terminar em sexto no campeonato de construtores com 11 tentos. A Larrousse, que fazia sua estreia na F1, também conseguiu seus pontos, com três sextos lugares durante o ano, somando três.
Com a grande vantagem da Tyrrell entre os carros de motor aspirado, a competição do Troféu Jim Clark ficou limitada aos pilotos do time, Jonathan Palmer e Philippe Streiff. O inglês terminou com o simbólico título ao marcar 95 pontos, 21 a mais que seu companheiro francês.
Essa foi a única vez que a F1 teve um subcampeonato, como se fosse uma segunda classe, como acontece em Le Mans, por exemplo. Em 1988, os Troféus foram abolidos e os turbo ficaram ainda mais limitados, com a pressão diminuída a 2,5 atmosferas. A essa altura, a FIA tinha anunciado que os turbos seriam definitivamente banidos da categoria a partir de 89, o que seria o fim da primeira era da tecnologia, que retornaria ao Mundial apenas em 2014.
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