Acidente entre Russell e Bottas assustou em Imola
(Imagem: F1/Reprodução)

Sem culpados: entenda a dinâmica do acidente de Bottas e Russell em Imola

Uma das grandes polêmicas do GP da Emília-Romanha do último domingo foi o acidente entre Valtteri Bottas e George Russell. A batida na entrada da chicane Tamburello foi forte e causou a interrupção da prova com bandeira vermelha. Os dois pilotos saíram bem e sem lesões de seus carros.

Logo, foi possível ver nas redes sociais o confronto de visões, com alguns acusando Russell por forçar a ultrapassagem, outros achando que Bottas o espremeu o piloto da Williams. Horas mais tarde, os comissários da etapa apontados pela FIA emitiram um comunicado afirmando que na verdade o lance não passou de um lance de corrida. Ou seja, sem culpados.

A questão aqui é os dois pilotos podem reclamar um do outro e ambos têm pontos a favor de seus argumentos e contra. Sendo assim, não existe muito motivo para apontar o dedo para nenhum dos pilotos.

Existe uma mania das últimas duas décadas na F1 de se querer encontrar culpados para todos os lances e aplicar punições. Essa constante também fez com que os fãs e pilotos esperem que isso aconteça em todo tipo de toque. Só que isso é totalmente desnecessário, já que em muitos momentos uma penalidade se torna um castigo duplo, já que o piloto bateu e ainda perde posições no próximo grid ou coisa assim. Muitas vezes, um erro é um erro. E neste caso específico, é tão difícil jogar a culpa em alguém que seria uma temeridade pensar em punição.

A dinâmica e visão dos comissários

O relatório dos comissários da FIA foi bastante descritivo. Segundo o documento divulgado ainda no domingo, Russell, Bottas e engenheiros foram entrevistados, os diversos ângulos da transmissão de TV foram analisados, além da telemetria dos carros, onde é possível verificar o que os pilotos fizeram nos pedais de acelerador e freio, e volante, o que no caso deste acidente é o mais importante. Veja o que os comissários escreveram na decisão e a dinâmica do acidente:

“O Carro 63 [Russell] se aproximou do carro 77 [Bottas] para ultrapassar após a reta dos boxes algumas voltas depois da relargada, quando o DRS tinha sido recentemente disponibilizado. O carro 77 manteve sua linha durante o incidente no traçado seco, deixando pelo menos a largura de um carro à direita a todo o momento.”

“Carro 63 se aproximou com uma vantagem de velocidade significativa. Ele se mexeu para ultrapassar pela direita. Enquanto os carros se aproximavam da curva 1, o espaço deles para a lateral direita da pista diminuiu. Em nenhum momento, nenhum dos carros se mexeu de forma errática.”

Russel, com a asa móvel aberta, tira para a direita. É possível ver a posição do carro de Bottas para fora da linha de saída do pitlane
Russel, com a asa móvel aberta, tira para a direita. É possível ver a posição do carro de Bottas para fora da linha de saída do pitlane (Imagem: F1/Reprodução)
Depois que Russell já está ao lado da Mercedes, Bottas leva seu carro um pouco mais à direita, como é possível perceber pela maneira como ele ultrapassa a linha de pitlane
Depois que Russell já está ao lado da Mercedes, Bottas leva seu carro um pouco mais à direita, como é possível perceber pela maneira como ele ultrapassa a linha de pitlane (Imagem: F1/Reprodução)
Mesmo ainda deixando a largura de um carro à direita, o movimento de Bottas faz Russell reagir e também desviar um pouco mais para a direita. O inglês acaba levando sua roda para o limite da pista, passando sobre a linha branca e um ponto onde provavelmente o asfalto estava mais úmido (Imagem: F1/Reprodução)

“A pista não parecia estar especialmente molhada na curva 1, mas em um ponto em que se aproximou do lado direito da pista, os pneus do lado direito do carro 63 passaram por uma parte especialmente úmida e o carro rodou, tendo em mente que o carro tinha menos pressão aerodinâmica por estar com o DRS aberta.”

“Os comissários concluíram que o acidente foi um incidente de corrida considerando as condições e não vão tomar nenhuma outra medida.”

Ao pisar fora do traçado ideal, Russell perde o controle de sua Williams e bate na lateral da Mercedes de Bottas (Imagem: F1/Reprodução)

Acusações de Bottas e Russell

Nenhum dos dois pilotos saiu muito satisfeito do acidente e um reclamou do outro. Mas como vimos acima na boa análise feita pelos comissários da FIA no GP da Emília-Romanha, ambos vão ter que repensar suas posições fortes.

“Eu podia ver ele no começo da reta, então percebi que ele foi para a direita”, disse Bottas depois da prova, segundo o site Motorsport. “Vi nos replays que eu deixei espaço para dois carros lá, mas ele obviamente perdeu o controle e bateu em mim. Então, foi fim de jogo. Eu não entendi por que ele reclamou, pois claramente foi erro dele.”

Russell, por lado, não aceitou bem o pequeno movimento de Bottas quando os dois já estavam lado a lado. Na visão do inglês, essa pequena mudança de direção do finlandês o fez sair da linha ideal e causou o acidente.

“Temos um acordo de cavalheiros que quando um carro mais rápido se aproxima com o DRS, você não mexe o volante no último momento”, disse o inglês da Williams, também segundo o site Motorsport. “Eu peguei o vácuo, tirei [para fazer a ultrapassagem], e quando tirei, Valtteri se mexeu um pouco, e isso me tirou da linha e me jogou para um lugar molhado. Em condições perfeitas de seco em um circuito normal, é perigoso. Agora, em uma pista muito estreita quando estamos virando e tem pontos molhados…”

A reação dos dois pilotos acabou sendo um pouco exagerada, apesar de compreensível pela perda dos pontos e a forte pancada. Além disso, é impossível deixar de lado o fato de todo mundo saber que Russell está de olho na vaga de Bottas na Mercedes.

Então ficamos com duas visões: é verdade que Bottas deixou a largura mínima para um carro à direita e tecnicamente seu movimento não infringe nenhuma regra. Foi Russell que perdeu o controle de seu carro e bateu no adversário. Por outro lado, nesta velocidade, o finlandês fez um movimento que causaria reação em qualquer outro piloto ao lado e o fez ir para um ponto da pista fora do traçado seco. É preciso se levar em conta ainda que esta estratégia de tentar diminuir o espaço do rival em uma pista bastante estreita como a de Imola tem seu perigo e cobrou seu preço. Com o DRS, que tira parte da pressão aerodinâmica do carro, a Williams estava ainda mais sensível a este tipo de movimento.

Ou seja, os dois estão certos e errados, dependendo do ponto de vista, e vão ter que entender que têm sua parcela de responsabilidade. Desta vez, ponto para os comissários da FIA.

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