O misterioso acidente de Fernando Alonso em Barcelona em 2015

Em fevereiro de 2015, Fernando Alonso sofreu um dos acidentes mais estranhos da F1 moderna. Durante uma sessão de testes em Barcelona, o espanhol bateu com uma dinâmica incomum, em um lance que até parecia inofensivo. Mas isso o deixou afastado por semanas e o fez ficar de fora de uma corrida. O episódio gerou várias especulações e teorias da conspiração, criando um mistério que dura até os dias de hoje. 

Aquela temporada era um momento de transição para Fernando Alonso. Ele deixava a Ferrari depois de cinco anos, período no qual falhou no objetivo de conquistar seu terceiro título. O espanhol, então, retornaria à McLaren, equipe que considerava ser sua melhor possibilidade em médio prazo de voltar a ser campeão.

Só que aquela também era uma fase de transição para a equipe inglesa. Depois de 20 temporadas como parceira da Mercedes, ela partia para uma nova aliança, revivendo a histórica relação com a Honda. A fabricante japonesa competiria na F1 pela primeira vez desde 2008, e teria pela frente o desafio de se adaptar ao complexo regulamento V6 turbo híbrido, enquanto que as concorrentes já tinham uma temporada inteira de bagagem com a tecnologia, introduzida em 2014. 

Problemas iniciais no carro e o acidente de Alonso

Nos testes de pré-temporada, Alonso e seu parceiro, o também campeão mundial Jenson Button, enfrentaram diversos problemas mecânicos. Os pontos mais problemáticos eram justamente na nova unidade de potência da Honda, sobretudo o sistema elétrico e o MGU-K, parte responsável pela recuperação da energia cinética. Entre 19 e 22 de fevereiro, a F1 realizaria sua segunda bateria de testes, em Barcelona. A Honda se preparou para estrear uma nova versão do MGU-K, na tentativa de resolver os problemas de confiabilidade. 

Foi no último dia da bateria, um domingo, que o acidente aconteceu. Alonso abriu sua 21ª volta no final do turno da manhã, sendo que ele havia registrado na passagem anterior o seu melhor tempo naquele dia. Ao se aproximar da primeira chicane da pista, passou por Sebastian Vettel, da Ferrari, que havia ido pela área de escape naquele ponto. Chegando na curva 3, Alonso fez uma tomada aberta até o lado externo da pista, quando perdeu o controle e repentinamente foi em direção à parte de dentro.

O espanhol bateu de lado no muro interno, sendo que seu carro se arrastou por mais alguns metros até ter um segundo impacto e depois parar de vez. Não parecia ter sido um impacto tão forte, até porque as rodas se mantiveram presas ao carro, e não houve danos maiores à carenagem. Só que Alonso não saiu do cockpit, o que indicava que algo de anormal havia se passado. 

Dinâmica do acidente de Alonso na pré-temporada 2015 da F1 em Barcelona
Dinâmica do acidente de Alonso na pré-temporada 2015 da F1 em Barcelona (Projeto Motor)

O bicampeão precisou ser atendido por uma ambulância, inclusive com o resgate coberto por lençóis. Depois, foi transportado de helicóptero até um hospital. Chegando lá, foi confirmado que o piloto havia perdido a consciência e sofreu uma concussão, mas que depois já esteve “alerta e conversando com os médicos”. Ele também passou por exames e nenhum problema foi detectado, mas ainda assim Alonso permaneceu internado por três dias para observação. Ou seja, não havia sido um acidente como outro qualquer. 

A investigação sobre o acidente

O desdobramento dos fatos provocou muito burburinho entre as pessoas que estavam no autódromo. A McLaren tinha Button de prontidão para substituir Alonso no restante daquele dia, mas decidiu encerrar suas atividades. Já Vettel, que estava um pouco atrás e testemunhou os instantes finais da batida, definiu o lance como “estranho”.

Com tudo isso, até surgiram teorias sobre o que poderia ter acontecido. Pessoas no paddock acreditavam que Alonso tinha tido um mal-estar, como um pequeno AVC, o que explicaria sua internação por tanto tempo. Outra tese que ganhou muita força foi de que Alonso sofreu uma descarga elétrica após a uma falha do sistema de recuperação de energia da Honda – lembrando que a fabricante experimentava uma nova versão de seu MGU-K. Também foi especulada a hipótese de que a bateria teve problemas e soltou uma fumaça, e esta fumaça teria invadido o cockpit e deixado Alonso desorientado e até inconsciente. Nada disso foi oficialmente confirmado.

E o pós-acidente também levantou relatos curiosos, como o de que Alonso acordou falando italiano, ainda pensando que era piloto da Ferrari. Já um jornal espanhol foi além e reportou que o piloto pensava estar em 1995, ainda correndo de kart, e que demorou uma semana para recuperar todas as memórias dos últimos 20 anos. Tanto Alonso quanto a McLaren negaram categoricamente todas estas afirmações, mas ainda assim houve divergências nas versões de cada um. 

Segundo a McLaren, seus sensores não detectaram nenhuma anormalidade, o que descartaria a hipótese de falha no carro. A equipe defendia que o acidente foi causado pelo vento, que desestabilizou o carro e fez Alonso pegar a grama artificial do lado externo, perder o controle e ser arremessado para o lado de dentro, batendo no muro. O vento era forte naquele dia em Barcelona, o que inclusive provocou um acidente de Carlos Sainz na mesma curva pouco depois, já no período da tarde.

Mas Alonso, quando se manifestou pela primeira vez sobre o acidente, rebateu a tese do vento, já que, segundo ele, “nem um furacão moveria o carro daquele jeito”. Ele também negou ter perdido a consciência antes do impacto, e que se lembrava de tudo o que havia acontecido. Ele sentiu o volante pesado, travado à direita, o que indicava que houve sim um problema com o carro. Ao se aproximar do muro, freou forte, reduziu as marchas e desligou a bateria do carro para que os fiscais pudessem realizar a remoção de forma segura, e só depois que ele ficou inconsciente. 

No meio de todas estas versões conflitantes, a McLaren se recusava a revelar os dados do acidente. Segundo a BBC, que teve acesso a estas informações, o espanhol vinha a 215 km/h, mas repentinamente a velocidade cai para 135 km/h, já indo em direção ao muro. Ele bateu a 105 km/h, e teve dois impactos laterais: o primeiro gerou uma desaceleração de 31G, sendo 16G em sua cabeça, e o segundo com 8G no capacete. A FIA iniciou uma investigação, mas dificultava o fato de o acidente não ter sido filmado – já que na época, a pré-temporada não tinha toda a transmissão de hoje em dia. Então foi necessário se apegar às câmeras de segurança do circuito, que são de baixa qualidade de imagem e que não captaram o lance inteiro. 

Alonso foi vetado não somente do restante da pré-temporada, mas também do GP da Austrália, substituído pelo reserva Kevin Magnussen. O temor era de que um segundo impacto de maior força pudesse agravar a sua situação. Ele passou por exames e foi liberado para correr a partir do GP da Malásia, a segunda corrida do ano.

Tudo bem, mas quais foram as conclusões do caso? Aí é que está o mistério: nenhuma explicação oficial foi dada até os dias de hoje. A FIA não divulgou publicamente o resultado de sua análise, e a McLaren também não revelou as suas conclusões definitivas sobre o que se passou. A equipe continuou defendendo que não viu nada de anormal na telemetria, mas dali em diante passou a adotar um sensor extra para captar mais dados em lances futuros. Foi um episódio cercado de incertezas e questões não respondidas, marcando o início confuso de uma relação que se mostraria caótica entre Alonso, McLaren e Honda. 

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