Aston Martin já é representada em provas GT e agora desembarca na F1
(Foto: Aston Martin)

Como a Aston Martin irá voltar à F1 pelas mãos de Lawrence Stroll

O anúncio oficial aconteceu nesta sexta-feira (31), após alguns meses de negociações. O empresário Lawrence Stroll, liderando um grupo de investidores, bateu a concorrência da montadora chinesa Geely e se tornou o mais novo acionista da Aston Martin.

Conhecido no meio do automobilismo como proprietário da equipe Racing Point de F1 e pai do piloto Lance Stroll, o canadense fechou um acordo em que irá injetar imediatamente £ 182 milhões (cerca de R$ 1 bilhão) e passará a ter 16,7% das ações da Aston Martin. O plano de recuperação da empresa já prevê uma rodada de aumento de capital em um mês em que outros £ 318 milhões entrarão na operação, com Stroll aumentando sua participação para pelo menos 20%.

Como consequência, o empresário, que fez fortuna no ramo da moda de luxo investindo em empresas como Pierre Cardin, Ralph Lauren, Tommy Hilfiger e Michael Kors, se torna o maior acionista individual da empresa e assume a posição de presidente da Aston Martin. E um primeiro ato da nova administração já foi anunciado: a companhia irá rebatizar a Racing Point a partir de 2021, e volta à F1 como equipe oficial.

Como os acionistas das duas empresas (Racing Point e Aston Martin) não são todos os mesmos, apenas uma decisão de Stroll não basta para o acordo. Assim, a entrada do nome da fabricante inglesa no time se dará através de um contrato de patrocínio, com custo para a montadora, que a princípio tem duração de 2021 a 25 e que pode ser renovado pelo tempo que as duas partes quiserem.

Atualmente, além de participação em provas de GT e um programa para entrar na classe de hipercarros no Mundial de Endurance na próxima temporada, a marca britânica já estava representada na F1 através de seu patrocínio na equipe Red Bull.

Em comunicado emitido também nesta sexta-feira, a equipe austríaca anunciou que a Aston Martin segue como sua patrocinadora até o final de 2020, quando o atual contrato termina, mas que o acordo não será renovado. Por isso, a mudança de nome da Racing Point, plano inicial de Stroll, acontece apenas na outra temporada.

A Red Bull ainda afirmou que continua no projeto do hipercarro Valkyrie, modelo que vem sendo desenvolvido em parceria da marca com o braço tecnológico da companhia austríaca, até a entrega dos primeiros carros, prevista também para o final do ano.

Quem é Lawrence Stroll

Como já contamos aqui no Projeto Motor, Lawrence Stroll é um empresário que herdou do pai alguns investimentos no ramo da moda e conseguiu com o passar dos anos multiplicar seu patrimônio com a entrada em outras marcas famosas e licenciamento de operações no Canadá. Mas se sua fortuna pessoal, estimada pela revista Forbes em fevereiro de 2019 em U$ 2,6 bilhões (por volta de R$ 11 bilhões), foi feita toda em empresas de vestuário de luxo, ele nunca escondeu, porém, sua grande paixão pelo automobilismo.

Lawrence Stroll e seu filho Stroll, Lance

Ainda nos anos 90, ele começou um relacionamento com a F1 ao patrocinar a Ferrari com sua marca Hilfiger, passando inclusive a produzir toda a indumentária oficial do time. Paralelamente, ele também aos poucos começou a comprar modelos de rua da fabricante italiana, juntado o que viria ser nos anos 2000 a maior coleção de modelos Ferrari do mundo.

Em 2000, ele comprou e reestruturou o tradicional autódromo canadense de Mont-Tremblant, pista que chegou a receber duas etapas da F1 em 1968 e 70. O circuito, que estava em decadência, voltou a receber corridas nacionais e uma etapa da ChampCar.

Stroll até mesmo chegou a brincar de piloto, participando de provas da Grand-Am, categoria de endurance americana que anos mais tarde seria a precursora da atual IMSA. Depois, em 2008, fez uma temporada no Ferrari Challenge os Estados Unidos, categoria monomarca organizada pela empresa italiana voltada para clientes que possuem carros da marca de Maranello.

Na última década, sua atenção passou para a carreira do filho, Lance. O jovem herdeiro teve uma bela ascensão das categorias de base, com os títulos de campeão da F4 italiana de 2014 e da antiga F3 Europeia de 2016.

Aos 18 anos, em 2017, ele e o pai chegaram à conclusão que já era hora de saltar para a F1, mesmo sem experiência na F2 ou como piloto de testes. Lance passou primeiro por duas temporadas na Williams e depois migrou para a nova equipe do pai, a Racing Point. Neste período, ele já participou de 62 corridas com um pódio, no GP do Azerbaijão de 17. No geral, no entanto, seu desempenho tem sido alvo de críticas, com poucos resultados e diversos acidentes.

A mudança da Racing Point em Aston Martin

Desde a compra da Force India, em 2018, Stroll tem investido bastante na estrutura de sua nova equipe, inclusive com o início da construção de uma nova sede, ao lado da atual, que ainda é dos tempos do time original da operação, a Jordan.

O dinheiro, assim como o da compra da Aston Martin, não vem apenas de Stroll, mas de um consórcio de investidores, a maioria do ramo da moda e de fundos de investimento. Desta forma, o canadense espera em alguns anos fazer de sua equipe, que sempre foi uma forte concorrente no pelotão intermediário, uma potencial vencedora dentro do Mundial.

A transformação do nome tem uma óbvia sinergia entre seus dois negócios. Pelo lado do time de F1, traz uma marca tradicional da indústria automotiva que remete a luxo e esportividade (James Bond, como não pensar nele?), o que deve atrair mais atenção de público, mídia e patrocinadores, claro.

Pelo lado da Aston Martin, é uma ativação bastante válida em termos de marketing, que colocará o nome da empresa na plataforma com mais visibilidade do esporte a motor. Esse aumento de participação no automobilismo não vem como algo forçado por Stroll, já que era algo que claramente vinha nos planos da companhia, apesar de seus problemas financeiros.

A Aston Martin participa ativamente de competições de GTs, como Le Mans, IMSA e no IGTC, e já tinha se comprometido com a entrada na classe principal do WEC com seu novo hipercarro Valkyrie. Até o momento, os dois programas estão mantidos.

A marca também teve uma rápida passagem pelo DTM em 2019, porém, abandonou o programa por conta de problemas operacionais, especialmente ligados ao fornecimento de motores e pela desistência da equipe licenciada R-Motorsport.

Aston Martin na F1

Essa não será a primeira incursão da Aston Martin na F1 como equipe oficial. Na década de 50, após uma empolgação com a dobradinha das 24 Horas de Le Mans, o chefe esportivo da empresa, David Brown, decidiu se aventurar no Mundial de monopostos.

O time construiu o modelo DBR4 em casa, mas logo o carro se mostrou obsoleto, principalmente pela escolha de um motor dianteiro enquanto os principais competidores já ganhavam espaço com a opção do propulsor traseiro. A boa dupla formada por Roy Salvadori e Carroll Shelby até conseguiu alguns resultados interessantes, como os dois sextos lugares do inglês em Aintree e Monsanto, mas nunca teve muita chance de brigar por algo melhor.

Na temporada seguinte, a equipe trouxe uma evolução de seu carro, o DBR5, e substituiu Shelby pelo francês Maurice Trintignant. Só que o desempenho do novo modelo foi ainda pior, com time ficando fora dos 10 primeiros em sua única participação, no GP da Inglaterra, em Silverstone.

Desta forma, a Aston Martin logo decidiu encerrar seu programa na F1 após seis participações em GPs e nenhum ponto marcado (na época, apenas os cinco primeiros pontuavam). A marca resolveu desde então manter o foco nas competições de carros esportivos, onde, com alguns altos e baixos, se manteve sempre bastante competitiva com o passar das décadas.

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