Tradicional circuito de Nazareth, abandonado nos EUA

A triste história dos autódromos americanos que se tornaram fantasmas

Muito se voltou a falar sobre o pequeno speedway de Nazareth nos últimos tempos. É verdade que o trioval de 1 milha já estava em situação de abandono e esquecimento há mais de 10 anos (suas últimas competições oficiais foram etapas da Indy e da Nascar realizadas em 2004), mas uma informação divulgada no fim de setembro fez as atenções se voltarem novamente ao espaço falido, um dos tradicionais autódromos americanos.

David Jaindl, empreendedor que comprou o terreno do autódromo no final de 2015, enfim anunciou o que pretende fazer com ele. E agora vem a notícia triste: a pista será extinta de vez e, em seu lugar, serão instalados condomínios residenciais, uma zona comercial e até um centro de distribuição de uma fábrica de violões e guitarras. Adeus, Nazareth!

Centenário (sua inauguração se deu em 1910), o complexo existiu por muitas décadas utilizando duas configurações de pista de terra, sempre com traçado convencional de “curvas gêmeas”. Nos anos 80 já havia a iminência de extinção, o que levou Roger Penske a comprar as instalações e reformá-las, gerando um trioval pavimentado que estreou como etapa da Indy em 87. De lá até 2004 Nazareth recebeu ininterruptamente etapas de CART/IRL todos os anos, além de diferentes divisões da Nascar a partir de 91.

Por ter um traçado pequeno e formado por três curvas de diferentes raios, proporcionava corridas desgastantes e de ultrapassagens difíceis, o que era capaz de fascinar os fãs mais ferrenhos ao mesmo tempo em que pouco empolgava o público em geral. Além disso, por estar situado a menos de 50 quilômetros de Pocono, acabou sobrepujado pelo revigorado superspeedway triangular numa concorrência para lá de desleal. Uma pena.

Nazareth não é o única pista americana que se tornou fantasma nas últimas décadas.

Projeto Motor aproveita o ressurgimento de sua história para contar outros sete casos de autódromos que desapareceram ou foram deixadas ao léu. Caso o douto leitor lembre de alguma história que não mencionamos neste artigo, sinta-se à vontade para mencionar nos comentários. Confira:

North Wilkesboro Speedway

North Wilkesboro é um dos autódromos americanos em situação de abandono
North Wilkesboro é um dos autódromos americanos em situação de abandono

Criado no fim dos anos 40, com a impulsão gerada pela “lei seca” americana (a Carolina do Norte sempre foi conhecida por sua força na produção de bebidas destiladas) e o surgimento da Nascar, North Wilkesboro Speedway sediou provas dos três principais níveis da categoria até 1996, quando definitivamente perdeu espaço para outros dois ovais no mesmo estado: Rockingham e Charlotte. Já àquela época a pista era considerada ultrapassada em termos de estrutura e com traçado muito apertado (0,625 milha).

Após várias tentativas de reavivar o autódromo, capitaneadas por diferentes grupos de investidores, em 2010 enfim o pequenino speedway reabriu as portas, recebendo algumas corridas de categorias nacionais menos expressivas. O esforço durou pouco: já em 2012 o palco voltou a ficar inativo, estágio em que se encontra até os dias atuais.

North Carolina Motor Speedway

Por falar em Rockingham, o oval em D de 1 milha (conhecido por boa parte da vida como North Carolina Motor Speedway) também acabou engolido pela modernização constante de Charlotte nos anos 2000. Aberto em 1965, sediou provas da Nascar até 2004 e, depois, entrou em forte espiral de declínio.

Em 2007, mudou de mãos numa transação de US$ 4,4 milhões, e o novo grupo de proprietários até conseguiu restaurar a pista e trazer de volta provas da Arca e também da Truck Series, terceira divisão mais importante da Nascar. O período de respiro durou até 2014. Ano passado as instalações foram comercializadas novamente, pela bagatela de US$ 3 milhões, e ninguém mais sabe qual será seu destino.

Langhorne Speedway

Um circulo constante: característica bastante peculiar do antigo autódromo de Longhorne

Imagine uma pista que não é um oval perfeito, sem retas (e que, quando vista numa perspectiva aérea, lembra um daqueles latifúndios entrecortados por símbolos supostamente feitos por alienígenas). Estamos falando de Langhorne, uma insanidade criada em 1926 e que sediou etapas de Nascar, AAA e Usac (sendo estas duas últimas precursoras da atual Indy), além de uma das principais competições para carros de rua preparados dos EUA.

Por dispor apenas de uma curva constante com diferentes raios e inclinações, era demasiadamente dura em relação ao desgaste dos pneus, principalmente do lado direito. O problema era tamanho que, em 65, o traçado foi modificado para a forma de um D. Mas, já àquela época, a região localizada no estado da Pensilvânia se desenvolvia rapidamente e logo se tornaram irrestíveis as ofertas de compra do terreno. O fim para um dos autódromos mais insanos do mundo foi consumado em 71.

Beach Heaven Speedway

Beach Heaven é mais um dos autódromos que foram esquecidos nos EUA
Beach Heaven é mais um dos autódromos que foram esquecidos nos EUA

Um dos autódromos mais misteriosos desta lista. Muito pouco se sabe sobre seu surgimento, mas é fato que o oval de terra de Beach Heaven surgiu nos anos 70, financiado por um cidadão chamado George Perluke. Tratava-se de uma pista simples em volta de um lago, sem inclinação nas curvas, voltada às competições de motocicleta.

Possuía uma enorme arquibancada na reta principal. Também sediou provas regionais de carros com os chamados “small blocks” (motores de capacidade cúbica considerada pequena pelos americanos). Em 1976 um competidor de moto morreu num acidente e, a partir de então, o local foi inexplicavelmente esquecido.

Texas World Speedway

O que restou do Texas World

Construído em 1969, entrou em um seletíssimo grupo formado por Indianápolis, Daytona, Talladega, Michigan, Pocono e Ontario: o de superspeedways (ovais de 2 ou 2,5 milhas). E ainda com 22 graus de inclinação nas curvas, uma insanidade. Mais do que isso: o projeto incluía também uma interessantíssima configuração mista de 4,7 km de extensão, digna de receber qualquer competição automobilística da época.

Nascar, Usac, Can-Am e IMSA chegaram a correr por lá, o que demonstra a versatilidade do complexo. O que deu errado? Falta de grana para manter uma estrutura tão grande e, ao mesmo tempo, isolada de grandes centros e pouco visada. Atualmente o terreno serve de ferro velho para carros destruídos pelo furacão Harvey. Melancólico, não?

Ontario Motor Speedway

Estamos falando do primeiro autódromo americano a ter nascido já com a chancela dos principais órgãos de comando do esporte a motor: Usac, Nascar, NHRA (associação das provas de arrancadas) e… FIA. Era um quadrioval de 2,5 milhas ao estilo Indianápolis, que logo se tornou, junto com Brickyard e Pocono, uma das sedes da chamada Tríplice Coroa, que reunia as três rodadas de 500 milhas do calendário da Usac em uma espécie de certame à parte, regado a premiações milionárias e bastante prestígio. Também inovou ao criar um clube de fãs associados, estratégia pouco comum nos anos 80.

Mesmo com o aparente sucesso comercial, os proprietários do autódromo encontravam enormes dificuldades para arcar com as despesas e as dívidas acumuladas ao longo das obras. Tanto que se tornou inevitável vendê-lo em 1973. Tentativas de expandir os eventos automobilísticos e até sediar festivais musicais foram colocadas em prática, mas nada adiantou.

O circuito acabou vendido em 1980 à Chevron, mas se engana quem pensa que a petrolífera demonstrou preocupação em preservar o lugar. Pelo contrário: ela acabou se desfazendo aos poucos das instalações. Atualmente o local está tomado de hotéis e propriedades comerciais, sendo que a única referência de que ali existiu um autódromo está nos nomes das ruas (Duesenburg Drive, Ferrari Lane etc).

Riverside Raceway

Riverside foi um dos autódromos mais importantes dos EUA, e recebeu até a F1

Deixamos o único circuito misto da lista para o final. E que circuito: uma sequência insana de esses logo após a reta dos boxes. Curvas cegas e frenagens difíceis realizadas em situações de mudança brusca de relevo. Aberto em 1957, o californiano Riverside Raceway oferecia três opções de traçado, que iam de 4 a 5,25 km de extensão.

Sediou etapas de Nascar, Usac, Can-Am e até o GP dos EUA de 1960 da F1. Assim como os demais membros desta lista, perdeu o bonde da modernização e teve talvez o fim mais cruel de todos: foi destruído em 1989, após muitos anos de especulação e tendo a desapiedada confirmação de seu destino ocorrendo com dois anos de antecedência, para dar lugar a um… shopping center.

Pois é. Para não dizer que ninguém se importava com o destino da praça, os novos donos da propriedade construíram um pequeno museu com carros e outros itens que fazem parte da memória da pista.

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