Rubens Barrichello, no F1 Indoor Trophy, em Bolonha, em 1993

Bem antes de Hockenheim-2000: o 1º triunfo de Barrichello de F1, em 93

Todo mundo lembra da primeira vitória de Rubens Barrichello na F1, no confuso e emocionante GP da Alemanha de 2000, em Hockenheim. Uma atuação memorável do brasileiro, que fazia sua temporada de estreia pela Ferrari, após sete anos correndo em equipes médias da categoria.

Só que sabia que aquela corrida não foi a primeira vez que Barrichello venceu uma competição com um carro de F1? Tudo bem, não foi exatamente um GP nem uma corrida extracampeonato ao estilo mais antigo, com participação de grandes rivais em pistas do nível das que são utilizadas no Mundial. Mas o importante é que foi com um carro de verdade da categoria.

Em 1993, o paulista participou e venceu a sexta edição do F1 Indoor Trophy, evento realizado dentro do Bolonha Motor Show, na Itália. A competição aconteceu em dezembro, poucas semanas depois do término da temporada de estreia de Barrichello na categoria.

Barrichello utilizou o mesmo modelo Jordan 193 com motor Hart com que ele competiu e teve alguns momentos importantes naquele ano, batendo na competição Pierluigi Martini, de Minardi, Vittorio Zoboli, com outra Jordan, e a dupla Michele Alboreto e Fabrizio Barbazza, da Scuderia Italia. Ok, ok, não são os concorrentes mais “duros”, mas o que importante é a taça, não?

O F1 Indoor Trophy

Mas afinal, o que era esse raio de evento? Compreendo sua pergunta. Vamos lá. O Salão Internacional de Bolonha acontecia todo começo de dezembro, apresentando algumas novidades do setor automotivo e das motos, como a maioria dos eventos deste tipo. É preciso pontuar que a cidade, da região da Emília-Romanha, é uma das mais tradicionais da Itália quando se fala em carros de alto desempenho.

Em um raio de poucos quilômetros estão as sedes, por exemplo, de marcas como Ferrari, Maserati, Lamborghini e Ducati. As corridas na região também sempre foram algo bastante comum, com as pistas de Fiorano e Imola como sede da maioria das provas de autódromo, além, é claro, das antigas competições entre cidades.

Por isso tudo, é de se esperar que em um Salão do Automóvel de um lugar como este, apenas uma grande feira com um monte de carro bonito não seria o bastante. Saiu daí então a ideia de chamarem algumas equipes da F1 para se promover uma pequena corrida no estacionamento do evento.

Apesar do nome “indoor”, que em tradução livre significa “interno” ou “dentro”, a pista de 1,3 km era montada numa área externa. O local não tinha espaço para um circuito de F1 propriamente dito, então, o conceito foi de fazer um traçado em que cada carro andasse sozinho, tentando bater o tempo do oponente.

Circuito do Salão de Bolonha

É bom lembrar que dezembro já marca o início do inverno na Itália e Bolonha fica no centro-norte do país, onde o tempo fica bastante frio nesta época, podendo inclusive nevar a partir de janeiro. Por isso, o desafio frequente de uma pista molhada, com pneus e carros nada aquecidos, também era considerável para os pilotos.

A organização teve problemas para atrair os grandes equipes como McLaren, Williams e até mesmo a local Ferrari e seus pilotos como Ayrton Senna, Alain Prost, Nelson Piquet e Nigel Mansell e afins. Além de nesta época do ano o pessoal querer uma folga, ninguém queria se arriscar a fazer papelão numa competição dessas.

Mesmo assim, alguns times médios e pequenos como Minardi, Scuderia Itália, Osella, Brun e Coloni topavam correr e até recebiam uma espécie de cachê pela apresentação. Até mesmo a First chegou a participar da brincadeira na primeira edição, em 1988, na preparação para o que seria sua primeira participação na F1 em 89. Como todos sabem, o time depois desistiu de correr no Mundial e seu carro foi repassado para a Life, que é considerada para muitos a pior equipes da história da categoria.

A partir de 92, a coisa melhorou um pouco, com aparições de Lotus, Jordan, Ligier e até mesmo a bicampeã mundial Benetton, na última edição da competição, em 1996, com Jarno Trulli e Giancarlo Fisichella. O mais legal, de qualquer jeito, é que para os fãs era a possibilidade de ver pilotos e equipes, mesmo que do pelotão intermediário e até das últimas posições, em seus carros daquele mesmo ano em uma condição totalmente diferente da normal.

Com seis participantes, o formato básico era de mata-mata, com os pilotos se enfrentando em quartas, semi e final. O vencedor da primeira edição foi o espanhol Luis Pérez-Sala, de Minardi. O time de Faenza, inclusive, foi o que mais vezes levantou a taça, com quatro “títulos”.

Quem era Barrichello em 1993

Rubens Barrichello era um piloto em ascensão e que já chamava a atenção desde os tempos da base. Ele foi campeão da F3 Inglesa de 1991, que na época era passagem quase que obrigatória para os principais pilotos do mundo que queriam chegar à F1. No ano seguinte, ficou em terceiro na F3000, uma espécie de último passo antes do Mundial no mesmo estilo da F2 de hoje. Ele ficou atrás dos italianos Luca Badoer e Andrea Montermini, e à frente de outros futuros pilotos da F1, inclusive com vitórias, como David Coulthard e Olivier Panis.

O brasileiro tinha estreado na F1 em 1993 e no geral se apresentou bem, apesar de ter marcado apenas dois pontos. Aos 21 anos, ele teve alguns bons momentos durante a temporada, em especial no GP da Europa, em Donington Park, em que brigou pelo pódio até abandonar a quatro voltas do final com pane seca em sua Jordan.

O carro da equipe britânica também se mostrou um conjunto frágil durante boa parte do ano, e os primeiros pontos do brasileiro vieram apenas na penúltima etapa do campeonato, com um quinto lugar no GP do Japão. Mesmo assim, o saldo foi positivo para um novato.

A vitória de Barrichello em Bolonha

Em 1993, o F1 Indoor teve apenas cinco participantes, já citados. Naquele ano, a organização mudou um pouco o formato da competição. Primeiro, os pilotos iam para a pista e marcavam um tempo para uma fase de classificação. Nesta primeira parte, Fabrizio Barbazza ficou em último com sua Minardi e já caiu fora.

Na parte dos mata-mata, a competição passou a contar com uma melhor de três voltas. Ou seja, os pilotos iam para a pista no mínimo duas vezes. Se um fosse o mais rápido na primeira tentativa e o outro na segunda, aconteceria uma terceira volta. Se o mesmo vencesse nas duas primeiras, já ganhava o confronto.  

Rubens Barrichello no alto do pódio do Troféu F1 Indoor, em Bolonha

Barrichello enfrentou o “companheiro” de Jordan, Vittorio Zoboli, na semifinal, por dois a zero. O italiano se tornaria piloto de testes na temporada seguinte na Jordan. Na grande final, o brasileiro enfrentou o conjunto “dono da casa”, com Martini de Minardi, e venceu mais apertado: 2 a 1.

Aquela era apenas a segunda vez que um time não italiano vencia a competição. Na edição anterior, Johnny Herbert levou a taça com a Lotus. Em 92 e 96, mais dois brasileiros subiram ao pódio, ambos em terceiro e pela Minardi, Christian Fittipaldi e Tarso Marques, respectivamente.

A edição de 1996 foi a última da competição, com vitória de Fisichella, de Benetton-Renault. Mas não foi a última vez que carros de F1 andaram no pequeno circuito do Salão de Bolonha. A Ferrari, como boa anfitriã da região, marcou presença frequente com apresentação de seus pilotos, sempre com carros relativamente recentes e pilotos de testes, como o próprio Fisichella, em 2014.  A pista também continuou a ser usada para outras apresentações e provas com outros tipos de carros e modalidades, como rali e esportivos.

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