Carro da Embassy Hill, a equipe do lendário Graham Hill

Embassy Hill: a equipe de F1 que acabou após trágico acidente de avião

Nos anos 70, a equipe Embassy Hill tentava se consolidar na F1. Capitaneado por uma lenda do automobilismo, e tendo uma grande promessa como um de seus pilotos, o time estava em um momento de entusiasmo, mas tudo chegou ao fim de maneira repentina, com um trágico acidente aéreo.

O protagonista da história é um dos nomes mais consagrados de todos os tempos. Graham Hill conquistou dois títulos mundiais de F1, em 62 e 68, e venceu por cinco vezes o GP de Mônaco, o que lhe rendeu o apelido de “Mister Mônaco”. Além disso, o inglês venceu as 500 Milhas de Indianápolis e as 24 Horas de Le Mans, se tornando o único nome até hoje a alcançar a Tríplice Coroa do automobilismo.

Mas, ao fim de 72, Hill tentava se reencontrar na F1. Aos 43 anos de idade, ele deixou a Brabham e decidiu dar um passo ambicioso ao criar sua própria escuderia, onde atuaria tanto como piloto como também como chefe de equipe. O time contaria com o patrocínio da marca de cigarros Embassy, e seria oficialmente chamado de “Embassy Racing With Graham Hill”, mas, no dia a dia, era simplesmente Embassy Hill.

Tratava-se de uma operação bastante enxuta, algo que não era incomum para a época, com poucos mecânicos, sede na região oeste de Londres, e contando com apenas um carro, que seria pilotado por Hill. O modelo era um chassi DN1 comprado da Shadow, e com motores Ford Cosworth DFV V8. Apesar de um carro que chamava atenção pela beleza, a temporada de estreia, em 73, não foi das melhores.

A Embassy Hill competiu apenas a partir do GP da Espanha, e acumulou seis abandonos em 12 etapas. O melhor resultado foi um nono lugar obtido por Hill em Zolder, o que significava que a equipe terminou a campanha zerada em pontos.

Graham Hill no carro de sua equipe, a Embassy Hill
Graham Hill no carro de sua equipe, a Embassy Hill

Para 74, a Embassy Hill ampliou sua operação. Ela passaria a inscrever um segundo carro ao lado de Hill, pilotado inicialmente por Guy Edwards e depois por Rolf Stommelen, e contaria com chassis produzidos pela Lola. A equipe ainda estava longe do pelotão da frente, mas ao menos conseguiu marcar seu primeiro ponto na F1, com um sexto lugar de Hill no GP da Suécia.

Crescimento da equipe e momento como construtora

Para 75, mais um passo ambicioso foi dado. O time começou a temporada com o mesmo modelo do ano anterior, mas o criador do chassi, Andy Smallman, deixou a Lola para se juntar ao corpo técnico da Embassy Hill. O seu novo projeto, então, foi batizado de GH1, o que significava que a Embassy Hill se tornava oficialmente uma construtora e competiria com um chassi 100% próprio pela primeira vez.

Mas esta seria uma temporada bastante movimentada. Stommelen chegou a liderar em Montjuic, mas sofreu uma falha na asa traseira de seu carro. Isso provocou um acidente de grandes proporções, matando dois fotógrafos, um bombeiro e um torcedor, e ferindo o próprio Stommelen.

Em Mônaco, Hill não conseguiu se classificar para o grid, e decidiu se aposentar como piloto, e se dedicaria apenas à gestão da equipe. Em seu lugar, trouxe o promissor Tony Brise, um dos grandes talentos da F3.

Tony Brise, no modelo GH1 da Embassy Hill
Tony Brise, no modelo GH1 da Embassy Hill

O jovem inglês mostrou velocidade logo de cara, e pontuou em seu segundo GP pela Embassy Hill, com um sexto lugar em Anderstorp. Quem também passou pelo time em 75 foi o futuro campeão mundial Alan Jones, que deixou sua marca com dois pontos em Nurburgring.

Tragédia e fim da Embassy Hill

Para em 1976, Smallman havia construído um novo modelo do zero, o GH2, que era mais leve e compacto. A Embassy, por sua vez, havia aumentado seu patrocínio e seu investimento na equipe. O otimismo para a nova temporada ficou simbolizado em um teste realizado em Paul Ricard, no sul da França, no fim de novembro: o GH2 estava, àquela altura, 1s5 mais rápido do que seu antecessor, o que deixava as expectativas em alta.

Concluído o teste em Paul Ricard, era hora de voltar para casa. Seis integrantes do time retornariam em um voo que saía de Le Castellet, um aeroporto situado ao lado da pista, pararia em Marselha para reabastecer, e chegaria ao seu destino final no aeroporto de Elstree, a 25 km ao norte de Londres.

Estariam a bordo chefe Graham Hill, o piloto Tony Brise, o projetista Andy Smallman, o diretor esportivo Ray Brimble, e os mecânicos Terry Richards e Tony Alcock. Quem pilotaria o avião, um Piper Aztec, era o próprio Graham Hill, que havia tirado sua licença de piloto privado em 1965, e tinha estimadas 1600 horas de voo, sendo 1124 naquela própria aeronave.

Ao se aproximar do aeroporto de Elstree, o avião se deparou com muita neblina, o que reduzia de forma significativa a visibilidade. Quando diminuía a altitude na intenção de entrar em contato com a pista, a aeronave colidiu com árvores no campo de golfe de Arkley, a 5 km do local do pouso, perto das 21h30 locais. O Piper Aztec pegou fogo e ficou totalmente destruído, matando na hora os seus seis ocupantes.

O acidente deixou o mundo do automobilismo em choque. Primeiro, porque o episódio envolveu a perda de um dos personagens mais ilustres de todos os tempos, acontecimento que atraiu mais a atenção do noticiário da época.

Mas também aquilo representou a perda de seis pessoas chave de uma equipe da F1. Ao perder os seus membros mais importantes, a Embassy Hill não teve condições de continuar com suas atividades. O modelo GH2 nunca competiu, e virou obra de colecionador, e frequentemente pode ser visto em eventos pela Europa.

Boa parte dos bens materiais da equipe foi adquirida pela Wolf, que preparava sua entrada na F1. Já o estafe que restou foi contratado pela própria Wolf e pela McLaren, além de equipes da F3 e do automobilismo americano.

Mas a história não acabou por ali. Em setembro de 76, dez meses após a tragédia, foram divulgados os resultados da investigação. E ali foi revelado que a licença de piloto privado de Hill ainda estava válida, mas sua habilitação para realizar voos por instrumentos, importante quando não há condições visuais como no dia do acidente, já havia expirado.

O relatório também concluiu que o avião havia estava em boas condições de manutenção, mas também havia problemas com sua documentação. A investigação praticamente descartou qualquer problema técnico com a aeronave, e concluiu que, “por mais que não seja possível estabelecer a causa exata do acidente, a possibilidade é de que o piloto subestimou sua distância do aeroporto, e, consequentemente, desceu de forma prematura em condições de neblina espessa”.

Em resumo, a hipótese mais provável foi a de um erro do próprio Hill, que, desorientado, possivelmente confundiu as luzes do campo de golfe com a do aeroporto e desceu muito

antes do que deveria. E, levando em conta todas as questões com a documentação da aeronave, houve problemas para que as famílias recebessem o dinheiro do seguro.

Os parentes das outras cinco vítimas, na busca por indenização, entraram na justiça contra a família Hill, que, desta forma, perdeu praticamente toda sua fortuna. Ainda assim, o único filho homem de Graham, Damon Hill, fez carreira no automobilismo e se tornou campeão do mundo.

Mas aquela noite fria de novembro de 75 foi um marco trágico, e um dos capítulos mais tristes da história da F1.

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