Dez equipes que tiveram apenas uma (e só uma) temporada mágica na F1
Aqui vai uma obviedade: toda escuderia que ingressa na F1 o faz sonhando em entrar para o panteão das construtoras vitoriosas. Ok, a máxima não vale tanto assim para aquelas que ali servem apenas como lavanderia monetária sobre rodas, mas em geral a regra é esta.
Infelizmente a grande maioria fracassa em seu intento, e nem um singelo pódio de recordação consegue. Pouquíssimas são as que se tornam frequentemente vencedoras. Outras vivem no meio-termo das glórias singulares: passam quase a vida toda no pelotão de trás ou intermediário, mas encaixam uma ou outra temporada iluminada, repleta de bons resultados.
Uma delas é a WOLF. Em 9 de janeiro de 1977, Jody Scheckter conquistava um improvável primeiro lugar no GP da Argentina, que abria aquela estação, e obtinha o primeiro triunfo da história da curta operação do magnata Walter Wolf (que adquirira a Frank Wlliams Racing Cars). Com a expertise de Harvey Postlethwaite, a esquadra construiu para 77 seu primeiro chassi próprio, o WR1-Cosworth, que se mostrou um tremendo acerto ao unir traços aerodinâmicos fluidos com o confiável propulsor DFV V8.
Com ele, além da etapa de Buenos Aires, o talentoso ás sul-africano faturou também as rodadas de Mônaco e Canadá. Duas evoluções, denominadas WR2 e WR3, foram testadas em sete das 17 etapas, também com bons resultados (embora sem mais vitórias). No fim, Scheckter encerrou a campanha como vice-campeão de Niki Lauda e a Wolf, mesmo competindo com apenas um bólido, foi a quarta no Mundial de Construtores. Pena que no ano seguinte o efeito solo tenha entrado em cena e chacoalhado as bases fundadas pela equipe do milionário canadense.
Este caso não foi isolado. O Projeto Motor relembra neste artigo outros nove – levando em conta que estamos falando somente de escuderias que não se tornaram campeãs; até pensamos em lembrar de casos como Williams-2014, Tyrrell-1990 ou Lotus-1992, mas preferimos adotar um critério mais purista. Confira a lista e, ao final, sinta-se à vontade para mencionar algum exemplo que não estena no texto.
ATUALIZAÇÃO 20/11/2020 às 16h47 – Muitos leitores cobram a presença da Brawn GP nesta lista. Gostaríamos de destacar de forma mais clara que a equipe não se encaixa nos critérios por dois motivos. O primeiro como especificado em parágrafo acima, times que venceram o campeonato já foram excluídos. A Brawn GP ganhou em 2009 tanto o título de construtores como de pilotos. Além disso, a organização disputou a F1 com esse nome por apenas uma temporada. Ou seja, ela não entra na ideia de times pequenos ou médios que fizeram um ano acima de sua média histórica, brigando inclusive com grandes. A Brawn GP simplesmente não tem histórico para sabermos se era pequena, média ou grande, já que ela disputou o Mundial apenas uma vez.
VANWALL – 1958
Fundada por Tony Vandervell, um destemido empresário britânico do ramo de rolamentos que decidiu competir em provas extra-oficiais com chassis Ferrari modificados, começou a construir bólidos próprios em 54. Assombrou a concorrência com o VW5, de 57, que teve como participante em sua criação um tal de Colin Chapman. Dotado de suspensões que otimizavam a massa não-suspensa, transmissão com engrenagem sincronizadora, entre outros detalhes modernos para a época, o bólido venceu seis das 11 etapas realizadas em 58, e só não fez de Stirling Moss o campeão porque a regularidade de Mike Hawthorn e o bom caráter do bretão falaram mais alto. Ainda assim a pequena Vanwall foi coroada a primeira campeã mundial de construtores da categoria.
HESKETH – 1975
Última operação “romântica” da F1 (era a única a recusar patrocínios em plenos anos 70), era bancada por um membro da nobreza britânica (Lord Hesketh) e se notabilizou por promover a ascensão de James Hunt ao certame. Inicialmente competindo com chassis March, construiu em 74 seu primeiro carro próprio, o 308. O projetista você já conhece: Harvey Postlethwaite. Equipado com o Cosworth DFV (sempre ele), permitiu que Hunt triunfasse no GP da Holanda e finalizasse a temporada em quarto, mesma posição da própria esquadra na tábua das manufatureiras. Esta seria a única láurea do time, que seguiu competindo por mais dois anos e meio sem nunca mais registrar sequer um pontinho.
COPERSUCAR – 1978
Evolução do infrutífero F5, porém com várias modificações inspiradas no (veja só) Wolf WR1, o Copersucar/Fittipaldi F5A foi responsável pela participação mais sólida da operação brasileira em seus oito anos de existência. Com ele Emerson Fittipaldi, único representante em ação, anotou 17 pontos e encerrou a época em décimo, com direito a um memorável pódio (segundo posto) em Jacarepaguá. A própria Copersucar, por sua vez, foi a sétima melhor entre as construtoras. Pena que, quando tudo parecia se ajeitar, a ambição desmedida pelo carro-asa tenha feito Raplh Bellamy perder a mão, devolvendo a equipe ao limbo em 79.
TOLEMAN – 1984
Poucos são os dirigentes de equipe média que dão a sorte de reunir dois diamantes brutos trabalhando juntos. A Toleman conseguiu isso ao ter Ayrton Senna e Rory Byrne em 1984. Como resultado, apesar das limitações do motor Hart turbo 4-cilindros em linha, o ás brasileiro foi capaz de levar o TG184 (debutado no GP da Bélgica daquele ano) a três pódios, incluindo a famosíssima atuação na rodada de Mônaco. Resultados mais abundantes só não vieram por falta de confiabilidade e também por alguns erros do novato. Não fez mal: Senna foi nono na classificação final e a Toleman, sétima.
PROST – 1997
Tudo bem que a Prost Grand Prix nasceu já utilizando a base da finada Ligier, mas ainda assim a campanha de estreia não poderia ter sido melhor. Quer dizer: poderia, se o então inspiradíssimo Olivier Panis não tivesse a excelente temporada que fazia interrompida por um grave acidente no GP do Canadá. De qualquer modo, os dois pódios obtidos em Interlagos e Barcelona, mais outras seis presenças na zona de pontuação deixaram o time do tetracampeão mundial em sexto na tabela. Dali por diante o caminho viraria uma eterna ladeira… vertida para baixo.
JORDAN – 1999
Depois de uma estreia memorável em 91, sucedida por campanhas bem mais modestas (e um tanto decepcionantes) nos dois anos sequentes, a Jordan iniciou uma sólida fase de crescimento que culminou com a fantástica estação de 99. Um iluminado Heinz-Harald Frentzen venceu dois GPs daquele ano (França e Itália) e teria se colocado na batalha final pelo título, não tivesse uma lastimável falha eletrônica acometido seu equilibradíssimo 199 enquanto ponteava a rodada de Nürburgring. O que importa é que tanto o volante alemão quanto a equipe de Eddie Jordan foram terceiros colocados em seus respectivos campeonatos.
STEWART – 1999
Recebendo pesado apoio da Ford (que viria a adquirir a operação pouco tempo mais tarde), a Stewart acertou a mão no pacote de 1999: o chassi SF-3 era excelente e o motor Cosworth CR-1 empurrava com força, embora faltasse confiabilidade. Os três pódios de Rubens Barrichello e a inesperada vitória de Johnny Herbert no GP da Europa coroaram um período em que o time brigou consistentemente como uma das quatro maiores forças da grelha. Não à toa, encerrou a temporada em quarto nos construtores.
SAUBER – 2001
Resignada à condição de quase uma “equipe B” da Ferrari, a Sauber vinha passando por uma fase difícil no fim da década de 90. Para 2001 mudou quase tudo: desde a pintura (com um rejuvenescente bico branco, cortesia da financeira Credit Suisse) até a dupla de pilotos, formada pelos jovens Nick Heidfeld e Kimi Raikkonen. A ousada aposta numa dupla quase sem experiência se mostrou profícua: com bons desempenhos a bordo do bem nascido C20, ambos pontuaram em nove das 17 rodadas, deixando a equipe suíça num excepcional quarto posto entre os fabricantes de chassi, melhor colocação até hoje em sua história. O ápice foi a terceira posição anotada pelo alemão em Interlagos.
TORO ROSSO – 2008
Um projeto que era basicamente a cópia do Red Bull RB4, do mestre Adrian Newey, equipado com um motor mais potente que o da equipe principal (Ferrari contra Renault), e pilotado por um jovem que com certeza tinha mais talento do que todos os seus companheiros de equipe principal e satélite. Eis a fórmula que explica por que 2008 foi o único momento até hoje em que a Toro Rosso conseguiu ficar à frente da escuderia rainha na tábua de pontos. Sebastian Vettel, sozinho, foi responsável por 35 dos 39 tentos acumulados pelo time satélite, o que por si já foi mais do que os 29 feitos por Mark Webber e David Coulthard na própria Red Bull somados aos quatro de Sébastien Bourdais. O brilhante primeiro lugar no chuvoso GP da Itália foi a cereja no bolo da magistral campanha protagonizada pelo germânico.
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