Imola foi palco da primeira grande batalha entre Senna e Prost

Ayrton Senna e Alain Prost forjaram uma das maiores rivalidades da história da F1. Este embate teve auge durante os três anos em que eles disputaram quase que um mano a mano pelo título da F1 entre 1988 e 90.

Mas antes disso, eles chegaram a protagonizar alguns momentos quentes dentro da pista. E foi em 1985, no circuito de Imola, a primeira grande batalha.

A luta aconteceu duas semanas depois da primeira vitória do brasileiro na F1, no Estoril. Era apenas a segunda temporada de Senna no Mundial, mas agora competindo pela Lotus, o que lhe deixava em condições de brigar por vitórias.

Prost ainda buscava o seu primeiro título mundial, mas já tinha uma carreira consolidada. Vindo de um vice-campeonato por apenas meio ponto em 1984 e com um conjunto bastante confiável da McLaren-TAG Porsche, ele já acumulava 17 vitórias em seu currículo desde a estreia na F1, em 1980.

Pela segunda vez seguida, Senna cravou a pole para a prova. Mas ele mesmo sabia que aquilo não era algo tão determinante como em outras pistas. “Será uma longa e difícil corrida. Dura para os freios e no consumo de combustível”, apontou em entrevista após a classificação.

O brasileiro largou na frente e passou a liderar a corrida seguido de perto pelo companheiro de Lotus, Elio de Angelis, e depois por Michelle Alboreto, da Ferrari.

Na 23ª, Prost, que tinha largado em sexto e vinha escalando aos poucos o pelotão, ultrapassou Alboreto. Senna aproveitou a briga entre os dois para ampliar sua vantagem para 4s5 em relação ao seu perseguidor mais próximo. Mas seu respiro não duraria muito.

O francês da McLaren diminuiu essa margem rapidamente e na volta 27, já estava encostado na traseira da Lotus do adversário. Enfim, eles começariam uma luta direta pela ponta.

Os carros de Senna e Prost em 1985

O McLaren MP4/2B de Prost era uma evolução do modelo que tinha vencido 12 das 16 etapas de 1984. Já explicamos aqui no Projeto Motor os detalhes da criação e desenvolvimento deste carro.

Entre suas principais forças estava o fato de motor e chassi terem sido projetados praticamente juntos, o que trazia vantagens de equilíbrio e distribuição de peso. Além disso, e a unidade de potência TAG Porsche, se não era a mais potente, era a mais eficiente no consumo de combustível.

Projetado por Gérard Ducarouge, o Lotus 97T parecia relativamente simples olhando de fora. Ele tinha a base do modelo anterior da equipe, porém, trouxe algumas inovações aerodinâmicas interessantes herdadas do abandonado projeto 96T para a Indy.  

O motor Renault era potente, o que ajudava nas classificações. O time levou metade das pole positions na temporada de 1985: sete com Senna e uma com De Angelis. Porém, o propulsor francês tinha problemas de confiabilidade e, principalmente, de consumo de combustível.

O embate em Imola

Na época, o circuito de Imola possuía um traçado com um longo período de aceleração, entre a Variante Bassa, que levava para a reta dos boxes, passando pelas antigas curvas Tamburello e Villeneuve (bastante abertas e feitas em aceleração plena) até a forte freada da Tosa.

Este ponto era o preferido dos pilotos para ultrapassagens. Eram quatro possibilidades:
– a primeira era entrar na reta dos boxes já bastante próximo do carro à frente e conseguir tirar do vácuo e completar a ultrapassagem na reta entre a Tamburello e a Villeneuve;
– caso não fosse possível, o piloto teria que tentar colocar o carro lado a lado com o adversário por fora na Villeneuve, para ficar por dentro na freada da Tosa. Esta era a manobra mais “popular”;
– se não pudesse ficar com o traçado por fora, fazer a Villeneuve por dentro e tentar a aproveitar a melhor posição de frenagem para cortar a Tosa por fora e completar a ultrapassagem;
– E finalmente, em última instância, completar a Villeneuve no vácuo do adversário e tentar um mergulho por dentro de última hora na Tosa. Esta normalmente era a opção que rendia mais acidentes.

Prost logo percebeu algo com que teria que lidar por muitos de seus anos seguintes na F1. Senna, além de rápido e talentoso, era extremamente agressivo.

Foram várias as voltas do francês atrás do adversário contornando a Tamburello colado na traseira da Lotus. Mas o brasileiro fazia então um corte rápido para a esquerda para evitar que ele pudesse pegar o traçado por fora da Villeneuve.

Depois, Senna trazia o carro de novo para o centro da pista para atrapalhar qualquer possibilidade de ameaça na Tosa. Prost, com mais velocidade de reta, chegou a ficar lado a lado por fora neste ponto, mas Senna conseguia segurar a linha por dentro para não tomar um “xis”.

Por fazer um traçado mais aberto na Tosa, Prost conseguia um melhor contorno e até sair mais forte. Mas nos metros seguintes que levavam até a Piratella, Senna não era contido ao tentar ocupar o espaço, fazendo um traçado com fortes mudanças de direção, o que deixava o rival sem muita opção.

Foram cinco voltas de uma luta muito intensa em que Senna se defendia como podia. Só que os dois começaram a chegar em retardatários e o brasileiro apostou em manobras agressivas e decididas para conseguir deixá-los para trás de forma mais rápida que o piloto da McLaren.

Assim, pela volta 37, ele já abria mais de 2s de vantagem. O representante da Lotus aproveitou o momento e seguiu acelerando para abrir uma vantagem de 11s até a volta 53, quando faltavam apenas sete para o final.

Só que parte da diferença aberta pelo brasileiro pode ter sido construída por conta do cuidado de Prost com o consumo de combustível, o que, como o próprio Senna tinha apontado no sábado, poderia ser algo problemático nas voltas finais.

Final maluco em Imola

Prost fez um pit stop para troca de pneus na volta 54 e caiu para a terceira posição. A cinco voltas do final, Senna liderava com 7s de vantagem para Stefan Johansson, da Ferrari, que tinha 9s7 para o francês da McLaren.

Foi quando uma sequência de acontecimentos inesperados mudou o destino da corrida. Senna sofreu pane seca e ficou pelo caminho. A torcida italiana em Imola explodiu ao ver Johansson assumindo a ponta com a sua Ferrari. Mas a alegria durou pouco.

Faltando três voltas para a bandeira quadriculada, o sueco também parou sem combustível. Uma análise pós-corrida da equipe mostrou que um problema elétrico fez não só o carro consumir mais combustível como ainda mostrar de forma errada a quantidade de gasolina no tanque a Johansson.

A liderança caiu no colo de Prost, que claramente economizando combustível, pilotou de forma lenta pelas últimas três voltas e conseguiu receber a bandeira quadriculada em primeiro. A situação era tão drástica que a McLaren parou na pista com pane seca metros depois, sem conseguir retornar aos boxes.

Thierry Boutsen, da Arrows, também sofreu pane seca a poucos metros da linha de chegada. O belga então desceu do carro e empurrou para garantir o terceiro lugar, o que significava o primeiro dos15 pódios que ele viria a conquistar na carreira.

Duas horas depois da corrida, a FIA, no entanto, anunciou que o carro de Prost estava 2 Kg abaixo do peso e, por consequência, desclassificado. A vitória ficou então com De Angelis, com Boutsen em segundo e Patrick Tambay, da Renault, em terceiro.

Em entrevista depois da corrida, o italiano da Lotus admitiu que o triunfo acabou sendo por uma sorte, já que a tendência natural era ele ficar sem combustível, assim como o companheiro, Senna.

“O motor perdeu potência sozinho, o que me ajudou a terminar”, admitiu De Angelis. “Depois, tentei aumentar o ritmo de novo e estava bom, mas no final, o freio se incendiou e fiquei sem freios nas últimas três voltas”, continuou, explicando por que diminuiu o ritmo de novo.

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