Jenson Button é um dos novos proprietários da Radford
(Reprodução/Radford)

Jenson Button é um dos responsáveis por reviver lendária marca Radford

No final do último mês de março, o campeão de 2009 da F1, Jenson Button, anunciou uma novidade bem interessante. Ele irá enfrentar uma empreitada como empresário ao reviver a marca Radford, uma coachbuilder que ficou conhecida na Inglaterra por seus projetos de transformação de Bentley, Aston Martin, Mini, entre outros, dos anos 40 a 60.

O projeto também envolverá o mecânico apresentador de TV, Ant Anstead, famoso por sua participação até a última temporada do programa Wheeler Dealers, que é possível acompanhar no Brasil pelo canal Dicovery Turbo com nome “Joia sobre Rodas”. Recentemente, ele também chamou a atenção por uma série em que construiu uma réplica de uma Alfa Romeo 158, carro que venceu a primeira corrida da história da F1, em 1950.

Também estão na iniciativa o advogado Roger Behle e o projetista Mark Stubbs, ex-GM e Bugatti, que foi quem comprou os direitos da marca Radford uns anos atrás. Ele encontrou Anstead em 2020 e os dois começaram a formular um plano, que depois contou com a chegada dos dois novos sócios, que inclui o ex-F1.

“Poder ajudar a reviver esse nome icônico é uma oportunidade muito especial e única”, contou Button, em comunicado. “A marca Radford carrega um prestígio e magnetismo para qualquer um que gosta de carros. O trabalho de Harold Radford e sua equipe na metade do século XX é simplesmente incrível, então, eu pulei de cabeça na chance de me juntar ao Ant e ao Mark em sua aventura de reviver o nome Radford sem piscar”, continuou.

O que é a Radford

Para os brasileiros, a Radford talvez não seja uma marca tão conhecida, por ter sempre ficado mais restrita ao mercado inglês. A empresa nasceu nos anos 40 como revendedora de Rolls-Royce e Bentleys, mas ficou famosa por fazer adaptações a pedido de seus clientes e criar novas versões dos modelos.

No começo, a Radford trabalhava basicamente o interior dos carros, com novos bancos e estofados, acabamentos no geral, e instalando equipamentos como minigeladeiras para gelo, pequenas mesas e por aí vai. Depois, a equipe do empresário inglês começou a brincar também com a carroceria dos carros, os deixando mais sexies e customizados.

Rafdord ficou famoso por fazer grandes projetos para ricos ingleses que queriam que seus carros se tornassem peças únicas. Recentemente, um Aston Martin DB5 modificado pela empresa em 1965 foi vendido em um leilão por U$ 1,7 milhão. Além de seu caráter único, existe uma enorme curiosidade em torno do carro, pois a modificação feita pela Radford foi encomendada por David Brown, na época, dono da própria Aston Martin.

Mas talvez o trabalho da companhia que ficou mais conhecido mesmo foi quando “aqueles” quatro rapazes de Liverpool se apaixonaram pelo trabalho. Nos anos 60, A Radford fez uma releitura do Mini que se tornou uma febre em Londres. Rebatizado de Mini de Ville, entre os adoradores da versão estavam os membros do Beatles.

John Lennon no Radford Mini de Ville que era de propriedade de George Harrison durante a gravação do filme Magical Mystery Tour, em 1967
John Lennon no Radford Mini de Ville que era de propriedade de George Harrison durante a gravação do filme Magical Mystery Tour, em 1967 (Foto: Keystone Features/Hulton Archive/Getty Images/BMW)

Através do famoso empresário da banda, Brian Epstein, os quatro compraram em 1966 Minis modificados pela empresa, cada um com seus pedidos pessoais. O do Ringo Starr se tornou um modelo ainda mais único, já que em sua customização, ele pediu espaço no bagageiro para conseguir colocar sua bateria. Sim, num Mini. Sim, a bateria inteira.

Claro que ter os Beatles, no auge da carreira, usando carros modificados pela empresa, fez a Radford se tornar ainda mais emblemática do que já era. Curiosamente, na mesma época, ela também estava trabalhando em um outro projeto bastante icônico, mas que até hoje recebe pouco crédito: o Ford GT.

Radford na pista

Dizer que a Radford desenvolveu o Ford GT 40 nos anos 60, como alguns andaram dizendo nas últimas semanas diante do relançamento da marca, é um exagero gigantesco. Porém, é necessário apontar a participação da empresa no projeto.

Antes de mais nada, é preciso apontar para os que não conhecem tanto a história do carro, e que se baseiam apenas na parte contada no recente filme ‘Ford vs Ferrari”, que o Ford GT ganhou vida antes do envolvimento de Carroll Shelby nos Estados Unidos.

O carro na verdade nasceu na Lola, e tinha o nome Mk. 6. Quando a Ford revolveu disputar Le Mans, ela fechou um contrato com o engenheiro e proprietário da Lola, Eric Broadley, para o desenvolvimento do modelo, que passaria a se chamar Ford GT (o “40” nunca fez parte do nome oficial, apesar de todo mundo chamar o carro de Ford GT 40). O Mk. 6 foi a base, que agora com o dinheiro da gigante americana, seria mais desenvolvido.

Entre os vários fornecedores que participaram desta primeira parte do projeto, todo realizado em uma fábrica na Inglaterra construída pela Ford especialmente para o projeto, estava a Radford. A empresa participou de duas fases do projeto. Ela fez toda a parte em fibra de vidro nas portas, na traseira (em volta do motor) e na frente do modelo, seguindo as especificações aerodinâmicas do projeto. Depois, com o carro praticamente pronto, foi ela também que montou o interior com bancos, instalou os vidros dianteiro e na traseira, além de ser a responsável pela pintura.

Como se sabe, a Ford acabou quebrando a cara na estreia do GT 40 em Le Mans e chamou no segundo ano Shelby para auxiliar no desenvolvimento do carro na Califórnia, tirando Broadley do projeto. O carro, nos anos seguintes, se tornaria uma máquina de vitórias. E a Radford teve sua participação neste desenvolvimento, mesmo que pequena.

O projeto de Button, Anstead e Stubbs

Não se sabe muito ainda o quão grandes são as ambições dos novos proprietários da Radford. A companhia historicamente britânica terá sede agora nos Estados Unidos, onde seus novos proprietários moram (apesar de todos serem ingleses).

Pista que a Radford e Button utilizarão para testes, além da Escola de Pilotagem da marca, no Arizona, no sudoeste dos Estados Unidos (Foto: Radford)

Eles já anunciaram uma pista de teste própria, no Arizona, onde Button andará e desenvolverá os carros. Em uma entrevista para a revista GQ, Anstead prometeu que a Radford irá produzir um carro novo, em parceria com alguma grande montadora, que ele preferiu não revelar o nome. Inclusive, chegou a abrir a possibilidade para trabalhar com mais de uma grande fabricante. E partir daí, os clientes poderão customizar seus modelos.

Ou seja, poderemos ver um carro com chassi e mecânica de Dodge Challenger, por exemplo, modificado e projetado pela Radford em cima de uma base fornecida por uma montadora. O modelo que demos de exemplo aqui é um chute, mas curiosamente é o que será utilizado na nova “Escola de Pilotagem Radford”, na pista de teste de empresa, que também apresenta programas de F4, kart e arrancadas.

Agora, é esperar quando veremos o primeiro “by Radford” nas ruas, provavelmente nas mãos de algum ricaço da Califórnia.

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