Como Max Verstappen foi moldado pelo pai para ser campeão da F1
Depois de uma das temporadas mais tensas da história da F1, Max Verstappen conquistou o seu primeiro título mundial. Foi um campeonato cheio de polêmicas, inclusive até as horas após a bandeirada da última corrida, mas também de grandes corridas, apresentações e disputas entre ele e seu adversário, Lewis Hamilton.
Aos 24 anos, Verstappen cumpre o caminho que há muito parecia estar desenhado para ele. Antes mesmo de entrar no radar das principais equipes ou fãs da F1. Seu pai, o ex-piloto de F1 Jos Verstappen, moldou o filho e cuidou de cada passo da trajetória do novo campeão até o resultado deste domingo.
Apesar de correr pela Holanda, Max nasceu na Bélgica, filho de Jos com da ex-pilota Sophie Kumpen. A família de sua mãe tinha diversos pilotos. Seu avô chegou a correr por três vezes nas 24 Horas de Le Mans e um de seus tios tem uma carreira extensa também em Le Mans e outras provas de endurance, e tem se dedicado nos últimos anos à Nascar Euro.
A própria Sophie Kumpen competiu em alto nível no kart, correndo contra diversos pilotos que chegariam à F1 no futuro como Jenson Button, Nick Heidfeld, Jarno Trulli e Giancarlo Fisichella, inclusive conquistando vitórias e participando competições internacionais. Após seu casamento com Jos, ela resolveu se aposentar das pistas em 1996. Passou a focar em ajudar na carreira do marido e depois na criação dos filhos. Max nasceu em 97.
Jos Verstappen chegou à F1 em 1994 após ser campeão alemão de F3 e vencer o tradicional Masters da categoria. Ele era considerado uma boa promessa. Sua temporada de estreia foi como companheiro de Michael Schumacher na Benetton. A chance veio após um acidente do outro titular da equipe, JJ Lehto. Assim, ele substituiu o finlandês pela maior parte da temporada, mas passou longe de acompanhar o ritmo de Schumacher, que se sagrou campeão mundial daquele ano enquanto Verstappen teve apenas dois pódios e se envolveu em diversos acidentes.
Verstappen ainda seguiu na F1 até 2003 andando por equipes médias e tendo temporadas como piloto de testes, incluindo um ano testando uma iniciativa de equipe oficial da Honda que nunca saiu do papel.
Quando Jos deixou as pistas, seu projeto principal de vida passou a ser transformar seu filho em um futuro campeão.
As relações dos Verstappen
Max começou a mostrar interesse por automobilismo ainda muito pequeno, acompanhando o pai nas pistas. Segundo Jos disse em uma entrevista ao podcast da F1, a ideia inicial era colocá-lo para correr quando ele completasse seis anos. “Mas ele insistiu tanto, chorou, que aí o coloquei para correr”, lembrou o ex-piloto. Max tinha quatro na época.
Jos se divorciou da esposa de forma problemática. Ele chegou a enfrentar a justiça sob acusação de violência doméstica. Mesmo depois da separação, Verstappen chegou a ser intimado sob acusação de enviar mensagens de texto em tom de ameaça e rasgar os pneus do carro da ex-esposa. Após o divórcio, sua filha, Victoria Jane, ficou com Sophie, e Max passou a morar com o pai.
A partir deste momento, Jos investiu tudo na carreira do filho. Enquanto Max estava na escola, Jos estava atrás do melhor chassi ou motor de kart. Os dois iam pelo menos três vezes por semana à pista para testes. Jos trabalhou muito na questão de sensibilidade do filho, fazendo ele experimentar diversos tipos diferentes de acertos e regulagens para entender melhor o que acontecia com seu kart.
“Mesmo em corridas, eu dizia que como ele estava ganhando tão fácil, por exemplo, que ele não poderia ultrapassar em uma determinada curva ou parte da pista. Então, ele tinha que encontrar outros pontos para fazer isso. A questão era sempre deixar mais difícil para ele, para encontrar outras maneiras de ultrapassar ou não”, explicou Verstappen pai em uma entrevista conduzida pelo ex-piloto David Couthard ao canal CarNext, em 2020.
O esforço não era por nada. Jos confessou que logo nas primeiras competições em que colocou o filho, ele percebeu que tinha algo de especial e um potencial a ser explorado.
“Quando ele saía com pneus frios, a primeira volta dele era sempre um segundo melhor do que a de todo mundo. Quando ele tinha a liderança na primeira curva, depois da largada, a primeira vez que passava de novo pela linha, ele tinha um segundo de vantagem. E enquanto eles estavam correndo com pneus frios… Para mim, isso é talento, é sensibilidade”, contou ao podcast da F1.
Com essa base, Jos tentou ao máximo guiar seu filho dentro e fora da pista. Usando a sua experiência como piloto para evitar seus erros e corrigir rotas. E diz que seu filho, desde muito jovem, aprendeu a acolher seus conselhos e ensinamentos.
“Ele sempre acreditou muito em mim. Pois eu sempre estava na pista, ensinando-o. E ele nunca teve um momento em que não acreditou em mim. Mesmo hoje. Quando vejo coisas acontecendo, estamos sempre conversando. Agora, ele é mais velho, é um homem, ele entende o que está fazendo. Mas nos escutamos.”
Em diversas entrevistas durante os últimos anos, os dois brincaram várias vezes com a forma dura com que Jos Verstappen tratou Max na infância e adolescência no kart. O hoje campeão mundial disse que certa vez, quando estava em seu penúltimo ano das competições de base, ele fez um treino ruim antes da corrida. Na volta aos boxes, seu pai bateu em seu capacete e gritou que se ele não “voltasse ao normal”, eles iriam embora. Max teria depois feito a pole position. “Eu o acordei, ele precisava às vezes”, disse Jos no CarNext.
Em outra ocasião, eles foram para a pista durante o inverno holandês após a escola e, por conta do frio, Jos mandou Max, que tinha entre oito e nove anos, se aquecer dentro da van deles antes de entrar no kart.
“Três minutos depois… [Max não tinha voltado]. Eu disse então ‘Vamos!’ e ele respondeu que ainda estava com frio”, contou Jos. “Eu disse ‘Não ligo, vá pilotar!’. Ele não conseguia mexer os dedos e eu não ligava. Eu queria testar as coisas, pois eu estava construindo motores, trocando chassis, eu queria resultado, pois queria evoluir.”
“Eu mal podia segurar o volante”, interrompeu Max, lembrando da ocasião durante a entrevista.
“E então, quando os dedos aquecem, essa é a parte dolorosa. Eu disse: ‘Ah, cala a boca.”, seguiu Jos.
“Acho que ele estava tentando me deixar forte”, concluiu Max.
A ligação com a Red Bull
Com seu talento natural e os ensinamentos e investimento do pai, Verstappen logo se tornou um dos grandes protagonistas do kart europeu. Isso em uma geração que também tinha pilotos como Charles Leclerc, George Russell, entre outros.
Antes mesmo de estrear nos carros, ele já estava sendo observado de perto pelas grandes equipes de F1. E foi ali mesmo, em sua primeira temporada de monopostos, na F3, em que seu pai fez uma escolha importante.
Após negociações com diversas equipes, ele aceitou assinar um contrato com a Red Bull porque a empresa concordava em colocá-lo na F1 já no ano seguinte, em operação B, a Toro Rosso (atual AlphaTauri). Isso faria de Verstappen o mais jovem piloto da história da categoria, aos 17 anos.
“A idade dele nunca me pareceu um problema. E logo na primeira vez que ele se sentou em um carro de F1, acho que era um carro antigo, foi tudo tão natural. Nunca me preocupei com isso”, contou Jos ao podcast da F1.
Max Verstappen participou de três treinos livres ainda em 2014 e fez sua estreia na F1 em 2015. A partir dali, o resto virou história.
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