Animada com vitórias e cortes de custos, Mercedes mantém projeto na F1
(Foto: Steve Etherington/Mercedes)

Assim como em 2009, Mercedes enxerga valor e se compromete com a F1

Como já fez há 10 anos, a Mercedes não só está reafirmando seu comprometimento com a F1, como tem mostrado que enxerga grande valor em sua participação na categoria. Isso acontece quando muita gente questiona o investimento das marcas no campeonato, principalmente pela mudança no perfil dos consumidores de carros de rua, que cada vez mais olham para os elétricos.

A Mercedes vinha como centro de rumores sobre uma possível saída desde o final de 2019. Uma venda da equipe, mesmo que com a manutenção da operação de motores, era vista por muitos como algo que poderia acontecer. Sua saída do DTM para investir no novo time na Fórmula E, parecia mais uma indicação que, assim como diversas outras grandes fabricantes, seu foco poderia mudar para a competição de carros elétricos e que o custo-benefício da F1 poderia estar se tornando inviável para seus executivos.

A empresa, no entanto, assinou recentemente o novo Pacto de Concórdia, anunciando que por enquanto fica na F1. E mais: em uma apresentação na última semana de sua diretoria para investidores internacionais, a companhia afirmou que está comprometida com a eletrificação de sua frota, mas que vê a equipe de F1 como uma peça importante para desenvolvimento de novas tecnologias.

Além disso, que vai aumentar o espaço de marketing no time para a AMG, divisão de carros esportivos do grupo. Sendo assim, em breve, deveremos ver o nome da AMG cada vez maior da pintura dos carros da equipe. A marca, importante lembrar, já está no nome oficial do time.  

Hipercarro da Mercedes AMG, o Project One é equipado com a mesma unidade de potência da F1
Hipercarro da Mercedes AMG, o Project One é equipado com a mesma unidade de potência da F1 (Foto: Daimler AG)

Um dos exemplos de como essa aproximação poderá ser feita é o Project One, hipercarro da Mercedes AMG que terá produção limitada a 275 unidades e que será equipado com a mesma unidade de potência do carro de F1 da equipe. Ou seja, um motor à combustão V6 de 1,6 litro híbrido com dois sistemas de recuperação de energia, o MGU-K (da cinética nas freadas) e o MGU-H (dos gases do escape). O sistema gera mais de 1.000 cavalos de potência.

Corte de custos da F1

Um dos pontos que deixa a F1 mais atraente para a Mercedes é a reforma pela qual a categoria está passando, com um teto de gastos e um novo regulamento técnico que limita o desenvolvimento. Assim, na visão dos executivos da empresa, o custo da participação da montadora na categoria deve cair nos próximos anos, o que irá justificar a permanência no campeonato frente ao retorno de visibilidade.

“Temos motivos tão pequenos para sair da F1 quanto o Bayern de Munique tem para sair do futebol”, brincou Ola Kallenius, CEO da Mercedes e presidente do Conselho de Administração da Daimler AG, uma das proprietárias da marca da estrela. “O impacto financeiro líquido será reduzido pela metade nos próximos três anos. Temos uma meta de redução de custos ainda mais agressiva na F1 do que para o resto da empresa”, continuou, segundo a agência Reuters, em uma apresentação para jornalistas nesta quarta-feira (14).

O foco da Mercedes também está na participação da formulação do próximo regulamento de motores da F1, que deve contar ainda com sistema de combustão, porém, com um funcionamento mais simples do que o atual e com a utilização de combustíveis sintéticos, que prometem ajudar a categoria a quase zerar sua pegada de carbono.

Desta forma, os participantes que apostam nos próximos anos da F1 têm a esperança de gastar menos, manter um show interessante para fãs tradicionais e novos, além de utilizarem uma tecnologia mais verde e ambiental, em linha com a política das grandes montadoras mundiais para as próximas décadas. Por isso, além de Mercedes, devemos ver Ferrari e principalmente Renault também mantendo seu compromisso com a competição.

Histórico da Mercedes é de apostar na F1

Claro que o sucesso da equipe nos últimos sete anos, sendo que a organização já tem encaminhados os títulos de pilotos com Lewis Hamilton e de construtores em 2020, ajudam bastante essa posição. Porém, podemos observar que a história da Mercedes desde seu retorno, em 1994, é apenas de aumentar sua operação e ir contra a maré de outras montadoras.

Mercedes retornou à F1 pela Sauber na década de 90

A marca, que já tinha participado nos anos 50 com grande sucesso, deixou todas as competições do automobilismo em 1955 após um grave acidente das 24 Horas de Le Mans, que terminou com a morte de mais de 80 espectadores, além do piloto Pierre Levegh, que teve sua Mercedes arremessada na arquibancada.

A Mercedes ficou fora das competições até o final da década de 60, quando começou a retornar timidamente sob a marca AMG, e de maneira mais confiante apenas a partir de 1985, com seu próprio nome, no DTM e no endurance. O retorno à F1 aconteceria como fornecedora de motores com a Sauber e depois em uma parceria de muito sucesso com a McLaren.

O próximo passo seria dado justamente em um momento em que poucos poderiam esperar. Enfrentando as consequências da grave crise financeira mundial de 2008, diversas montadoras reduziram drasticamente seus gastos com automobilismo e deixaram a F1 em um período de dois anos: Toyota, BMW e Honda, sendo a principal delas.

No meio de tanto pessimismo sobre a participação das fabricantes no Mundial, a Mercedes comprou a Brawn GP, campeã de 2009 de pilotos, com Jenson Button, e de construtores, para voltar a ter uma equipe própria na categoria a partir de 2010. Nas temporadas seguintes, a empresa seguiu com o investimento em nomes para seu corpo técnico e depois na contratação de Lewis Hamilton para ser seu principal nome dentro da pista.

A visão de longo de prazo não poderia ter dado mais certo. A partir da introdução do atual regulamento de motores híbridos, a Mercedes vem dominando a F1 levado todos os campeonatos desde então. Sua marca virou quase sinônimo de vitória na categoria.

Mesmo com mudanças no regulamento do chassis, a Mercedes não para de vencer desde 2014
Viciada em vitórias? Mesmo com mudanças no regulamento do chassis, a Mercedes não para de vencer desde 2014 (Foto: LAT Images/Mercedes)

Agora, com mais um grande momento em que uma montadora, a Honda (de novo), está de saída, e motivos externos (questionamentos sobre o foco no investimento em modelos elétricos) crescem em todas as marcas, a Mercedes volta a apostar na F1 como plataforma de desenvolvimento tecnológico e de marketing.

A empresa já tem sua equipe na Fórmula E, como plataforma de sua eletrificação, mas diferente de concorrentes, parece que não quer se desfazer tão cedo de sua estrutura montada para a F1. São pelo menos duas grandes fábricas, ambas na Inglaterra. A de Brackley, onde fica a equipe propriamente dita e que seria a estrutura a ser vendida caso a marca resolva deixar de competir como time, e uma em Brixworth, a Mercedes HPP, divisão de motores. Esta segunda, que era a Ilmor e foi comprada em duas fases pela marca alemã, além dos motores para a F1 também desenvolve as unidades de potência de alto desempenho para outras competições e operações, como a própria Fórmula E.

Se a Mercedes vai colher novos frutos pela insistência na F1 e se a decisão vai durar no longo prazo mesmo que com as mudanças do mercado automotivo, vamos ter que esperar pelo menos até 2025, quando um novo Pacto de Concórdia terá que ser assinado e provavelmente veremos o novo regulamento de motores entra em vigor. Por enquanto, a história dos últimos 25 anos da marca na F1 fala por si.

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