Conheça a montanha-russa de Portimão, nova casa do GP de Portugal
A na terceira rodada de anúncios de GPs para o revisado calendário de 2020, que sofreu forte impacto da pandemia, tivemos mais três etapas europeias se juntando às dez confirmadas anteriormente. A categoria retorna a Nurburgring, na Alemanha, e Imola, na Itália, e visitará uma nova pista, Portimão.
Essa terceira faz Portugal voltar à programação depois de 24 anos de ausência. O último GP do país aconteceu em 1996, no Estoril. Além disso, o retorno também é responsável por completar um antigo projeto de se levar a F1 para o Algarve, um plano que foi idealizado em 2002 e que vinha sendo cobiçado a partir de 2008, com a inauguração da pista.
Mesmo olhando para o século passado, Portugal não é exatamente um destino frequente ou tradicional da F1. Na história, apenas 16 corridas do Mundial foram realizadas no país. Para se ter ideia, a Malásia sediou 19 etapas. A Holanda, que está fora do calendário desde 1985 e voltaria em 2020 antes da explosão da pandemia, organizou 30 provas.
O país também não é um grande celeiro de pilotos. Apenas cinco tentaram participar e três conseguiram largar em algum GP: Mario Araújo de Cabral (4 vezes, entre 1959 e 64),
Pedro Lamy (32, entre 1993 e 96) e Tiago Monteiro, que os brasileiros adoram lembrar que o nome completo é Tiago VAGAROSO da Costa Monteiro, (37, entre 2005 e 06). Apenas os dois últimos marcaram pontos, somando sete no total, sendo que o Monteiro foi responsável por um histórico pódio no fatídico GP dos EUA de 2005, em Indianápolis.
Mesmo assim, Portugal tem sua história na F1 e no automobilismo, e Portimão é um circuito bastante interessante e com toda a estrutura para não só receber a categoria como também para promover uma corrida bem interessante por suas características.
As pistas do GP de Portugal
Antes de falarmos especificamente de Portimão, é válido lembrar um pouco sobre a história do GP de Portugal. A corrida ficou muito marcada pelas suas provas no lindo autódromo do Estoril, entre a década de 80 e 90, porém, sua história começou bem antes, em circuitos de rua.
O grande palco do automobilismo português no período pré-II Guerra era o circuito de rua Boa Vista, na cidade do Porto. Em 1951, o primeiro GP de Portugal aconteceu na pista, mas com o regulamento para carros esportivos. Três anos depois, a prova foi transferida para o traçado de Monsanto, nas cercanias de Lisboa, também uma pista que usava vias públicas, passando por uma estrada e principalmente por um parque que leva o mesmo.
A F1 chegou ao país finalmente em 1958. A primeira sede foi o circuito de Boa Vista, traçado com duas grandes retas passando pela avenida que dá nome à pista, e depois por um trecho sinuoso por ruas menores e com muitas curvas. Stirling Moss largou na pole e venceu a prova, em uma corrida em que ele também teve um papel importante para evitar a desclassificação de Mike Hawthorn, uma ação que pode ter lhe custado o campeonato depois e que já contamos aqui no Projeto Motor.
Para quem gosta de fazer turismo ligado ao automobilismo, é possível hoje caminhar pelo traçado nas ruas da cidade do Porto seguindo pequenas placas no chão, que levam os nomes de pilotos importantes que venceram e participaram de provas no local. Uma delas também faz alusão à 100º prova da história do Mundial de Turismo (WTCC), que aconteceu no local em 2009.
No ano seguinte, foi a vez de Monsanto receber a F1 em seu traçado extremamente desafiador pela alta velocidade, suas curvas, relevo e principalmente pelos diferentes tipos de superfícies. Os carros cruzavam até mesmo um trilho de trem. Mais uma vez, Stirling Moss saiu vitorioso. Em 60, Boa Vista voltaria a receber o GP de Portugal antes de um enorme hiato.
O Mundial retornaria ao país 24 anos depois, no Estoril, um autódromo construído na década de 70, apenas 30 km no centro de Lisboa. Em sua estreia, a bela pista já sediou a decisão do campeonato de 1984, com Niki Lauda conquistando o título por apenas meio ponto contra o companheiro de McLaren, Alain Prost.
No ano seguinte, a etapa foi deslocada do final da temporada para a segunda data do calendário. Em uma edição marcada por uma forte chuva, Estoril foi palco da marcante e memorável primeira vitória de Ayrton Senna, pela Lotus.
O autódromo seguiu recebendo a F1, porém, pressão para melhoria de suas instalações começou a aumentar com o passar dos anos durante a década de 90. A corrida de 1997 foi cancelada por conta da falta de condições e o governo português resolveu assumir o autódromo, que até então tinha administração privada. O GP de Portugal chegou até a figurar no calendário provisório de 1998, mas as obras do novo paddock atrasaram e o evento perdeu sua vaga, desta vez de forma definitiva.
Mesmo assim, Estoril completou sua modernização e conseguiu se colocar se não entre os mais modernos circuitos, pelo menos em uma boa posição para corridas internacionais, com o destaque para MotoGP, FIA GT, DTM e Le Mans Series.
Projeto de Portimão
Os planos para o Autódromo Internacional do Algarve, na cidade portuária de Portimão, no extremo sul de Portugal, foram divulgados pela primeira vez em 2002. Só que é aquela velha história: depois que se faz um anúncio bonito para chamar a atenção, os responsáveis foram correr atrás do dinheiro e… não acharam.
A coisa começou a andar mesmo apenas três anos depois, quando o governo local resolveu dar uma mão e concordou em ceder um enorme terreno a um aluguel bastante abaixo do mercado local e ainda conceder um desoneração de impostos por período de 10 anos, quando teoricamente o autódromo já estaria se pagando. Nem precisa dizer que a briga política foi grande, com muita gente contra o projeto, mas os governantes apelaram para a questão da importância do turismo.
Os planos se arrastaram por mais um tempo e o projeto final foi finalmente apresentado em 2008. O desenho tanto da pista como das instalações foi feito pelo arquiteto português Ricardo Pina, seguindo cada quesito da cartilha da FIA e da FIM para grandes eventos. E a obra voou. A um custo de €195 milhões na época, o autódromo foi finalizado em apenas sete meses.
De cara, o circuito de Portimão recebeu a licença da FIM e sediou uma etapa do Mundial de Super Bike como seu primeiro grande evento. A FIA também concedeu o grau 1-T, o que significa que o circuito ainda não tinha autorização para sediar um GP de F1, mas poderia receber testes da categoria. E isso aconteceu logo entre os anos de 2008 e pré-temporada de 2009, com diversas equipes aproveitando o inverno português menos rigoroso para somar quilometragem.
Portimão aos poucos começou a atrair eventos importantes como WTCC, Le Mans Series, FIA GT, World Series, e finalmente, em 2009, a GP2. Só que as finanças da empresa Parkalgar Serviços, proprietária do autódromo, não iam tão bem. Isso deixava a chance de um acordo comercial para receber a F1 praticamente impossível.
E assim como aconteceu com Estoril, o circuito precisou ser salvo pela administração pública. As dívidas chegaram à casa dos €160 milhões. Os grandes eventos também começaram a fugir e o circuito deixou de cumprir seu papel para a região do Algarve. A Portugal Capital Ventures, empresa estatal de investimentos, adquiriu então o controle da Parkalgar Serviços em 2013.
Rapidamente, o autódromo teve seu calendário revitalizado, voltando a receber competições internacionais a partir de 2014, além de outros tipos de eventos ligados ao automobilismo e ao setor automotivo, aproveitando ainda sua localização, em uma região com praias e belos passeios turísticos. O complexo do autódromo ainda conta com um resort, pista off-road e kartódromo.
Traçado e Estrutura do Circuito do Portimão
O circuito do Algarve é como se fosse uma montanha-russa. Com 4.699 metros de extensão, ele tem pouquíssimos trechos planos, com subidas e descidas a todo o momento, aproveitando bem a colina em que foi construído, seguindo bem a característica de antigos traçados.
Algumas das fortes freadas são realizadas em descida, dificultando a vida dos pilotos, que perdem um pouco de pressão aerodinâmica nestas mudanças de patamar. As saídas de curva em subida exigem bastante da tração dos carros.
A maior parte das curvas é de média para baixa velocidade. Como circuito é bastante largo, 14 metros nos trechos mais estreitos, essas características estimulam manobras agressivas e tentativas de ultrapassagens em diferentes pontos, pelo menos em categorias menores. A F1 deve ter como ponto principal, certamente, a curva um com uma zona de asa móvel na grande reta. Ela tem uma extensão de 969 metros e uma largura de 18 metros.
Vale destacar ainda a curva de entrada para a reta principal, uma das poucas de alta, com raio longo, e com mudanças de relevo durante seu contorno. Sua entrada tem um ponto cego no alto de uma pequena subida e depois ela entra em uma ladeira abaixo. A própria reta dos boxes, depois, começa com uma pequena subida para a região do grid de largada e depois, a poucos metros da curva um, faz um mergulho.https://web.archive.org/web/20200730062135if_/http://www.youtube.com/embed/KQIPF8t-LMw?version=3&rel=1&fs=1&showsearch=0&showinfo=1&iv_load_policy=1&wmode=transparent
A estrutura de paddock, boxes e centro médico é das mais atuais, com construções relativamente recentes já que o autódromo foi inaugurado há apenas 12 anos, e não deve ficar devendo para nenhum dos circuitos europeus mais modernos.
Assim como Mugello, Portimão ganha uma chance no calendário da F1 por conta da pandemia e não por ter qualquer condição de colocar em pé um acordo comercial com a categoria em uma situação normal com pagamento de taxas. Agora, fica a expectativa se um bom evento, marcado para o final de outubro, possa empolgar organizadores locais e administradores do campeonato para novas chances.
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