Lando Norris é o destaque da McLaren nos últimos anos
(McLaren)

Quando a Red Bull tentou roubar Lando Norris da McLaren

Lando Norris é um talento cultivado pela McLaren desde as categorias de base, e que hoje se tornou um pilar importante para as ambições da equipe inglesa na F1. No entanto, o desenrolar desta história poderia ter sido bem diferente, já que, em 2018, a Red Bull chegou a sondar Norris para que ele fizesse parte de seu programa de pilotos.

Para entender tudo, precisamos de um tempo para contextualizar o que se passava com a Red Bull na época. Historicamente, a marca tem uma metodologia bastante clara para levar novos pilotos à F1.

Por meio de seu programa, o Red Bull Junior, ela investe na carreira do jovem talento nas categorias de base, e se ele obtivesse performance e resultados desejados, seria promovido à F1 pela Toro Rosso, antigo nome da atual AlphaTauri. E, caso ele lidasse bem com a pressão, rendesse bem, e se houvesse uma vaga disponível na Red Bull, este piloto chegaria à equipe principal da marca.

Mas no ano de 2017, o esquema da Red Bull vivia uma situação incomum. Em seu time principal, ela contava com Daniel Ricciardo e Max Verstappen, dois pilotos jovens e que apresentavam forte performance. Então, no que dependesse da própria Red Bull, não era esperado que uma vaga se abriria no time tão já.

Na Toro Rosso, ela tinha Danill Kvyat – um piloto que já tinha uma passagem frustrada pela Red Bull, e que não vinha em uma boa campanha. No outro cockpit estava Carlos Sainz, que se via sem grandes expectativas dentro da Red Bull com a falta de vagas na equipe principal.

Então, ainda ao fim de 2017, Kvyat foi substituído por Pierre Gasly, campeão da GP2 em 2016. Já Sainz, buscando fugir do limbo na Toro Rosso, arranjou refúgio na Renault também na fase final de 2017.

O problema é que, desta vez, a Red Bull não tinha nenhum outro piloto de seu programa que estivesse pronto para assumir de imediato a vaga na Toro Rosso, o que dava uma dor de cabeça pensando tanto em 2017 como em toda a temporada de 2018.

Foi quando ela precisou fazer algo que fugia muito de sua abordagem habitual. Em vez de caçar um jovem da base, ela foi atrás de um piloto mais experiente e consolidado, e foi aí que surgiu o nome de Brendon Hartley.

O neozelandês, na época com 27 anos, era um antigo membro do programa júnior da Red Bull, mas que foi dispensado de forma repentina durante o ano de 2010. Com isso, o piloto até havia desistido de chegar à F1 e precisou reconstruir sua carreira no endurance, sendo recrutado pela Porsche, conquistando o título do WEC e vencendo as 24 Horas de Le Mans.

Então, como se tratava de um piloto experiente e já com uma Superlicença, a Red Bull decidiu reconvocá-lo para que ele fosse titular da Toro Rosso tanto nas corridas finais de 2017 como durante toda a temporada de 2018, o que era uma movimentação bastante inusitada.

O problema é que sua adaptação à F1 não foi fácil. Hartley raramente conseguia acompanhar o ritmo de seu parceiro, Pierre Gasly, e não se tornava presença constante na zona de pontuação. Além disso, problemas técnicos atrapalharam a sua campanha, e alguns incidentes também não ajudaram em nada.

Então já no primeiro semestre o balanço da Toro Rosso era de preocupação, pois ela não estava satisfeita com Hartley, mas também não tinha em seu quadro de pilotos nenhum nome que estivesse apto a substituí-lo de imediato.

Como Norris surgiu como possível opção para a Red Bull

Com todo esse cenário interno atribulado, a Red Bull se viu na posição de precisar sondar no mercado algumas possibilidades fora de sua lista de protegidos. Pascal Wehrlein, antiga promessa da Mercedes, foi um dos nomes especulados, mas quem ganhou mais força mesmo foi Lando Norris.

Norris, na época com 18 anos de idade, era piloto júnior da McLaren desde 2017, e havia conquistado naquele mesmo ano o título da F3 Europeia. Em 2018, o jovem inglês competia na F2 pela equipe Carlin, e chegou a assumir a liderança do campeonato na fase inicial da campanha, então a subida para a F1 parecia uma mera questão de tempo.

O problema é que, naquela altura, a situação da McLaren estava indefinida. A dupla titular era formada pelo bicampeão Fernando Alonso, e por Stoffel Vandoorne, outra promessa do programa da McLaren, e nenhum deles havia confirmado para o futuro nem sua permanência, nem sua saída da McLaren.

Foi quando a Red Bull entrou na história. Como Norris já tinha pontos na Superlicença para correr na F1, e não tinha possibilidades imediatas confirmadas na McLaren, ela fez uma proposta para o inglês correr na Toro Rosso no lugar de Hartley já a partir do GP da Áustria de 2018, a nona etapa do campeonato, no dia 1º de julho.

Lando Norris vem se destacando pela McLaren nas últimas temporadas
Lando Norris vem se destacando pela McLaren nas últimas temporadas (Foto: McLaren)

Só que a ideia não acabava ali: segundo as informações de bastidores que rolavam na época, a ideia da Red Bull não era ter um empréstimo de Norris, e sim de poder contar com o inglês de forma definitiva, incluindo nos anos seguintes. E foi isso que a McLaren barrou. Segundo Zak Brown, “as conversas significariam que Norris iria embora da McLaren, e isso era algo que não estava em negociação”.

Mas, de todo modo, a McLaren ficou com a pulga atrás da orelha. Temendo perder o seu jovem talento, ela confirmou, no dia 3 de setembro, que Norris seria titular na temporada de 2019, formando dupla com o mesmo Carlos Sainz que antes era da Red Bull. De acordo com Brown, a McLaren estava totalmente ciente de que, se Norris não estivesse em seu cockpit em 2019, ele inevitavelmente estaria guiando para uma concorrente.

Assim, qualquer chance da Red Bull em contratar Norris acabava de vez. Como Gasly foi promovido à equipe principal, a Toro Rosso ficou sem muitas opções, e decidiu dispensar Hartley para contar com um surpreendente retorno de Daniil Kvyat para 2019. A outra vaga ficou com Alex Albon, que ganhou destaque no cenário internacional ao disputar as primeiras posições na F2, inclusive contra o próprio Norris.

O desfecho da história pareceu positivo tanto para Norris quanto para a McLaren. O piloto inglês se tornou uma peça importante para a equipe, até assumir nos últimos anos o papel de líder interno, com direito a pole position e pódios.

Norris estendeu o seu acordo com a McLaren até o fim da temporada de 2025, e a parceria entre piloto e equipe parece mais sólida do que nunca, embora tenha sido por pouco que o desdobramento não foi bem diferente.

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