Relembre o último duelo entre Senna e Prost. E não foi na F1

Difícil conhecer alguém que não conheça pelo menos um “naco” da rivalidade entre Ayrton Senna e Alain Prost. Estamos falando, provavelmente, do maior embate entre dois pilotos de ponta já visto na história da F1.

Um duelo de proporções épicas, que mudou para sempre os parâmetros técnicos e desportivos da categoria. É sabido que de companheiros afáveis ambos se tornaram meros colegas toleráveis e, depois, arqui-inimigos.

Dali por diante a disputa chegou ao limiar da ética, até culminar no inesperado abraço entre ambos no pódio do GP da Austrália de 1993, o último do francês como piloto e, inesperadamente, a derradeira vitória do brasileiro.

Tal cena foi vista no dia 7 de novembro daquele ano e, até hoje, é vendida como o último encontro entre ambos nas pistas. Não foi. Existiu um encontro, realizado aproximadamente um mês e meio depois, realizado naquele que talvez seja o método mais puro de competição automobilística: o kart.

Em 18 e 19 de dezembro de 1993, Philippe Streiff, vítima de um terrível acidente durante os testes de pré-temporada de 1989 em Jacarepaguá, que o deixou tetraplégico, organizou um simpático evento chamado Masters Karting.

Patrocinado pela petrolífera Elf, que queria proporcionar a seus protegidos uma experiência única ao lado de ases já estabelecidos na F1, o ex-piloto formulou um método de competição que colocava figurões e novatos para testar, juntos, suas habilidades individuais e também no trabalho em equipe.

O evento de estrelas da F1 no kart

Disputado em Bercy, uma arena parisiense que já sediou diversas competições esportivas, e até hoje recebe o Masters 1000 de Paris, torneio de segundo escalão do tênis, o Masters Karting era uma espécie de “Desafio das Estrelas” (aquele mesmo, organizado por Felipe Massa) dos anos 90. Durou até 2001.

O evento inaugural ocorreu num sistema de dois dias de disputa: classificatórias e prova 1 no sábado; classificatórias, corridas complementares e bateria final no domingo.

Prost, piloto da casa e recém-empossado tetracampeão mundial de F1, era a grande estrela da primeira edição do evento, mas Senna, que iria substituir o francês na Williams no ano seguinte, aparecia como convidado de honra.

Além deles competiram Damon Hill, Johnny Herbert, o mito Andrea de Cesaris, Pierluigi Martini, Olivier Grouillard, Eric van de Poele, Philippe Alliot, Jean-Marc Gounon e Paul Belmondo. Entre os estreantes estavam Olivier Panis, um dos grandes destaques do evento, além de Stéphane Sarrazin, Franck Lagorce e Jean-Cristophe Boullion, nomes que eventualmente chegaram à F1.

Os karts eram equipados com motor 2-tempos de 100 cc, movido a uma mistura de gasolina com óleo 2T e capaz de alcançar, acredite, 16.000 rpm. O próprio Senna, em entrevista a jornalistas durante a festa, explicou a técnica para pilotar máquinas tão pequeninas e ariscas.

“Esses karts são muito curtos e têm reações bastante rápidas, então você tem que entrar de lado na curva para que, em algum estágio, esteja bem posicionado e com aderência [para a saída]. Nesse aspecto eles são muito diferentes de um carro de corrida maior”, relatou.

O embate entre Senna e Prost

Em meio a desfiles das jovens promessas da geração perdida do automobilismo francês em bólidos de F3000 e F3, e minipáreos envolvendo competidores de classes infantis e juvenis, as 21 estrelas da competição principal foram divididas em sete equipes com três representantes cada: dois profissionais e um aspirante.

De sábado para domingo os sete novatos privilegiados foram substituídos por outros sete, dando oportunidade a 14 jovens. Hill lesionou o pulso em acidente sofrido no primeiro dia, e acabou substituído por Van de Poele no segundo.

Senna também tomou um susto no sábado, ao bater forte contra a barreira de pneus e rodopiar no ar durante a classificação. Terminou a sessão em quarto, 25 milésimos mais lento que… Prost. Panis, sensação do evento, foi o mais rápido.

Enquanto Senna caiu em time com Jérémie Dufourd e Gounon, Prost teve Bernard e Christophe Tinseau como parceiros. Infelizmente Gounon sofreu uma falha logo na segunda volta do páreo 1 e, quando Senna sentou no kart, já tinha ampla desvantagem em relação aos líderes. Herbert e De Cesaris, o mito, venceram.

Foi na bateria de domingo, entretanto, que o pega para valer rolou entre as duas grandes estrelas. Prost, ao lado de Lagorce e Éric Hélary, encararia desta vez um trio formado por Senna, Grouillard e Bouillon.

Após longa espera do público, os dois monstros se encontraram no pequeno traçado de 600 metros pavimentado com asfalto. Prost estava atrás, e é óbvio que o velho rival fez jogo duríssimo quando confrontado. Entretanto, Senna acabou sofrendo com problemas em seu kart e abandonou a prova.

A equipe de Prost acabou se sagrando campeã do evento enquanto a do brasileiro ficou em terceiro. De qualquer maneira, vale a lembrança pela demonstração de habilidade em uma divertida disputa que, se aparentemente não valia nada, no fim foi um desfecho recheado de leveza para uma rivalidade de peso incomensurável. Confira abaixo algumas das cenas:

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