Acervo no Instituto Senna tem mais de 136 mil itens sobre o piloto
A família de Ayrton Senna e o Instituto que leva o nome do piloto brasileiro, que tem foco em programas sociais na área de educação, têm realizado um trabalho constante desde a morte do ídolo, em 1994, para manter sua história e marca vivas na memória dos fãs.
Uma das formas encontradas para isso é a procura e catalogação de itens ligados ao tricampeão. O projeto começou em 1996 com a mãe de Senna, Neyde Senna da Silva, que resolveu começar a organizar as coisas do filho, como troféus, fotos, presentes, equipamentos de corrida e outros. Muitos dos itens estavam guardados em caixas no escritório do piloto e em outros imóveis.
A catalogação começou em um caderninho de Dona Neyde, que foi separando aos poucos cada item. Ela então passou a receber a ajuda da bibliotecária Julia Pereira Lalli, cunhada da irmã do piloto, Viviane. Com experiência de anos de trabalho no IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas), Julia estava em um ano sabático e se ofereceu para o trabalho.
“A Dona Neide disse que estava querendo organizar as coisas do Ayrton, eu disse que poderia ajudar. Ele até perguntou quanto tempo eu achava que iria demorar. Na época, a ideia era fazer algo bem simples. Uma catalogação de tudo que ele tinha. Aí eu falei ‘ah, dois anos’. [risos]”, explicou Julia ao Projeto Motor.
Desde então, o trabalho não acabou mais. Para se ter ideia, já são mais de 136 mil itens catalogados no software desenvolvido especialmente para a função. Entre eles estão mais de 45 mil fotos, comunicados de imprensa originais (alguns com anotações com letra de punho de Senna), entre outros materiais.
Relíquias do tricampeão
Em outubro de 2019, a equipe do Memorial [departamento do Instituto responsável pela catalogação] organizou uma exposição interna para os funcionários da fundação terem contato com algumas peças. O Projeto Motor foi convidado para conhecer a mostra e conversar com as responsáveis.
O memorial, liderado por Julia, tem hoje uma equipe de quatro pessoas. E o trabalho não é pouco, já que além de muita coisa que o próprio piloto e a família guardaram, até hoje são recebidas novas peças de pessoas que guardaram algo da carreira ou relacionado a Senna, e de fãs espalhados pelo mundo.
Nossa visita ao Instituto começou com um belo impacto que nem estava na mostra ainda. Logo na recepção, a McLaren MP4-5b Honda, usada no GP da Itália de 1990. Segundo o Instituto, Senna ficou com o chassi após ganhar uma aposta do chefe da equipe inglesa Ron Dennis, que não acreditava em um triunfo contra a Ferrari naquela prova em Monza. Caso o brasileiro vencesse, como fez, poderia ficar com o carro, o que acabou acontecendo.
Ao entrarmos na exposição organizada pelo Memorial, pudemos ver alguns itens bem legais. O macacão utilizado por Senna na icônica vitória no GP do Brasil de 1993, em que a pista foi invadida pela torcida após a bandeirada, um capacete da temporada de 1991 e o troféu do primeiro triunfo do piloto em Interlagos, também naquele ano.
Nos capacetes, é possível ver riscos e cortes causados por impactos de pedras e outros detritos lançados durante as corridas. Luvas, desde os tempos de kart até da F1, com diversos remendos (alguns feitos pela própria mãe, segundo o pessoal do memorial) também fazem parte.
Um dos troféus mais legais da coleção, no entanto, não é da F1, mas de um título no “Campeonato de Férias” de 1973 na categoria Júnior Menor. Nada mais nada menos do que a primeira taça de Senna, conquistada aos 13 anos.
“Não tínhamos noção de onde iríamos chegar. Da dimensão que isso iria tomar”, admite Julia, durante o papo sobre a quantidade de objetos encontrados. Muitos deles estavam encaixotados pelo piloto e nem a família tinha ciência na existência.
Os presentes também são curiosos. Talvez, um dos mais interessantes é uma máquina fotográfica. Senna contratava fotógrafos que lhe acompanhavam nas corridas para produzir material de divulgação. Entre eles, Norio Koike esteve ao lado do piloto de 1985 até sua morte. Após o acidente fatal de Senna, o japonês doou para a família sua máquina e todo seu acervo de cerca de 25 mil retratos do brasileiro. Depois, ele se afastou da cobertura de automobilismo.
Outro item que chamou nossa atenção é o Troféu Graham Hill. Senna recebeu a comenda em 31 de maio de 1992, alguns dias depois de seu quinto triunfo no GP de Mônaco, que lhe colocava ao lado do piloto inglês como recordista de vitórias na tradicional prova monegasca.
A taça faz menção aos anos das conquistas de Hill, com uma placa referenciando as do brasileiro. O tricampeão ainda se isolaria nesta disputa ao vencer pela sexta vez em Monte Carlo logo no ano seguinte, em 1993. E o volante daquele novo triunfo também estava exposto.
E tudo isso é só uma ínfima parte do acervo…
Por que isso tudo não está em um “Museu Ayrton Senna”?
Essa talvez seja a primeira pergunta que venha à mente de qualquer pessoa que saiba da existência desta coleção. E claro, também foi a nossa. A maioria destas peças não está escondida do público, já que são vistas em diversas exposições e eventos sobre Senna que acontecem de vez em quando no Brasil e pelo mundo.
Mas, por que não um museu? Porque fazer um museu não é tão simples como você pensa. Não é uma questão de simplesmente pegar tudo que se tem do Senna e colocar em prateleiras em algum prédio.
Você precisa abrir uma nova instituição que será responsável pelo imóvel, instalações, licenças de funcionamento, administração, segurança e precisa ser financeiramente sustentável. A família Senna e o Instituto Ayrton Senna, segundo o que o Projeto Motor apurou com pessoas ligadas a ambos, não querem essa dor de cabeça. Quem gostaria?
Esse tipo de problema é visto em outros casos, como o Museu do Automobilismo Brasileiro, que o Projeto Motor já visitou, e que também não é aberto ao público geral por esses mesmos problemas.
Por isso tudo, enquanto não chegar alguém com um belo projeto e capacidade técnica e financeira para tocá-lo, a chance de um Museu Ayrton Senna ou até mesmo de outros pilotos brasileiros (imagine a soma dos acervos de coleções sobre Nelson Piquet, Emerson Fittipaldi…) não sairá tão cedo.
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