McLaren MP4/5B marcou bi de Senna e acidentes polêmicos
Como parte de mais um ano de extensas homenagens a Ayrton Senna, o GP de São Paulo de 2024 terá um momento especial em que Lewis Hamilton irá pilotar a McLaren MP4/5B que Ayrton Senna utilizou na temporada de 1990 da F1.
É verdade que a ação não é exatamente uma grande novidade. Em 2019, Bruno Senna, sobrinho do tricampeão mundial e que também competiu na F1 entre 2010 e 12, completou algumas voltas em Interlagos durante a programação do GP daquele ano com um modelo ainda mais lendário: MP4/4, de 1988, ano do primeiro título de Senna e o carro mais dominante da história da F1.
O mesmo modelo, aliás, também já foi pilotado pelo próprio Hamilton. Em 2010, o programa britânico Top Gear produziu uma edição especial sobre o piloto brasileiro.
E entre as entrevistas e ações, a produção conseguiu que a McLaren, então time de Hamilton, levasse o histórico carro de Senna para Silverstone para algumas voltas com o piloto local ao volante.
Outros carros históricos importantes já deram voltas em Interlagos durante os GPs da F1 por aqui. Em 2011, Nelson Piquet andou com o Brabham-Ford Cosworth BT49C, modelo seu primeiro título mundial, em 1981.
Dois anos depois, Emerson Fittipaldi teve a chance de se apresentar com o lendário Lotus 72, modelo com que conquistou seu primeiro título mundial, em 1972, e sua primeira vitória no GP do Brasil, em 73.
Em 2024, apesar das polêmicas sobre um estrangeiro pilotando o carro de Senna em Interlagos, o público poderá ver o piloto mais vencedor da história da F1 pilotando o carro de seu maior e mais carismático ídolo.
MP4/5B levou Senna a vitórias e título mesmo que com dificuldades
Após os eventos explosivos de 1989, incluindo uma das mais polêmicas decisões de título da história em que Alain Prost bateu no companheiro, Senna, para sacramentar a conquista, muita coisa mudou na McLaren.
A começar, o próprio Prost deixou a equipe e partiu para a Ferrari. Mas não seria só isso. Ele levaria com ele o engenheiro Steve Nichols, que tinha sido um dos líderes do desenvolvimento dos últimos carros da McLaren, que dominaram as temporadas de 88 e 89.
Nichols não teria tempo de fazer uma revolução total na Ferrari, mas pegaria uma base interessante de um carro que vinha em desenvolvimento com diversas novidades (como a primeira transmissão semiautomática com trocas por câmbio borboleta da F1) e realizou atualizações aerodinâmicas importantes.
A McLaren sabia qua não poderia ficar parada. Neil Oatley, que trabalhava com Nichols no time, liderou uma atualização importante em relação ao modelo de 1989 com novas asas dianteiras e traseiras.
Os desenhos da carroceria e tampa de motor também foram revisados para abrirem mais espaço aos radiadores mais largos, uma busca para reduzir as quebras de motor por superaquecimento que aconteceram na temporada anterior.
Sem o experiente Prost, Senna teve que liderar o desenvolvimento do novo chassi, que também contava com uma evolução do motor Honda V10 de 3,5 litros. E as características do piloto puderam ser vistas no modelo.
O carro da McLaren era extremamente rápido em modo de classificação. Em 16 corridas, o time britânico conquistou 12 poles (10 com Senna e duas com Gerhard Berger) e ficou com toda a primeira fila em seis oportunidades.
Só que os MP4/5B normalmente sofriam no começo das corridas quando estavam com tanque cheio e mais pesados, o que muitas vezes abriu a possibilidade da dupla da Ferrari (Prost e Nigel Mansell) reverter a situação de largar atrás no grid logo nas primeiras voltas.
Isso fez com que pela primeira vez em três temporadas, a McLaren tivesse uma concorrência real pelos títulos de pilotos e construtores.
Momentos marcantes
Senna viveu momentos importantes com o MP4/5B. Logo na primeira corrida temporada, ele enfrentou uma briga pela vitória em Phoenix com Jean Alesi, da Tyrrell, mas conseguiu superar o francês após várias tentativas frustradas de ultrapassagem.
A etapa seguinte marcava a volta da F1 para o autódromo de Interlagos após 10 anos. Senna cravou a pole position com sobras e liderava de ponta a ponta até a 40ª volta, mas perdeu o bico dianteiro ao tocar no retardatário Satoru Nakajima. Assim, o brasileiro precisou parar nos boxes para a troca e perdeu a vitória para o rival, Prost.
A temporada de Senna com o MP4/5B seguira de altos e baixos e muito mais dificuldades do que o esperado no começo do ano. A Ferrari seguiu evoluindo o seu carro, que se mostrava cada vez mais forte.
Um dos momentos mais importantes para o brasileiro aconteceu na casa dos rivais, em Monza. A Ferrari era considerada a grande favorita para a prova e até mesmo o chefe da McLaren, Ron Dennis, não confiava em uma vitória. Tanto que ele apostou com o brasileiro que caso ele conquistasse a corrida, ganharia de presente o chassi da prova.
Senna cravou a pole position e venceu a corrida de ponta a ponta, com 6s de vantagem para Prost. Dennis realmente presenteou o piloto com o carro, que hoje fica exposto na sede do Instituto Ayrton Senna, em São Paulo.
Na penúltima etapa de 1990, em Suzuka, Senna e Prost protagonizaram mais um capítulo de uma das rivalidades explosivas da história da F1. Ao contrário de 89, era o brasileiro que poderia se beneficiar de um abandono duplo e ele não pensou duas vezes em aproveitar a vantagem.
Logo na largada da prova, Prost pula na frente mas foi acertado pelo MP4/5B de Senna ao tentar contornar na primeira curva do traçado japonês. Assim, o brasileiro conquistava o seu segundo título mundial.
Mudança do projeto
O MP4/5B acabou se mostrando durante o ano um carro rápido, porém, inconstante. Para 1991, a equipe partiu então para um projeto completamente novo, o MP4/6, que teria não só conceitos aerodinâmicos revisados por Oatley, como também um novo motor Honda V12.
Desta forma, a base do MP4/5, que tinha sido usada em 89 e 90, mesmo que bicampeã mundial, foi definitivamente abandonada. De qualquer maneira, o modelo entrou para a história da equipe e da carreira de Senna pelo seu simbolismo e participação em eventos tão importantes.
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