Os detalhes “da molada” de Felipe Massa no GP da Hungria de 2009
Em julho de 2009, Felipe Massa sofreu o acidente mais marcante de sua carreira. Na classificação para o GP da Hungria, o brasileiro foi atingido por uma mola que caiu do carro de Rubens Barrichello, o que lhe causou ferimentos e lhe deixou fora das pistas por vários meses.
O acidente esquentou os debates sobre a segurança nos cockpits abertos tanto na F1 como em outras categorias, e representou um divisor de águas na carreira do piloto brasileiro. O Projeto Motor vai contar em detalhes o que aconteceu.
A temporada de 2009 não vinha sendo fácil para Felipe Massa. Ele havia acabado de ser vice-campeão da F1, em 2008, mas depois sofreu com as adaptações de regulamento para 2009, quando a Ferrari perdeu terreno e ficou de fora da luta pelas vitórias.
Porém, em termos de performance individual, Massa conseguia momentos de destaque. Ele havia acabado de obter o seu primeiro pódio no ano, na Alemanha, e já tinha grande vantagem no campeonato sobre seu parceiro, Kimi Raikkonen, se estabelecendo como a figura mais forte da Ferrari.
No dia 25 de julho, a F1 realizava a classificação para o GP da Hungria. Nos instantes finais do Q2, quando o cronômetro da fase já estava zerado, Massa ocupava a sexta posição e estava virtualmente garantido no Q3, e em volta de desaceleração retornando aos boxes. No entanto, de repente as câmeras filmaram o brasileiro estampado de frente na barreira de pneus na Curva 4.
O acidente
Logo de cara, ficava claro que se tratava de um lance no mínimo esquisito. Pelas câmeras onboard, era possível ver que Massa simplesmente passou reto, em uma trajetória incomum. O piloto repentinamente parou de responder e passou a pressionar ao mesmo tempo o freio e o acelerador, sendo que ele sequer tira as mãos do volante – indicativos de que ele estava inconsciente antes mesmo do impacto com a barreira de pneus. E Massa continuou pisando no acelerador depois de o carro parar.
Era algo tão incomum que Rob Smedley, engenheiro de Massa na Ferrari, disse que o brasileiro provavelmente esbarrou no botão do rádio, e que ele conseguia ouvir o piloto gemendo em agonia. Inicialmente, Smedley até pensou que Massa havia sofrido um infarto.
O piloto permaneceu imóvel dentro do cockpit até ser resgatado pela ambulância, o que aumentava a preocupação de todos que acompanhavam a cena. Mas, pouco depois, o mistério foi solucionado, o que comprovou que foi de fato um acidente para lá de incomum. Uma mola havia escapado da Brawn GP de Rubens Barrichello, que vinha imediatamente à frente de Massa na pista. E a peça atingiu em cheio o capacete do piloto da Ferrari.
Esta mola se soltou devido a uma falha em um parafuso, pesava aproximadamente 800g, e ficava situada entre a suspensão e a caixa de câmbio. Após se soltar, ela passou pela roda do carro de Barrichello, o que a acelerou e a jogou em direção a Massa. O impacto aconteceu quando o ferrarista estava a 261 km/h, e aconteceu bem na divisão da viseira com o casco, o que provocou grandes ferimentos em sua cabeça.
Massa recobrou a consciência ainda no autódromo, mas depois foi transportado de helicóptero ao Hospital Militar de Budapeste, a cerca de 20 km da pista, onde foi novamente sedado. Ele estava com um grande corte acima do olho esquerdo, e foi diagnosticado com fraturas cranianas e uma concussão cerebral. Massa foi submetido a uma cirurgia, e ficou em coma induzido por 48h, com um estado de saúde considerado estável.
Pouco depois, ficou descartado o risco de morte, para alívio de todos, principalmente de sua esposa, Rafaela, que estava grávida. No entanto, ainda não estava claro se Massa conseguiria voltar a competir, já que não era possível estabelecer se o seu olho esquerdo tinha algum dano.
A recuperação de Massa
Quando recobrou a consciência, o brasileiro passou por diversos exames neurológicos e de visão, e o diagnóstico foi o melhor possível: ele não havia ficado com nenhuma sequela, o que abria caminho para uma recuperação completa e um retorno às corridas. Ele deixou o hospital no início de agosto, após nove dias internado.
Por mais que Massa tivesse inicialmente sondado um retorno ainda em 2009, ele precisava passar por todo um tempo de recuperação. Então, para substituí-lo, a Ferrari cogitou Michael Schumacher, teve uma experiência fracassada com o reserva Luca Badoer, como contamos no vídeo abaixo, e por fim usou Giancarlo Fisichella até o fim do campeonato. Nenhum deles conseguiu sequer pontuar com o carro de Massa.
Massa passou por um novo procedimento, uma cirurgia plástica em setembro, quando colocou uma placa de titânio para reforçar o seu crânio. No dia 12 de outubro, retornou ao volante de um carro de F1, guiando uma Ferrari de 2007, com pneus de GP2, no circuito de Fiorano.
Smedley garantiu que logo de cara dava para ver que Massa era exatamente o mesmo piloto de antes do acidente. Porém, sua carreira não teve o mesmo sucesso dali em diante. Massa retornou às corridas em 2010, e nunca mais venceria um GP de F1. Uma de suas maiores chances veio exatamente um ano após o acidente na Hungria, em Hockenheim, quando acatou ordens da Ferrari para seu novo parceiro, Fernando Alonso, vencer. E também já contamos esta história no vídeo a seguir:
De qualquer forma, o acidente de Massa na Hungria esquentou o debate sobre a segurança dos cockpits abertos, até porque tudo aconteceu apenas seis dias depois da morte de Henry Surtees, na antiga F2, quando o jovem inglês foi atingido por uma roda na cabeça.
Em 2012, os capacetes da F1 passaram a contar com um reforço, uma película de zylon justamente entre o casco e a viseira, local atingido pela mola em 2009. Esta proteção foi incorporada ao casco na especificação atual dos capacetes, introduzida em 2019.
Já o halo, introduzido em 2018, foi concebido pensando em peças grandes, como aconteceu com Surtees, embora os estudos da FIA indiquem que ele provavelmente teria um impacto positivo caso estivesse no carro de Massa em 2009.
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