Nelson Piquet conquistou dois de seus três títulos na F1 pela Brabham
(Foto: Reprodução)

Do triunfo à falência: como a Brabham desapareceu do mapa da F1?

O nome Brabham é um dos mais lendários da história da F1, tanto pelos feitos de seu fundador, Jack Brabham, como também pelo período dos dois títulos mundiais de Nelson Piquet.

Em sua passagem pela categoria, a equipe deixou sua marca com criatividade e eficiência, o que é lembrado com reverência até os dias de hoje. Porém, a Brabham deixou a F1 de maneira melancólica. Mas como este nome tão tradicional saiu de cena?

Para entender o que aconteceu, precisamos repassar toda a história da Brabham e entender as suas diferentes fases. A operação foi fundada pelo lendário Jack Brabham e por seu parceiro de longa data Ron Tauranac. E daí vem a sigla “BT”, que batiza todos os carros do time (Brabham-Tauranac). Sua primeira temporada na F1 foi em 62, e nesta fase inicial ela levou os títulos de 66 e 67, fazendo com que Jack Brabham fosse o único piloto da história da F1 a conquistar um campeonato com sua própria equipe.

Ao fim de 70, Brabham deixou a F1, então a empreitada ficou apenas com Tauranac em 71. Mas, ao término daquele ano, ele vendeu a Brabham a um novo proprietário, um astuto inglês chamado Bernie Ecclestone.

Sob o comando de Ecclestone, a Brabham construiu nos anos seguintes um time dos sonhos, tanto na parte de gestão como dentro do cockpit. Foi um período marcado por criatividade e inovação, mas os grandes frutos mesmo vieram nos anos 80, com dois títulos mundiais de Nelson Piquet, e usando motores diferentes (Ford e BMW).

Mas, neste meio tempo, muita coisa acontecia no bastidores. Em uma disputa pelo controle comercial da F1, Ecclestone assumiu o comando da FOCA, a Associação dos Construtores, e cada vez mais depositava ali o seu esforço. Com isso, a Brabham começou a perder espaço.

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Começo da derrocada da Brabham

O time sofreu com algumas decisões que não deram certo, como a de usar pneus Pirelli em 85, e o carro-skate de 86, sobre o qual já falamos em vídeos no nosso canal no YouTube. A morte de Elio de Angelis com este carro em um teste em Paul Ricard foi outro baque gigantesco para a equipe.

Mas a pá de cal veio em 87, quando a parceira BMW anunciou que deixaria a F1 no ano seguinte. Com isso, a paciência de Ecclestone se esgotou. Mais concentrado nos negócios da F1 e sem conseguir um motor à altura para substituir a BMW, o dirigente anunciou, às vésperas da temporada de 88, que a Brabham faria uma pausa em suas operações e não participaria daquele campeonato.

Fora a F1, o corpo técnico da Brabham não ficou parado e trabalhou no projeto do Procar da Alfa Romeo. Mas, nos bastidores, havia muita mobilização. Ao fim daquele ano, a Brabham anunciou que retornaria à F1 em 89, e com um novo dono. Ecclestone vendeu o time para o empresário suíço Walter Brun, que era um dos fundadores da equipe Eurobrun, uma das nanicas daquela época. Mas Brun não ficou por muito tempo, e pouco depois vendeu a operação ao compatriota Joachim Luthi, um investidor de passado pouco conhecido.

Então, a Brabham estava de volta: com um novo dono, motores Judd V8 e com uma nova dupla de pilotos. E, por ter ficado de fora do ano anterior, a Brabham precisou participar das pré-classificações, mas o modelo BT58 era competitivo e rendeu momentos fortes.

Os destaques foram o pódio de Stefano Modena em Mônaco, e os oito pontos marcados pelo italiano e por Martin Brundle. Um ótimo recomeço, certo? Hum, nem tanto.Novamente havia muita coisa acontecendo nos bastidores. Ainda em 89, o proprietário Joachim Luthi foi preso por evasão fiscal, o que deixou a Brabham novamente em posição frágil, e perto de fechar as portas. Mas, para a temporada de 90, ela foi adquirida pelo grupo japonês Middlebridge.

Este grupo tinha uma equipe na F3000, e comprou a Brabham por meio de um financiamento com a empresa Landhurst Leasing, sendo que ela teria de pagar este financiamento ao longo dos anos seguintes.

Modena começou o ano com um bom quinto lugar em Phoenix, mas aquele foi o único momento alto da temporada. O time não anotou mais nenhum ponto, sendo que David Brabham, filho de Jack Brabham, sequer conseguiu se classificar para o grid em seis etapas

Então, muita coisa mudou para 91. Haveria uma nova dupla, com a volta de Martin Brundle ao lado de seu compatriota Mark Blundell, além da chegada de motores Yamaha V12. Mas, dentro da pista, não mudou tanto assim. A Brabham não tinha nem velocidade, nem confiabilidade, sendo que o time passou o primeiro semestre inteiro sem pontuar.

Com os maus resultados recentes, a Brabham foi de novo rebaixada a participar das pré-classificações. Ela conseguiu salvar três pontinhos na fase final do ano, mas já não estava nem perto de ter a velha competitividade.

O último capítulo da história

Chegando em 92, a Brabham era apenas uma sombra do que costumava ser. Com grande fragilidade financeira, a equipe nem trouxe um carro novo, e sim competiu com o modelo de 91 atualizado, e adaptado para os motores Judd.

A dupla de novo mudou: estariam a bordo o belga Eric Van de Poele e o japonês Akihiko Nakaya, mas este não conseguiu a Superlicença para competir. Em seu lugar, entrou a italiana Giovanna Amati, que tinha um currículo bastante modesto no automobilismo, mas que levou US$ 3 milhões para ajudar no orçamento do time. Estava clara a nova realidade da Brabham.

Van de Poele se classificou para uma única corrida, largando e chegando em último na África do Sul. Amati foi demitida depois de três tentativas frustradas de largar, substituída por Damon Hill – piloto de testes da Williams e que havia competido com a equipe da Middlebridge na F3000.

Mas o problema ia muito além do mau rendimento na pista. Por exemplo, quando chegou a Barcelona para disputar o GP da Espanha, os bens da Brabham chegaram a ser confiscados, pois a equipe ainda tinha dívidas pendentes do aluguel do motorhome que usou em uma corrida do ano anterior. Já em Mônaco, a dívida era sobre os motores da Judd, sendo que a fornecedora retirou componentes eletrônicos da unidade, e só os instalaria de volta quando a situação fosse resolvida.

Damon Hill sofreu na Brabham de 1992 antes de ter sua grande chance na Williams
Damon Hill sofreu na Brabham de 1992 antes de ter sua grande chance na Williams (Foto: Reprodução)

O cenário já parecia quase terminal, mas houve um último sopro de vida. Novos patrocinadores entraram a bordo, o que inclusive acrescentou o rosa aos carros. Um destes novos patrocinadores foi a banda japonesa de heavy metal Seikima-II, sendo que o vocalista desta banda criou o “Brabham Aid”, um grupo para apoiar as finanças da equipe e evitar sua falência.

Hill até conseguiu se classificar para o GP da Grã-Bretanha, fazendo sua estreia na F1, mas os dias da Brabham já estavam contados. Van de Poele deixou a equipe, então apenas o inglês foi inscrito para o GP da Hungria. Lá houve novos problemas com a Judd por falta de pagamento pelos motores, mas Hill ainda assim conseguiu a façanha de colocar a Brabham no penúltimo lugar do grid, e receber a bandeira em 11º, que era o último lugar. Aquela seria a última corrida da Brabham na F1.

No fim de agosto de 92, a Middlebrige não conseguia pagar mais as suas dívidas à Landhurst Leasing, que também declarou falência. Assim, a Brabham foi obrigada a encerrar suas atividades e deixar a F1. Ainda houve tentativas de adquirir o time e revivê-lo para 93, mas sem sucesso.

Então, a lendária Brabham encerrou sua participação na F1 com 394 largadas, 35 vitórias, dois títulos de construtores e quatro de pilotos.

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