(Foto: Joe Portlock / Getty Images/ F2)

Como os pilotos brasileiros da base da F1 se saíram em 2020

Em 2020, o Brasil interrompeu de forma momentânea seu hiato de participações na F1, com Pietro Fittipaldi andando nos GPs de Sakhir e de Abu Dhabi. O brasileiro correu pela Haas em substituição a Romain Grosjean, que sofreu um grave acidente na etapa do Bahrein.

Só que sempre foi bastante claro que Fittipaldi tinha poucas ou nenhuma chance de andar em 2021 e por isso sua passagem era apenas um alento ao público do país, que não vê um representante brasileiro de forma regular na F1 desde a aposentadoria de Felipe Massa, ao final de 2017.

Apesar deste momento difícil na categoria principal, existem sinais na base para animar quem torce pela chegada de um novo piloto do Brasil à F1 nos próximos anos. Representantes brasileiros conquistaram bons resultados e ganharam destaque.

Mesmo assim, o caminho não é fácil. Inclusive, com exemplos dos que se deram bem dentro das pistas, porém, passam dificuldades para garantir um programa competitivo para 2021, por conta da falta de patrocínio.

O Projeto Motor selecionou alguns dos pilotos brasileiros que estão nas principais categorias de base que levam à F1 para contar como foi o 2020 deles. Importante destacar que vamos falar dos casos principais e já mais avançados, e não de todos os jovens condutores espalhados pelo mundo.

F2: Drugovich, Piquet e Samaia

Vamos começar pela categoria de acesso mais próxima da F1. O Brasil teve três representantes na F2 em 2020. Dois, Pedro Piquet e Guilherme Samaia, não conseguiram se destacar.

O filho do tricampeão mundial Nelson Piquet terminou na zona de pontuação apenas duas vezes e fechou o ano com três pontos no campeonato, enquanto seu companheiro na equipe Charouz, Louis Delétraz, somou 134. Pela Campos Racing, Samaia ficou zerado contra os 48 pontos de Jack Aitken.

Por outro lado, Felipe Drugovich foi um dos bons destaques da temporada. Pela mediana MP Motorsports, o paranaense estreou na F2 de forma um pouco inconstante do ponto de vista de pontuação, com 121 e a nona colocação na classificação geral, mas seu desempenho nas provas em que o time se achou no acerto impressionou a todos.

Felipe Drugovich, pela MP Motorsport na F2 (Foto: Rudy Carezzevoli/Getty Images/F2)

Para se ter ideia, Drugovich conquistou três vitórias (duas nas corridas de curtas de domingo e uma na longa de sábado), o mesmo número do vice-campeão Callum Ilott e do futuro piloto da Alpha Tauri, Yuki Tsunoda, e uma a menos do que o piloto que mais ganhou no ano, Robert Shwartzman. O campeão Mick Schumacher venceu apenas duas vezes. Drugovich ainda cravou uma pole (largou três vezes na primeira fila) e subiu ao pódio em um total de quatro oportunidades.

Seu desempenho contra companheiros de equipe também foi avassalador. Na maior parte do ano, ele correu ao lado do experiente Nobuharu Matsushita, que fez sua quarta temporada na F2/GP2, até a 18ª prova de 2020. Neste ponto, ele tinha 79 pontos contra 42 do japonês. Nas três últimas rodadas duplas, ele teve como parceiro Giuliano Alesi (filho do ex-F1 Jean Alesi) e marcou nestas provas 42 pontos contra quatro do francês.

Drugovich já anunciou que não só permanece na F2 em 2021 como irá correr pela equipe UNI-Virtuosi, uma das mais fortes do grid nos últimos anos. Em 2020, ela levou Ilott ao vice-campeonato e terminou também na segunda posição no campeonato de equipes, mesma posição em que ela fechou 2019.

F3: Fittipaldi e Fraga

Dois brasileiros participaram na FIA F3 em 2020. Nenhum dos dois conseguiu grande destaque se olharmos para a tabela de classificação, mas a campanha de ambos merece ponderações, além de gerarem boas expectativas para 21.

Tanto Enzo Fittipaldi (irmão de Pietro) quanto Igor Fraga fizeram suas estreias na FIA F3. Fittipaldi andou pela equipe HWA, um time de mediano para bom, e terminou na 15ª colocação com 27 pontos.

Seu companheiro mais forte foi Jake Hughes, que fechou a classificação em sétimo com 111,5 pontos, mas fez sua terceira temporada na F3/GP3 e tem 26 anos, sete a mais que o brasileiro. O terceiro piloto da HWA, Jack Doohan, filho do pentacampeão da MotoGP Mick Doohan, terminou o ano zerado, também fazendo sua primeira temporada na F3.

Fittipaldi se destacou por algumas corridas de recuperação, tendo ainda dificuldades nas classificações. Foi um dos pilotos que mais fez ultrapassagens no ano. Ainda não existe nada confirmado, mas a tendência é que Enzo, piloto da Academia Ferrari, siga na mesma equipe para 21.

Enzo Fittipaldi já faz parte da Academia Ferrari há três temporadas (Foto: Sebastiaan Rozendaal / Dutch Photo Agency/RF1)

Já Fraga teve um 2020 ainda mais difícil pela fraquíssima Charouz. Ele marcou um dos cinco pontos de toda equipe no campeonato e brigou com o time antes da última etapa, sendo impedido de participar.

O horizonte, no entanto, parece clarear para o brasileiro, campeão mundial de automobilismo virtual pela FIA. Apesar de não ter nada confirmado ainda, ele participou de toda pós-temporada pela boa equipe Hitech, um dos times que vence corridas na atual versão da categoria, e tudo indica que um acordo deve ser anunciado em breve para 21. Fraga também faz parte do programa da Red Bull de jovens pilotos.

F-Regional Europeia: Petecof

A situação de Gianluca Petecof é a oposta das dos conterrâneos da F3. O paulista vem de duas boas temporadas dentro da pista, em que foi vice da F4 Italiana em 2019 e terminou com o título da F-Regional Europeia (antiga F3 Europeia).

Na briga pelo campeonato, o brasileiro bateu os companheiros na equipe Prema (um dos melhores times de base da Europa) Arthur Leclerc (irmão de Charles Leclerc) e Oliver Rasmussen. Mesmo com o resultado, porém, o time irá promover Leclerc para operação na FIA F3, já que Petecof não conseguiu o patrocínio necessário para o orçamento na equipe em 2021.

Petecof perdeu patrocínios importantes, mas com título na F-Regional, luta para avançar para a FIA F3 em 2021 (Foto: Prema)

Importante ressaltar que tanto o brasileiro como Leclerc fazem parte da Academia Ferrari, que dá estrutura e ajuda com contatos e desenvolvimento, mas não investe nos pilotos neste nível. Assim, o monegasco acabou se tornando a escolha da Prema.

Petecof, no entanto, está trabalhando para conseguir a vaga em outro time da F3 e tem até o começo do ano que vem para levantar patrocinadores para oferecer um orçamento para um time competitivo. Como ponto a favor do brasileiro, com seus resultados nas últimas três temporadas, ele já tem os pontos necessários para a Superlicença da F1.

F-Renault Eurocup: Collet

A F-Renault Eurocup tem a mesma importância da F-Regional Europeia na escada das categorias de base ligadas à FIA. Ambas têm peso de competições regionais de continente e estão logo à baixo da FIA F3, que compete nos finais de semana da F1. Para 2021, as duas já anunciaram a fusão, o que deve fazer com que o campeonato unido se torne ainda mais forte.

Depois do título da F4 Francesa e o vice na F-Renault Eurocup, Collet espera subir para a FIA F3 em 2021 (Foto: Klaas Norg / Dutch Photo Agency/Renault)

Em 2020, Caio Collet fez sua segunda participação no campeonato patrocinado pela Renault, montadora da qual ele faz parte do programa de pilotos. Depois de ser o melhor estreante e quinto na classificação geral em 2019, o paulista brigou pelo título durante todo o ano de 2020 contra o francês Victor Martins.

Nas últimas quatro rodadas duplas, Collet não conseguiu manter a regularidade, enfrentou uma série de problemas mecânicos e se envolveu em alguns acidentes (alguns por puro azar e culpa dos adversários). Desta forma, ele acabou perdendo o ritmo da briga com o adversário, que ficou com o título com uma margem até considerável, de 348 pontos contra 304. Para se ter uma ideia de como os dois se destacaram, o terceiro colocado na classificação geral, o argentino Franco Colapinto, ficou com 213,5 pontos.

O caminho natural agora é subir para a FIA F3, mas Collet ainda não anunciou seu programa para 2021.

F4 Italiana: Bortoleto

Estrela no kart nas últimas temporadas, Gabriel Bortoleto realizou neste ano sua primeira experiência no automobilismo europeu na F4 Italiana. O brasileiro competiu pela equipe Prema, uma das mais fortes da base em diversas categorias do Velho Continente, e terminou na quinta posição.

Aos 16 anos, Bortoleto estreou no automobilismo em 2020 (Foto: Prema)

O piloto de 16 anos pecou um pouco pela inconstância durante o campeonato contra os principais rivais, mas mostrou uma melhora bastante visível na segunda metade da temporada. Ele somou no total uma vitória, cinco pódios e quatro pole positions.

Para 2021, ele já participou de testes na F-Regional/Renault Eurocup e apesar de ainda não ter anunciado seu programa, deve seguir para esta nova categoria como caminho natural.

FIA Girls on Track: Ayoub e Bassani

Dando prosseguimento ao seu programa de estímulo a mulheres no automobilismo, a FIA lançou em 2020 uma competição mundial para garotas. A vencedora será premiada com um contrato para 2021 com a Academia Ferrari e uma temporada paga na F4.

Julia Ayoub, Felipe Massa (presidente da Comissão Internacional de Kart da FIA) e Antonella Bassani (Foto: FIA)

Tudo começou em fevereiro com a análise de 70 currículos enviados por entidades nacionais. Em maio, 20 meninas de até 16 anos foram para Paul Ricard, na França, onde começaram a frequentar um programa de desenvolvimento com avaliações diárias, incluindo desempenho na pista com kart e fora da pista no relacionamento com mecânicos, engenheiros, imprensa e trabalhos físicos.

Semana a semana, a competição foi se afunilando com algumas meninas sendo eliminadas, e o número total de concorrentes foi diminuindo para 16, 12, 8 (nesta fase já com sessões de treinos e corrida em carros de F4) e depois apenas quatro.

E duas brasileiras conseguiram chegar à grande final: Antonella Bassani, de 14 anos, e Julua Ayoub, de 15. Elas enfrentam a francesa Doriane Pin e a holandesa Maya Weug, ambas de 16 anos.

A final, em Maranello, era para ter acontecido no final de novembro, porém, por causa do diagnóstico positivo de Covid de uma das competidoras europeias, o evento foi adiado para o começo de 2021.

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