Novo Corolla Toyota da Stock Car
Foto: Luís França/Stock Car

Carroceria de carros de rua e chassi tubular: conheça o novo Stock Car

Depois de uma longa espera pelas corridas adiadas por causa da pandemia, a Stock Car finalmente vai estrear seus novos carros. E o que o público vai ver a partir de 2020 parece um pouco a volta a uma era em que modelos de ruas vão para a pista, como era até o começo dos anos 2000.

A Stock Car fez um movimento bastante ousado ao trocar seu carro com o objetivo de atrair a participação de mais montadoras. A Chevrolet, tradicional parceira do campeonato desde sua formação, nos anos 70, segue na competição com seu modelo Cruze, e recebe agora a companhia da Toyota, que coloca o Corolla para correr nas pistas brasileiras em uma operação organizada pela divisão de competições argentina da marca. A parceria, inclusive, levará Rubens Barrichello para correr pela empresa na Super TC.  

Você pode estar se perguntando? “Mas lembro que não faz muito tempo que tivemos mais marcas, não?” Bem, realmente se você olhar, por um tempo considerável, entre 2005 e 16, a Stock Car teve a participação além da Chevrolet, da Mitsubishi, Volkswagen e Peugeot. Só que naquela época, os modelos eram todos iguais com uma adaptação da bolha em torno da estrutura tubular para ela se parecer aos olhos do público com os carros destas marcas. E esse “parecer” vamos colocar entre aspas de forma bem destacada.

O projeto atual é bem diferente, com visual muito mais próximos dos modelos de rua, usando até mesmo partes da carroceria original dos carros direto da linha de montagem. O que o fã vai ver na pista é algo muito mais parecido do que é vendido nas concessionárias. Bem, pelo menos na aparência.

O novo modelo causou algumas confusões e até manchetes de sites e revistas especializadas um pouco empolgadas o novo sistema. Afinal, a Stock Car voltou a ter um carro monobloco? Não exatamente. Mas sim, o bloco dos modelos passou a ser utilizado. Achou estranho? Vamos explicar.

A estrutura do novo Stock Car

Toda a ideia em torno do novo Stock Car era deixar os carros mais parecidos com os modelos de rua e assim atrair montadoras para participarem. Por isso, a categoria resolveu que era hora de abandonar a velha bolha de fibra e voltar a usar carros de lata, com o monobloco dos veículos de rua.

Só que, por outro lado, simplesmente colocar carros de rua na pista tiraria parte considerável do apelo esportivo e de imagem que a Stock Car tem, com veículos velozes e de características bem próprias, diferente dos utilizados em campeonatos menores como Copa HB20 ou competições regionais.

Chevrolet Cruze do atual tricampeão da Stock Car, Daniel Serra
Chevrolet Cruze do atual tricampeão da Stock Car, Daniel Serra (Foto: Duda Bairros /Stock Car)

O que fazer então? A Stock Car pegou o monobloco dos modelos Cruze e Corolla, fatiou e fez uma adaptação à estrutura tubular que ela já utilizava. Essas partes foram parafusadas ao chassi e assim você passa a ter assim um modelo misto, com parte do bloco e a estrutura tubular. Essa segunda, no entanto, segue como a principal responsável pela absorção das forças e torção, por isso, dizer que o carro usa um monobloco ou até que a estrutura é “mista” seria forçar bem a barra.

O monobloco é original em aço, retrabalhado e conjugado com componentes em material compósito. Partes como capô, para-choques e retrovisores, além de adaptações aerodinâmicas na carroceria seguem em fibra. Também foram adicionados itens como asa traseira e um redesenho das entradas de ar dianteiras, levando em conta as exigências de competição e de refrigeração dos freios e motor, que possuem características bem diferentes dos equipamentos vendidos comercialmente.

Eles mantiveram várias características originais dos veículos, como a abertura do capô (que deixa de ser uma peça removível), quatro portas e traseira fechada. Assim, o acesso à parte traseira do pelos mecânicos terá que ser feito pela porta traseira, diferente como era antes, em que toda a carenagem saía. Outra novidade é que os faróis agora são funcionais, ao contrário do que acontecia até ano passado quando eram apenas pintados na carenagem, e poderão ser utilizados. Ou seja, devemos ver pedidos de ultrapassagens a retardatários e comemorações de vitórias com eles em breve.

A maior adaptação da estrutura tubular foi a redução da distância entreeixos, de 2.800 mm para 2.740 mm, para ficar mais perto das medidas dos modelos Cruze e Corolla. Menos visível para o público, mas ainda uma mudança considerável para os olhos mais atentos, o assoalho dos carros ficou também mais simples. Ele será plano, sem tanto direcionamento do fluxo de ar que passa por baixo do carro até o difusor traseiro.

Embaixo do capô, o motor também é colocado mais recuado e baixo do que de um veículo convencional que é vendido comercialmente para ajudar no centro de gravidade e deixar o carro mais equilibrado.

Como o novo Stock Car é na pista

O carro não é só novo, mas uma mudança bastante brusca. Ele não representa uma evolução ou um passo à frente do antigo modelo. É simplesmente um animal completamente diferente. E os pilotos terão que se adaptar a isso.

E uma das novas caraterísticas que tem chamado a atenção de quem foi para a pista com ele é o peso. Com a adição de partes em aço do bloco dos modelos de rua, o carro ficou consideravelmente mais pesado. Além de um pouco menos veloz, isso significa que as freadas serão mais complicadas.

Além disso, o carro tem muito menos pressão aerodinâmica, já que seu desenho é mais próximo dos modelos de rua e menos preocupado com trabalho desta área voltado para competição. Claro que o Stock Car ainda é muito superior a qualquer veículo exclusivamente de rua, porém, a comparação aqui é com o que se tinha na categoria até o ano passado.

Os novos Cruze e Corolla da Stock Car
Os novos Cruze e Corolla da Stock Car (Foto Duda Bairros /Stock Car)

Vítor Genz foi um dos responsáveis pelos testes de desenvolvimento tanto do Cruze como do Corolla. Em um cálculo rápido de cabeça, ele apontou que completou por volta de 300 voltas com os carros nos circuitos de Curitiba, Velo Città e Interlagos. Em conversa com a reportagem do Projeto Motor, o piloto apontou que os competidores terão mais trabalho ao volante, principalmente nas freadas e no contorno das curvas.

“A aproximação das freadas ficou um pouco mais difícil”, contou. “Ficou um pouco mais trabalhoso para guiar. O caso tem um pouco menos de downforce e mais peso. O que é legal de guiar um carro que te desafia um pouco mais. É um carro que você vai levar ao limite e até passar um pouco. O entrosamento do piloto com o engenheiro vai ser importante desde o começo”, continuou.

Genz ainda pontuou que com o tempo de frenagem mais longo, esse novo carro deve proporcionar mais disputas e ultrapassagens nas freadas. Segundo relatos de outros pilotos ao Projeto Motor, o carro tem uma frente bastante no chão, o que o deixa um pouco traseiro. Por isso, devemos ver nas primeiras etapas e durante boa parte desta primeira temporada de sua introdução, muita gente perdendo a traseira do carro ou sendo obrigado a fazer correções grandes nas entradas de curvas.

Motores e a equalização dos modelos

Ao contrário do que sempre aconteceu na Stock Car, a categoria deixa de ter um motor único para todos os carros. Quer dizer que teremos uma disputa entre fabricantes? Não. A questão é mais comercial do que esportiva, já que a Toyota, por motivos óbvios, não quis utilizar um propulsor que tem sua base em um equipamento da Chevrolet, que inclusive saiu de um Camaro.

Assim, a fabricante japonesa resolveu que seu Corolla da Stock Car precisava ter pelo menos um bloco próprio. Ela encomendou a peça e os cabeçotes a uma preparadora nos Estados Unidos apenas para diferenciar dos utilizados pelo da Chevrolet, sem usar qualquer coisa que já tinha no mercado. É um projeto totalmente novo.

Os dois motores seguem a receita de um V8 de 6,8 litros, com 16 válvulas e injeção eletrônica padrão. A única diferença é a fabricação do bloco. Claro que mesmo assim, isso pode causar diferenças, então, foi feito um trabalho de equalização no dinamômetro através de mudança de mapeamento.

Segundo a ficha técnica oficial enviada pela categoria ao Projeto Motor, ambos produzem 460 cavalos a 6.150 RPM (a potência é limitada para que os motores durem toda temporada), com 600 Nm de toque a 5.000 RPM. No modo push to pass, dispositivo em que o piloto pode aumentar um pouco a força do propulsor por alguns segundos através de um acionamento no volante em momento determinados, a potência sobre para 550 cv (6.150 RPM) e o torque para 700 Nm (5.000 RPM).

Desde o começo, existiu uma preocupação grande da Stock Car em deixar os carros da Chevrolet e da Toyota o mais próximos possível para não diminuir a competitividade da categoria. Além disso, se um dos modelos começar a ter um desempenho pior, isso pode desencorajar a própria marca de continuar e outras de entrarem.

Genz explicou que os modelos passaram por uma revisão de projeto para um não ter vantagens aerodinâmicas sobre o outro, respeitando ao máximo as características visuais de cada carro. “Na primeira vez que os carros foram para a pista, a diferença de velocidade máxima ficou em menos de 2 km/h de um para o outro. Para uma categoria como a Stock Car isso ainda é bastante, mas era pouco considerando que era o começo de tudo. Conforme foi evoluindo, ficou praticamente igual. Agora, já depende muito do piloto”, explicou.

Os ajustes são feitos nas partes adaptadas da aerodinâmica (entrada e saídas de ar) dos carros e restritores de ar. Tudo para deixar o desempenho parecido e ninguém reclamar.

Calendário

O campeonato da Stock Car ainda passa por remarcações por conta da pandemia. O campeonato começa no final de semana de 24 a 26/07, em Goiânia. A Corrida do Milhão também está confirmada para o dia 23/08, em Interlagos. A ideia é ter pelo menos oito etapas durante o segundo semestre, mesmo que sem público nas arquibancadas.

“A intenção é que quatro deles tenham etapas disputadas também aos sábados, para repor as perdidas por conta da quarentena, de forma que no total tenhamos doze etapas válidas pelo campeonato de 2020”, explicou Carlos Col, diretor executivo da Vicar, promotora da Stock Car, em comunicado oficial da categoria.

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