
A chocante pole de Shwartzman e Prema na Indy 500
A edição de 2025 das 500 Milhas de Indianápolis já tem uma bela história que deve ser bastante comentada durante toda a semana que antecede a prova, no próximo 25. O russo-israelense Robert Shwartzman e a equipe Prema surpreenderam os principais nomes da categoria e conquistaram a pole para prova.
É lógico que se pensarmos em briga pela vitória, a pole position nem sempre significa muita coisa na Indy 500. E mesmo que represente, já que aponta um bom acerto do carro e um piloto confiante em sua máquina, a parte mais interessante deste caso não é sobre a indicação para a corrida em si, mas o feito realizado na tomada de tempos.
Tanto Robert Shwartzman quanto a Prema são estreantes em Indianápolis. Mais do que isso. Essa é a primeira vez que o piloto e a equipe correm em um circuito oval.
As 500 Milhas são a sexta etapa da temporada 2025 da Indy, na qual Shwartzman e a Prema estreiam na categoria. As outras cinco foram realizadas em mistos. O piloto de 25 anos teve dois resultados irrisórios como seus melhores até o momento, com os 18º lugares em Long Beach e no misto de Indianápolis. O resto das provas foram todas fora do top 20.
E mesmo com um outro piloto mais experiente na Indy no outro carro, Callum Ilott, a Prema também não estava conseguindo nada muito bom, já que o melhor resultado do britânico foi um 19º em São Petersburgo.
E se você colocar o feito em um contexto histórico, irá perceber que é mais comum surpresas nas corridas do que nas classificações da Indy 500. Enquanto dez pilotos já venceram a prova em seu ano de estreia, Shwartzman é apenas o terceiro a conquistar a pole como novato. A última vez que isso tinha acontecido foi há 43 anos, em 1982, com Teo Fabi.
Além disso de tudo isso, nada indicava que essa surpresa poderia acontecer em 2025. Os chassis utilizados em Indianápolis e ovais são diferentes dos que vão para os mistos. Isso quer dizer que essa é a primeira experiência do piloto e da equipe também com o carro que eles utilizaram.
Para piorar, a Prema teve atrasos em sua preparação. O time conseguiu terminar a montagem de seus chassis de oval apenas durante o primeiro dia de treinos livres em Indianápolis, o que inclusive lhe custou algumas horas de pista.
No teste aberto realizado há um mês, por ainda não ter seus carros prontos, a equipe italiana precisou colocar seus pilotos para andarem com os chassis de circuitos mistos. A ideia foi de pelo menos dar alguma experiência para a operação dos mecânicos e seus pilotos, principalmente o novato Shwartzman.
Nos treinos durante a semana que antecedeu a classificação, nenhum dos carros da Prema apareceu entre os primeiros, sugerindo que eles brigariam apenas para fugirem do Bump (sessão entre os quatro piores da classificação em que o último fica fora da corrida).

Mas de repente, Shwartzman começou a emergir. No último treino livre antes da classificação, na chamada Fast Friday (Sexta-Feira Rápida), ele repentinamente emergiu em 13º. Como ele ainda não tinha passado de um 28º lugar durante os ouros treinos da semana, era difícil saber se a posição representava uma evolução do carro ou simplesmente um cenário circunstancial daquela sessão.
A resposta veio no final de semana. O israelense cravou um sexto lugar na primeira classificação e entrou no Fast 6, que junta os seis primeiros para uma tomada valendo a pole. E na decisão de domingo, ele chocou o mundo do automobilismo ao conquistar a pole, superando equipes mais fortes como Ganassi e McLaren, que também estavam na briga.
Único brasileiro nesta edição da prova, Helio Castroneves, que corre durante o ano apenas nas 500 Milhas pela equipe da qual é sócio, a Meyer Shank Racing, larga em 22º.
Quem são Shwartzman e a Prema
Quem acompanha categorias de base europeias provavelmente conhece a Prema melhor até do quem curte mais a Indy e o automobilismo americano. A equipe foi fundada em 1983 por Angelo Rosin e Giorgio Piccolo em Vicenza, na Itália.
Ela se notabilizou como uma grande produtora de talentos na base, não só através de seu próprio programa de formação, mas também pela parceria com times de F1 como a Ferrari, Mercedes e a Red Bull, que encontraram na Prema uma casa para cultivarem seus jovens pilotos.
Por seus carros passaram pilotos como Charles Leclerc, Oscar Piastri, Oliver Bearman, Andrea Kimi Antonelli, Pierre Gasly, Lance Stroll, Esteban Ocon, Kamui Kobayashi, Mick Schumacher, entre outros.
Atualmente, o time alinha 19 pilotos em diversas categorias como F4, Freca, FIA F3, FIA F2, F1 Academy e na Indy. E isso considerando apenas o nome Prema, pois o time está hoje sob guarda-chuva da holding DC Racing, proprietária da Iron Lynx e Iron Dames, que competem em diversas categorias de GT, protótipos e endurance na Europa e nos EUA.
Nos últimos anos, a Prema se preparou para dar o salto para a Indy. Para não cometer os erros de outra organização de base europeia, a Carlin, que também tentou competir na categoria americana, mas não obteve sucesso, o time italiano investiu pesado em sua estrutura.
A equipe construiu uma base em Fishers, que fica a pouco mais de 30 Km do circuito de Indianápolis. A estrutura tem cerca de 9 mil metros quadrados e com espaço já planejado para uma futura expansão pensando não apenas na evolução da equipe da Indy, mas uma união da operação com o time irmão de IMSA da Iron Lynx.
O CEO da operação americana da Prema é Piers Phillips, que também já presidiu as equipes Schmidt Peterson (que mais tarde foi comprada pela McLaren) entre 2015 e 18 e da Rahal Letterman entre 2018 e 22.
O time entrou na Indy utilizando os motores Chevrolet e convocou como pilotos dois nomes europeus que passaram em algum momento por seus times de base. Curiosamente, ambos também foram formados na Academia Ferrari.
Callum Ilot competiu pelo time em 2017 na FIA F3. Ele seguiu nas categorias de base da F1 até 2020, quando fechou sua terceira temporada na F2. Em 21, ele chegou a ser piloto reserva da Alfa Romeo e até mesmo participou de treinos livres dos GPs de Portugal e Áustria.
No entanto, sem grandes oportunidades na F1, o britânico migrou para a Indy ainda em 21, para correr as últimas três corridas pela Juncos, com quem seguiu até o final de 23. Em 2024, ele fez algumas participações pela McLaren, incluindo as 500 Milhas de Indianápolis. Foi contratado para a estreia da Prema em 25 como o piloto com alguma experiência na Indy.

No outro cockpit, o time apostou em Shwartzman, piloto nascido em Israel, mas que cresceu na Rússia. Inclusive, ele competia no automobilismo com a licença russa até a invasão da Ucrânia pelo país.
Como atletas russos foram proibidos de representarem a nação em esportes que estão sob o guarda-chuva do Comitê Olímpico Internacional, o que inclui a FIA, Shwartzman optou por trocar sua licença para Israel.
O piloto era considerado um dos bons talentos da Academia Ferrari. Campeão da FIA F3 em 2019, nos dois anos seguintes, correu na F2 com um quarto lugar e o vice-campeonato de 21, superado por Oscar Piastri.
Em 22 e 23, ele participou de quatro treinos livres da F1 como piloto novato da Ferrari. Em 24, repetiu a dose com mais duas participações, porém, pela Sauber. Nesta temporada, ainda como piloto de Maranello, correu no WEC na categoria principal dos Hipercarros.
Ele deixou a Ferrari após oito anos para assinar com a Prema e competir na Indy em 2025.
O que esperar da corrida
Diante de tantas novidades tanto para Shwartzman quanto para a Prema, ainda é difícil saber o que esperar agora do conjunto na corrida. O próprio piloto admitiu em entrevistas que terá que ser bastante cauteloso, pois nunca correu em um oval antes.
“Eu não sei exatamente como defender ou como ultrapassar. Terei que aprender durante a prova”, comentou o Shwartzman em entrevista ao site Motorsport.com.
Nos últimos anos, ao contrário de outros momentos da história, por conta da maior dificuldade para se fazer ultrapassagens, os pilotos têm sido mais agressivos nas 500 Milhas desde o início da prova. Em 2025, existe uma questão extra que é a estreia das unidades híbridas na prova, o que pode mudar um pouco a dinâmica da corrida.
De qualquer maneira, em meio a tantos feitos improváveis nos últimos dois dias tanto de Shwartzman quanto da Prema, é difícil prever como estará o carro para ritmo de corrida. E como a falta de experiência, por mais que o time conte com parceiros técnicos, engenheiros e funcionários com participações na prova, pode pesar na hora da prova e das chamadas estratégicas.
De qualquer forma, piloto e equipe certamente já superaram qualquer expectativa que poderiam ter para a estreia nas 500 milhas de Indianápolis.
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