2 dias na pista e 4 voltas: entenda os desafios do qualy da Indy 500
A Indy 500 é uma prova bastante única por diversas questões. E um dos fatores que a diferencia de outras corridas, seja da Indy e de qualquer outra categoria, é o seu formato de classificação.
O piloto que conquistar a pole vai competir por dois dias dentro da pista, em sessões que duram horas. Dessa forma, ele precisa estar com o carro bem ajustado, confiante para andar acima dos 370 Km/h e pronto para enfrentar mudanças climáticas, das condições do traçado e possíveis surpresas dos adversários.
O sistema já passou por mudanças no passado em alguns detalhes, mas basicamente segue um ritual já bastante conhecido pelos que acompanham cada edição da Indy 500. Uma mudança que fez a abordagem de competidores e equipes mudar nos últimos anos é a diminuição drástica do tempo de preparação.
Há algumas décadas, os pilotos ficavam praticamente o mês inteiro em Indianápolis realizando sessões livres se preparando para a prova, o que dava tempo também para ajustes para a classificação com bastante experimentalismo e detalhamento. As coisas não são mais assim.
A programação da Indy 500 agora é bem mais curta. Antes da classificação, acontecem apenas três dias de treinos, com longas sessões que duram toda a tarde. Com foco total em classificação, é possível dizer que existe apenas a Fast Friday (a Sexta-Feira Rápida), um dia antes do início da tomada de tempos.
A definição do grid de largada acontece no final de semana anterior ao da corrida (em 2023, nos dias 20 e 21 de maio). No sábado, os pilotos têm a pista à disposição por 6h50 para a primeira fase da classificação. Eles precisam entrar para cada tentativa e completarem quatro voltas rápidas consecutivas que irão criar a média que será usada para o posicionamento. Para evitar que um atrapalhe ou ajude o outro, cada piloto entra sozinho na pista.
Nesta sessão, que vai das 11 horas em Indianápolis (12h de Brasília) até 17h50 (18h50 de Brasília), são definidos os 12 pilotos que irão para a segunda fase da busca pela pole, que acontece no domingo. Quem ficar de 13º a 30º, tem sua colocação no grid definida.
Os competidores que ficarem entre 31º e 34º também terão que retornar à pista no dia seguinte, porém, para se garantirem no grid, que tem 33 vagas. Ou seja, um dos inscritos de 2023 não irá participar da prova.
No domingo (21), a disputa começa com os 12 mais rápidos da sessão de sábado. Desta vez, cada piloto tem uma tentativa, começando do 12º para o 1º. Os seis primeiros passam à final, enquanto do 7º ao 12º conhecem sua posição no grid.
Em seguida, acontece o Bump, em que os quatro piores do sábado irão brigar pelas três últimas vagas no grid durante uma hora, podendo fazer mais de uma tentativa (sempre de quatro voltas).
O domingo finalmente termina com o “Fast Six”, em que os seis classificados das sessões anteriores definem a pole e as duas primeiras filas do grid (em Indianápolis, cada fila é composta por três carros). Cada um faz uma tentativa (de quatro voltas) sendo que o mais rápido da sessão anterior vai por último.
Estratégia e atenção com variações da condição da pista
Para um formato tão cheio de armadilhas, equipes traçam estratégias para os seus pilotos estejam na pista no melhor momento e que o acerto de seus carros combinem com as condições que irão enfrentar.
Em conversa com o Projeto Motor, que faz cobertura in loco da Indy 500 de 2023, Takuma Sato, que já venceu duas vezes a corrida, explicou a importância do trabalho de equipe entre os pilotos especialmente na questão de trocar impressões sobre a evolução da pista. O japonês da Ganassi disse que no sábado, normalmente, o primeiro da equipe a entrar na pista faz uma avaliação inicial do traçado e passa os dados para os companheiros.
Assim, no final da tarde, quando a temperatura está mais baixa, todos fazem suas tentativas para buscar o melhor posicionamento dentro dos 12 melhores. No domingo, quem normalmente pode entrar mais tarde, tem vantagem.
“Quem consegue fazer o melhor trabalho vai ter uma oportunidade melhor no domingo. Claro que no domingo temos o Fast 12 e o Fast 6, então, você ainda tem outra chance para mostrar o seu desempenho. Mas o importante é correr como uma equipe. Se é uma equipe de um carro, fica muito difícil”, disse Sato ao Projeto Motor.
De qualquer maneira, o acerto básico precisa estar pronto antes da classificação após os treinos e simulações. Dentro da sessão decisiva, segundo Sato, é uma questão apenas de ajustes para responder às variações do vento e temperatura do ar e asfalto.
“Assim que a classificação começa, você pode mexer apenas nas asas e na pressão dos pneus. Todo o resto do acerto é feito na garagem, então, não será possível fazer de novo. Mas quando você estiver no Fast 6, o acerto já estará otimizado. Então, se você consegue tirar algo a mais, vai depender dos dados de momento”, apontou.
“Durante o Fast 6, a temperatura cai a cada minuto. E a cada minuto que a temperatura cai nesse ano vai ajudar o carro a andar mais rápido”, completou, enfatizando a importância de ser o último a fazer a tentativa pela pole.
Preparação prévia na Indy 500 é essencial
Segundo piloto com mais poles na história da Indy 500 (5), Scott Dixon afirmou ao Projeto Motor que confiança no carro e no acerto são essenciais para não enfrentar problemas dentro da classificação, quando grandes mudanças já não são possíveis. Por isso, ele aponta que o trabalho realizado nos poucos treinos antes do final de semana é tão importante.
“É muito da preparação que você faz. Ontem (quinta-feira) foi importante, hoje (sexta-feira) é muito importante. Precisamos entender o que precisamos fazer, o que precisamos cumprir em cada tentativa”, explicou.
“Sentir-se confortável é a coisa mais importante. Estando confiante, acho que na equipe, no pacote inteiro, ter certeza de que você faça as mudanças corretas [no carro]. Por sorte, na atualidade temos muitas ferramentas para prever o que vai acontecer com o clima, prever a pressão aerodinâmica que vamos precisar. Lá quando eu comecei era um pouco diferente e mais difícil de saber”, seguiu o neozelandês de 42 anos.
E por isso que as 18 horas de treinos acumulados entre a quarta e sexta-feira antes da classificação são tão essenciais. Segundo Will Power, vencedor da prova em 2018, chegar ao momento da tomada de tempo já entendendo os limites do acerto do modelo leva tempo e exige muito tempo de avaliação por parte de piloto e engenheiros.
“Encontrar aquela velocidade a mais que você está procurando é difícil. Encontrar a pressão aerodinâmica. Toma tempo para fazer isso, para entender o que o carro está fazendo em quatro voltas. E você está tentando pegar pista limpa [nos treinos] também. Você não quer ver um carro que causa turbulência. Fica difícil julgar quais as marchas que você deve usar”, pontuou.
“Ao redor desse lugar, tem muitos detalhes, mudanças pequenas que você pode fazer. E você não pode fazer uma mudança grande de uma vez. Por isso, toma muito tempo”, concluiu.
É importante largar na frente na Indy 500?
Já foi menos. Mas, segundo os pilotos com que o Projeto Motor conversou, com os atuais carros da Indy, estar na parte da frente do grid abre muitas oportunidades para a corrida.
A questão é parecida com que a F1 já enfrentou. A turbulência causada pelos modelos dificulta a perseguição de perto em uma pista como Indianápolis, um oval que possui características que exigem um nível mínimo de pressão aerodinâmica. Isso diminui a chance de pilotos fazerem grandes corridas de recuperação como já aconteceu no passado, a não ser em um golpe de sorte na estratégia com bandeiras amarelas.
A Indy realizou ajustes para a edição de 2023 da Indy 500, aumentando inclusive as opções de trabalho aerodinâmico para as equipes, especialmente nas Bargeboards e difusores. Porém, mesmo assim, para Graham Rahal, estar entre os primeiros desde o começo garante um controle melhor sobre estratégia e a corrida como um todo.
“Acho que a Indy fez um bom trabalho nos ajustes aerodinâmicos. Esse ano está mais fácil ultrapassar e seguir do que nos últimos. Quando você é o quarto ou quinto carro da fila, ano passado você estaria em grande problema para permanecer próximo. Esse ano está mais aberto, você consegue abrir caminho”, elogiou o americano da RLL.
“Mas naturalmente, quanto mais para frente você estiver, mais você conseguirá controlar o seu dia. Você não vai precisar se preocupar em estar exposto na volta 150. Se você conseguir estar na frente e ficar por lá, poder controlar o seu ritmo, com certeza ajuda”, continuou.
Diante deste cenário, ao serem questionados sobre qual é a posição máxima do grid para se estar na briga pela vitória desde o começo da prova, os experientes Dixon e Power concordaram que ficar fora dos 12 ou até mesmo 10 primeiros pode ser fatal.
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