Hamilton e Verstappen brigam pela ponta em Interlagos
(Foto: Pirelli)

Comissário no GP, Moreno fala de decisões sobre Hamilton em Interlagos

Em toda etapa da F1, a FIA leva quatro comissários que fazem as análises e julgamentos de possíveis punições. No GP de São Paulo de 2021, estavam entre eles dois ex-competidores do Mundial: o italiano Vitantonio Liuzzi, na vaga aberta para ex-pilotos, e o brasileiro Roberto Pupo Moreno, representando a associação nacional da corrida, no caso, a CBA. E os comissários acabaram ganhando muito destaque durante o final de semana por conta de questões envolvendo principalmente Lewis Hamilton.

Já na sexta-feira, veio a primeira questão. Após a classificação, o delegado técnico da FIA, Jo Bauer, informou que a asa traseira da Mercedes do piloto inglês não estava dentro do padrão exigido pelo artigo 3.6.3 do regulamento técnico.

O problema era na medida entre as duas lâminas do aerofólio que formam a peça quando o sistema de asa móvel (DRS) estava aberto. No caso, a distância deve ficar entre 10mm e 85mm. A distância entre as duas partes do carro do inglês estavam 0,2mm além da medida máxima. A partir daí, uma novela foi iniciada. Por ser uma simples questão de medida, teoricamente não precisando de uma interpretação, a demora para uma decisão chamou a atenção de muita gente.

Os comissários não só atravessaram a noite, como definiram a questão apenas na tarde seguinte, após o segundo treino livre, e apenas duas horas antes da corrida de classificação (sprint race). Hamilton acabou sendo excluído da classificação de sexta-feira e obrigado a largar em último na prova de sábado, que definiria o grid de largada do GP de domingo.

Em conversa com o Projeto Motor depois da corrida, Roberto Pupo Moreno explicou que a demora foi para aprofundar o máximo possível a análise do problema, ouvindo as argumentações da Mercedes antes de enquadrar a questão no regulamento de forma mais fria.

“Discutimos bastante até chegarmos a um denominador comum. Quisemos ser o mais justos seguindo as regras do livro da FIA”, disse Moreno. “O processo foi porque nós precisamos fazer a coisa mais justa possível. E acho que conseguimos chegar nisso. Se tivéssemos apressado, talvez não teria sido tão perfeita a decisão. Foi tão perfeita que ninguém apelou. Ouvimos [a Mercedes]. Fizemos reuniões. Antes [da decisão] ouvimos eles, depois eles pediram para ouvirmos outra pessoa. Foi uma coisa bem detalhada”, continuou o brasileiro.

Roberto Pupo Moreno foi comissário no GP de São Paulo presentando a CBA
Roberto Pupo Moreno foi comissário no GP de São Paulo (Foto: CBA)

Como Moreno explicou, um dos motivos que a decisão passou de um dia para o outro é que, depois de argumentações iniciais feitas pelo diretor esportivo da Mercedes, Ron Meadows, e do engenheiro chefe, Simon Cole, ambos em Interlagos, a equipe requisitou uma audiência por vídeo conferência com John Owen, projetista chefe do time, que não tinha vindo ao Brasil.

Assim, a FIA lacrou a asa traseira de Hamilton na noite de sexta e essa reunião aconteceu a partir das 10h30 da manhã do sábado, com duração de pouco mais de uma hora. Uma das questões levantadas pela Mercedes é que a asa traseira de Hamilton mantinha o mesmo desenho de outras etapas em que ela já tinha passado no teste. Além disso, que, em Interlagos, a medida só estava fora do padrão na região mais próxima das laterais da peça (na faixa ao centro, estava dentro do regulamento) e quando um peso era colocado sobre ela. Ou seja, em posição estática, estaria legal.

A Mercedes também alegou que pela pouca diferença, existia uma forte chance de a medida fora do padrão ter sido resultado de uma montagem errada ou algum dano sofrido já durante a sessão (aqui, inclusive, levantou-se a suspeita sobre a forma como Max Verstappen tocou na asa após a classificação dentro do parque fechado).

Ao final das reuniões com a Mercedes, o segundo treino livre da etapa, ao meio-dia do Brasil, já estava para ser iniciado. Os comissários então deixaram para fazer um detalhamento bem grande na decisão e assim documento só foi publicado no sistema da FIA algumas horas mais tarde, definindo pela desclassificação pelo simples fato do test com pesos ser definido por diretivas técnicas da FIA e que o carro no momento da inspeção, independente do motivo, estava fora das medidas de regulamento. O próprio Moreno explica que esse tempo foi importante para que a decisão não fosse depois contestada, como realmente a Mercedes não querer fazê-lo.

O embate entre Hamilton e Verstappen na corrida

Depois de todo esse alvoroço entre o sábado e domingo, parecia difícil que algo novamente poderia colocar os comissários no centro das atenções no GP de São Paulo. Mas na volta 48 da prova, Hamilton foi para cima de Verstappen na briga valendo a liderança e colocou seu carro por fora na Reta Oposta. O holandês se defendeu por dentro na freada da Curva do Lago e os dois saíram da pista.

De imediato, a transmissão apontou que o incidente tinha sido “notado”, o que significa que o diretor de provas, Michael Masi, chamou a atenção dos comissários para uma possível investigação. A Red Bull agiu e pelo rádio chamou Masi para argumentar que o lance estava dentro dos parâmetros do “Deixo-os Correr”, uma linha que o dirigente desenvolveu com os pilotos para definir lances que precisam ou não resultar em punição.

Mas dessa vez, a decisão foi rápida, apesar de não sido menos polêmica: nada de punição. “Ali não teve contato. Foi uma decisão de corrida só”, apontou Moreno ao Projeto Motor. “Eu vi imediatamente. Eu achei ali que não teve nada para conversar. Foi uma disputa muito boa de corrida. Que eu gostaria de ver em todas as corridas. Um tentou por fora, o outro deu uma abridinha para não deixar o outro passar. Os dois foram profissionais e não bateram”, seguiu o ex-piloto, explicando por que a definição foi tão rápida.

Quando recebeu a informação pelo rádio que os comissários de nem abririam uma investigação formal sobre o lance, Hamilton foi irônico na resposta: “Claro que não. Claro.”

A explicação de Moreno vai ao encontro com o que Michael Masi explicou em coletiva em Interlagos após a corrida. Ele apontou que foi observado que os carros não se tocaram, que ambos saíram da pista e, principalmente, que não existiu prejuízo claro para nenhum dos lados.

Masi, no entanto, admitiu que considerou na hora uma advertência com bandeira preta e branca. “Eu pensei, passou pela minha cabeça. Aí, eu olhei mais algumas vezes. Não ficou longe de uma bandeira preta e branca. E para ser brutalmente honesto, para o Max”, apontou  o australiano à roda de jornalistas da qual o Projeto Motor fazia parte.

Curiosamente, algumas voltas depois do embate, Verstappen recebeu a adverstência. Na volta 58, o piloto da Red Bull fez um zigue-zague na pista à frente de Hamilton na Reta Oposta para evitar que o rival pegasse seu vácuo. O movimento, no entanto, é, há muitos anos, considerado ilegal.

Mas o que aconteceria se ele já tivesse tomado a advertência no primeiro lance? “Um piloto não pode receber duas bandeiras branca e preta. Ele seria punido pelo segundo lance”, explicou Masi. A diretiva da FIA aponta que no caso de um piloto tomar uma segunda advertência, ele automaticamente precisa sofrer uma sanção esportiva, que pode ser drive-through, penalização por tempo ou até exclusão da corrida. Enquanto o diretor de prova é o responsável por impor as advertências, a decisão do grau da punição ficaria a cargo dos comissários.

Nesta terça-feira (16), porém, a Mercedes mostrou que não está satisfeita com a decisão sobre o lance. Assim, como a Red Bull fez sobre o toque de Hamilton em Verstappen em Silverstone, a Mercedes utilizou o seu “direito de revisão” alegando existir uma evidência que não estava disponível aos comissários no momento da decisão.

Essa nova prova é a câmera on board de Verstappen virada para frente, que inclusive foi publicada depois pela própria F1 em suas redes sociais. Na hora, a transmissão da corrida estava transmitindo a on board traseira da Red Bull do holandês.

Os comissários só teriam acesso ao outro ângulo após a prova, pelo arquivo armazenado na câmera. A Mercedes acredita que essa nova visão pode mostrar que Verstappen de alguma forma bloqueou e empurrou Hamilton para fora da pista de forma proposital. Ou seja, ainda teremos cenas dos próximos capítulos…

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