(Foto: Joe Skibinski/IndyCar)

Kanaan celebra chance de escolher hora do adeus: “Queria curtir o momento”

Não é todo piloto que chega aos principais campeonatos internacionais e tem a possibilidade de decidir quando e onde vai encerrar a carreira. Por isso, Tony Kanaan não esconde o quanto está satisfeito de ter conseguido decidir e celebrar de forma prévia o seu adeus à Indy após 25 anos na categoria.

Ao contrário de vários outros grandes nomes que, mesmo com vitórias e títulos, acabaram encerrando suas trajetórias quando simplesmente não tiveram mais espaço em alguma equipe, Kanaan fechou um contrato com a McLaren para fazer sua última corrida, cercada de muitas homenagens e atenção da mídia e fãs, justamente nas 500 Milhas de Indianápolis do próximo domingo (28).

O próprio Kanaan passou perto de uma situação em que quase não seguiu com sua carreira na Indy no começo de 2011, após deixar a equipe Andretti. Na época, ele chegou a fechar um acordo com a equipe De Ferran Dragon Racing, que era comandada pelo ex-piloto brasileiro Gil de Ferran, mas apenas alguns dias antes da abertura da temporada, a equipe anunciou que não tinha conseguido fechar o seu orçamento e estava fechando as portas.

Na última hora, ele conseguiu um lugar na equipe KV, com um contrato corrida a corrida enquanto buscava patrocinadores. O que parecia uma jogada final de desespero acabou se tornando uma relação de três anos. Logo na primeira temporada, ele terminou em uma surpreendente quinta posição no campeonato. E em 2013, ele conquistou pelo time a tão sonhada vitória nas 500 Milhas de Indianápolis.

Desta forma, a carreira de Kanaan retomou, com ele voltando a uma grande equipe, a Ganassi, onde ele venceria mais uma prova, na etapa de Fontana de 2014, e seguir na Indy por mais uma década, com uma passagem também pela AJ Foyt.

Desta forma, aos 48 anos, ele não poderia ter oportunidade melhor de agora poder dizer adeus. Em uma conversa com um pequeno grupo de jornalistas em Indianápolis do qual o Projeto Motor fez parte, ele valorizou esse sentimento de poder fechar o capítulo de sua passagem pela categoria desta forma.

“Eu não queria que alguém tomasse essa decisão [por mim]. Eu consigo guiar ainda? Acho que esse é o segundo ano que a gente prova que tem muitos anos pela frente. Eu, Hélio [Castroneves], enfim… Mas cada ano que passa, fica mais difícil. Então, eu preferi absorver isso e curtir isso com vocês, com meus fãs, com minha família, e ter uma despedida legal e ainda sentir falta”, contou o campeão de 2004 da Indy, ao ser questionado sobre a situação pelo Projeto Motor.

“Mas estou indo embora com uma sensação de missão cumprida e de ‘quer saber? Se eu quiser voltar aqui ano que vem, sei que ainda vou voltar e dar pau em muita gente.’ Acho que essa sensação é muito melhor do que a sensação de ficar correndo atrás de um negócio que você não vai ter a oportunidade de fazer de novo”, continuou.

Kanaan em sua McLaren durante os treinos da Indy 500 de 2023
Kanaan em sua McLaren durante os treinos da Indy 500 de 2023 (Foto: Chris Owens/IndyCar)

A chance de Kanaan de pilotar por uma McLaren forte na Indy

O momento entre Kanaan e a equipe também encaixou de uma forma muito especial para o piloto. Assim, o baiano tem a chance de encerrar sua carreira na Indy correndo pela McLaren, que voltou à categoria em 2021 e que tem sido uma força em ascensão. Agora, nessa edição das 500 Milhas de Indianápolis, o time tem conseguido se manter entre os mais fortes, com seus quatro carros classificados entre os nove primeiros do grid.

Isso inclui o próprio Kanaan, que corre em um quarto carro montado especialmente para ele nessa prova, que irá largar em nono. O que acaba o deixando com expectativa de fazer uma boa corrida, talvez até brigando por uma vitória em sua despedida.

E mais do que isso, ele mesmo admite o sentimento especial de passar por isso defendendo uma organização com a história tão vinculada ao do ídolo Ayrton Senna, que ele conheceu aos 17 anos. A história é bastante conhecida do evento em que os dois competiram em uma prova de kart na fazenda de Senna e o jovem piloto baiano venceu o tricampeão mundial. Senna então deu seu telefone pessoal para Kanaan e disse que ele poderia lhe procurar se precisasse de algo para a carreira.

Alguns anos depois, em 1994, Kanaan estava realizando testes para conseguir uma vaga na equipe Cram Competition para participar de um campeonato europeu de base. Senna estava na pista por conta de compromissos com a F1 e foi até o motorhome do time, se apresentou e teria dito para os proprietários da equipe que Kanaan era melhor do que ele, contando a história da corrida em sua fazenda.

O jovem compatriota conseguiu então a vaga e foi campeão da competição. Meses depois, Kanaan estava em Imola no dia do acidente fatal de Senna no GP de San Marino.

“A McLaren é enorme. Se eu voltar quando era criança, quando Senna venceu três campeonatos mundiais pela McLaren…”, relembrou Kanaan durante a entrevista. “Pensando em quão grande Senna é, e eu sou o primeiro brasileiro a correr pela McLaren desde que ele morreu. É algo grande. É uma coisa importante para mim. É a minha infância, os carros que eu queria pilotar. É o Senna, meu mentor, o cara que me ajudou antes dele morrer. Ajudou muito. Não sei, eu fico dizendo para minha esposa e meus filhos que eu não sei o que eu fiz para merecer isso”, continuou.

Tudo ou nada na despedida

Em vários momentos durante esses dias antes de sua despedida na longa programação das 500 Milhas de Indianápolis, Kanaan já deixou claro que independente do resultado ao final da prova, ele estará contente e com o sentimento de dever cumprido.

Kanaan é um dos pilotos mais aplaudidos e procurados pelo público em Indianápolis (Foto: Matt Fraver/IndyCar)
Kanaan é um dos pilotos mais aplaudidos e procurados pelo público em Indianápolis (Foto: Matt Fraver/IndyCar)

Ao mesmo tempo, ele não deixa dúvida que se tiver uma mínima chance de vitória, não irá pensar duas vezes antes de arriscar uma manobra ou estratégia mais ousada.

“É tudo ou nada. No final do dia, se algo ruim acontecer, Zak [Brown, CEO da McLaren] não vai poder me demitir, pois eu já estou indo embora de qualquer jeito”, afirmou em tom de brincadeira e dando risadas. “Mas eu não faria de outra forma. Essa é a corrida que todos nós queremos vencer. Eu vou dar tudo. Se isso for o bastante para eu vencer, ótimo, mas se não for, essa vai ser a primeira vez que eu não vou ficar triste. Porque eu vou estar curtindo com todos meus amigos e fãs”, concluiu.

A Indy 500 de 2023 será a corrida de número 389 de Kanaan na Indy, considerando suas participações tanto na era CART/ChampCar quanto IndyCar. Ele soma ainda 17 vitórias e 16 pole positions. Nas 500 Milhas, essa será a sua 22ª participação, onde além de sua vitória de 2013, ele tem cinco resultados entre os três primeiros e uma pole.

Kanaan continua competindo na Stock Car, além de outras categorias de GT e esportivos, e também planeja seguir na Indy como consultor técnico de equipe trabalhando no pitwall.

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