Safety Car da Aston Martin na F1
(Foto: AMR)

A polêmica do safety car da F1 entre modelos da Mercedes e Aston Martin

Depois do último GP da Austrália (10), Max Verstappen reclamou do safety car fornecido pela Aston Martin dizendo que o modelo é muito lento. O holandês disse que isso afetou o aquecimento de pneus dos carros durante o período de neutralização da prova.

“Tinha muito pouco aderência e também porque o safety car estava muito devagar, como uma tartaruga. Incrível. Andar a 140 km/h na reta oposta, sem um carro acidentado, não entendo por que temos que andar tão devagar. Temos que investigar isso.”

A reclamação em si já seria motivo para algum barulho no paddock, mas a frase seguinte de Verstappen foi a que colocou mais pimenta no assunto. Ele fez uma comparação entre os modelos de carro de segurança da Aston Martin e da Mercedes, que se revezam durante o campeonato.

“Com certeza o safety car da Mercedes é mais rápido por causa da aerodinâmica extra, pois este Aston Martin é realmente lento. Ele com certeza precisa de mais aderência, pois nossos pneus estavam como pedras de gelo. É terrível a forma como estamos andando atrás do safety car no momento.”

A FIA resolveu responder às declarações de Verstappen, muito provavelmente para evitar qualquer questionamento sobre a diferença entre os dois carros utilizados. Afinal, isso poderia começar a causar polêmicas sobre quando um ou outro modelo seria usado, já que ambas as marcas são parcerias comerciais da F1.

Em comunicado, a entidade afirmou que “a função primária do safety car da F1, claro, não é velocidade, mas a segurança dos pilotos, fiscais e funcionários”. E explicou que a velocidade em que o carro de segurança anda não é limitada pela capacidade do modelo, mas pelo controle de corrida, que analisa a situação da pista a todo o momento.

A FIA também destacou que “o impacto da velocidade do safety car no desempenho dos carros que estão o seguindo é uma consideração secundária, já que o impacto é igual para todos os competidores, que, como sempre é o caso, são responsáveis por pilotar de forma segura em qualquer momento dentro das condições de seus carros e do circuito.”

Importante destacar, no entanto, que existe uma questão de segurança quando se fala do aquecimento dos pneus antes de uma relargada. Mesmo que todos os pilotos estejam em condições parecidas por conta da velocidade do safety car, o momento em que a prova se reinicia, se os pneus não estiverem em condições mínimas, pode resultar em um acidente por pegar os competidores de surpresa.

Isso acontece porque, diferente do momento da largada no início da prova, em que certo comportamento já é esperado, na hora da relargada, os pilotos estão andando por um certo tempo sem saber qual é a nova situação de aderência mecânica em comparação com que eles tinham antes da neutralização da prova.

O próprio Charles Leclerc, vencedor da prova em Melbourne, admitiu que também ficou incomodado com a velocidade do safety car, mas que não reclamou no rádio por perceber que provavelmente o carro de segurança da Aston Martin não poderia andar mais rápido do que já estava.

“Eu estava sofrendo muito para subir a temperatura dos pneus, então, também tive dificuldade. Para ser honesto, queria reclamar, mas vi o quanto o safety car estava deslizando na curva e não acho que tinha algo mais que ele poderia dar. Então, não quis colocar mais pressão. Com certeza, com os carros [de F1] que temos agora, é muito difícil manter a temperatura dos pneus atrás do safety car”, disse o monegasco depois da prova.

Mas o que chamou mais a atenção foi a declaração de George Russell, talvez querendo puxar um pouco a sardinha para a Mercedes, de que o modelo alemão é cinco segundos por volta mais rápido que o da Aston Martin. Obviamente que essa diferença – se real – é algo considerável e que deveria ser olhada com carinho pela FIA.

Os modelos de safety car da F1

Durante sua história, a F1 já teve vários modelos bem diferentes de carros de segurança. Desde superesportivos como Lamborghini Countach e Porsche 911 993 GT2, até modelos mais populares como Fiat Tempra e Renault Clio. Já contamos, inclusive, toda essa história apresentando vários desses carros em um outro artigo aqui no Projeto Motor.

Clio foi safety car da F1 em 1996
Renault Clio foi safety car de algumas provas em 1996, como no GP da Argentina (Reprodução)

O público daquela época ficou acostumado com a diversidade porque o tipo de carro muitas vezes mudava corrida a corrida. Mas em 1999, essa alternância ganhou um fim quando a Mercedes-Benz, que já aparecia em diversos eventos desde 1996, assinou um contrato com a F1 para passar a ser fornecedora oficial do safety car da categoria em todas as provas.

Esse reinado só foi interrompido em 2021 quando a Aston Martin (da qual a Mercedes-Benz tem uma participação de 20% das ações) também entrou na jogada. As duas montadoras passaram então a se revezar com o carro de segurança e médico.

Para 2022, a Mercedes trouxe um novo modelo para a função, o AMG GT Black Series, que em sua versão normal de rua já é um esportivo de respeito. Como safety car, ele ainda passou por algumas modificações que o transformaram praticamente em um carro de corrida.

O carro da Mercedes tem um motor de 4 Litros V8 biturbo que desenvolve cerca de 730 cv de potência. Segundo a marca alemã, o Black Series faz de 0 a 100 Km/h em 3s2 e tem velocidade máxima de 325 Km/h. O câmbio é desenvolvido pela AMG com embreagem dupla. A suspensão também é modificada em trabalho conjunto com a Pirelli para cada pista.

Novo safety car da Mercedes para a temporada de 2022 da F1
Novo safety car da Mercedes para a temporada de 2022 da F1 (Foto: Mercedes)

A atenção para aerodinâmica é considerável nestes modelos mais recentes. A altura da Mercedes é modificada a cada prova para melhor se adaptar ao estilo do circuito. As luzes que normalmente ficavam no teto passaram para dentro da cabine na parte frontal e posicionadas na asa traseira para sinalizar aos pilotos. Assim, o modelo pode aproveitar melhor seu refinamento aerodinâmico.

A Aston Martin leva para as pistas, assim como foi em Melbourne, seu Vantage F1 Edition. O motor é o mesmo da Mercedes, porém, com acerto e preparação para desenvolver apenas 527 cv de potência.

O carro também é bastante modificado em relação a sua versão de rua, com um spliter dianteiro e asa traseira desenvolvidos especialmente para a função de safety car. O modelo também passou por alterações no assoalho e na suspensão.

Mesmo assim, o kit aerodinâmica não é não extremo e agressivo quanto o da Mercedes. Podemos perceber, por exemplo, que as luzes de sinalização continuam no teto, o que certamente causa algum arrasto aerodinâmico.

De qualquer maneira, segundo a Aston Martin, o Vantage F1 faz de 0 a 100 Km/h em 3s6 e tem velocidade máxima de 313 Km/h. Ou seja, considerando que Verstappen alegou que eles estavam andando a 140 Km/h na reta em Melbourne, é possível perceber que talvez existisse realmente uma limitação de situação de pista naquele momento imposta pela direção de prova.

Mas, para um modelo com pacote aerodinâmica mais restrito como o Aston Martin, a pista de Albert Park pode realmente ter dado mais trabalho para o seu piloto, o alemão Bernd Maylander. A FIA, apesar de sair com uma postura defensiva sobre a situação, certamente terá que ouvir pilotos, equipes e Pirelli nos próximos eventos para talvez encomendar alguma evolução com Aston Martin.

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