Prost GP: o sonho francês de Alain Prost que virou cinzas

Um dos nomes mais vitoriosos da F1 em todos os tempos, Alain Prost não teve o mesmo sucesso em sua trajetória como chefe de equipe. Entre as décadas de 90 e 2000, o tetracampeão encabeçou a sua própria operação, a Prost Grand Prix, que tinha a ambição de ser a esperança francesa do grid.

Mas, depois de muitas promessas, o time sucumbiu e fechou as portas. Mas como que a equipe Prost entrou em declínio e saiu de cena? Antes de chegarmos ao fim do time, vale a apena repassar um pouco da história e contexto da empreitada.

Alain Prost se aposentou das pistas ao fim de 1993, quando conquistou o seu quarto título mundial com a Williams. No entanto, ele ainda se mantinha conectado com a F1 de maneira bem próxima.

O francês chegou a flertar com a McLaren nos anos seguintes e até foi especulado para voltar a correr, e acabou na posição de consultor do time para a temporada de 96. Mas a sua ideia era ir muito além disso. E a oportunidade surgiu na também francesa Ligier.

Tratava-se de uma equipe tradicional, que ostentava o orgulho francês, com vitórias na F1 desde os anos 70. Mas, naquela época, o seu principal acionista era o italiano Flavio Briatore, que comprou a Ligier em uma manobra controversa, de olho em levar os motores Renault para a Benetton.

Acontece que, no GP de Mônaco de 96, Olivier Panis, a bordo do carro da Ligier, conquistou uma das vitórias mais improváveis da história da categoria. O triunfo de um francês, a bordo de um carro francês, iniciou um período de comoção no país para que a Ligier voltasse às mãos dos franceses.

Assim, Briatore se reuniu com o então Ministro do Esporte da França, e foi acordado que a Ligier seria vendida a um proprietário francês caso a proposta certa aparecesse. E foi aí que surgiu o nome de Prost, que tinha o know-how, a fama e o entusiasmo para fazer a ideia vingar.

Então, em fevereiro de 1997, a Ligier é vendida a Prost, e a equipe passaria a se chamar oficialmente Prost Grand Prix. E de fato o projeto parecia promissor. Na primeira temporada, a Prost teria motores Mugen Honda e os novos pneus Bridgestone, mas, para 98, ela se tornaria a operação oficial da Peugeot, em um contrato de três anos, o que formaria um time dos sonhos francês.

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Começo promissor e rápida ducha de água fria para Prost

Desta forma, repleta de patrocinadores franceses, a nova equipe Prost foi uma das surpresas da temporada de 97. Panis conquistou dois pódios, e era o terceiro colocado no campeonato antes de fraturar as pernas em um acidente no Canadá. Já Jarno Trulli, seu substituto, chamou a atenção ao liderar por impressionantes 37 voltas no GP da Áustria.

Se a primeira campanha foi positiva, a expectativa para 98 era ainda mais alta, quando o time enfim colocaria em prática a tão aguardada parceria com a Peugeot. Mas, quando isso aconteceu, foi uma enorme decepção.

O carro da Prost-Peugeot em 98 tinha problemas crônicos de câmbio e sofria com o equilíbrio, então Panis e Trulli despencaram para o meio do pelotão. O vexame só não foi completo por conta de um sexto lugar de Trulli em Spa, uma corrida em que só oito pilotos receberam a bandeirada.

Com um único ponto marcado, a Prost foi a nona colocada nos construtores, apenas à frente das agonizantes Tyrrell e Minardi. Em 99, as coisas até que melhoraram levemente. Panis fez uma forte classificação na França, e Trulli foi segundo colocado no caótico GP em Nurburgring, mas no fim ficou o gosto amargo de um discreto sétimo lugar no Mundial.

Era muito pouco para as expectativas da parceria Prost-Peugeot. Com isso, as duas partes começaram a entrar em atrito, e uma ruptura não parecia algo tão distante. A chance derradeira veio em 2000. Com novos patrocinadores e uma nova dupla de pilotos, o time voltou a ter resultados sofríveis, com um fraco desempenho na pista, quebras e desentendimentos.

Assim, a Peugeot perdeu a paciência e confirmou que deixaria a F1 ao fim daquele ano, enquanto Jean Alesi e Nick Heidfeld terminaram a temporada zerados, sem um pontinho sequer. Era o fundo do poço para a equipe Prost.

A troca do projeto francês pela sobrevivência no grid

Além de perder a Peugeot, a Prost também teve uma debandada de vários patrocinadores e parceiras, o que dava um indício de que o projeto da Prost Grand Prix entrava em uma crise que poderia ser difícil de resolver.

A equipe passou por necessárias mudanças. Para 2001, ela passaria a pagar caro para

ser cliente de motores da Ferrari, rebatizando as unidades de Acer. Do lado administrativo, Pedro Paulo Diniz se aposentou das pistas para se tornar sócio da Prost, com 38% das ações.

Para reforçar as finanças, o time aceitou a chegada do argentino Gastón Mazzacane, que havia sofrido com a Minardi em 2000, mas era apoiado pelo canal de televisão latino-americano PSN.

Assim, querendo espantar a má fase, o carro da Prost para 2001 foi uma das grandes sensações da pré-temporada, quando andou em ritmo parelho com as principais equipes do grid. Depois, ficou claro que o time andava com o carro abaixo do peso, justamente para chamar a atenção com os tempos marcados na tentativa desesperada de atrair novos patrocinadores.

Quando as corridas começaram a Prost mais uma vez estava no meio da tabela. Alesi até conseguiu pontuar nos GPs de Mônaco, Canadá e Alemanha, o que dava à Prost seus primeiros pontos desde 1999.

Porém, o rendimento geral ainda decepcionava, até mesmo se comparado a outras equipes intermediárias. Assim, Alesi e Prost se desentenderam, e o piloto se mandou para a Jordan, sendo substituído por Heinz-Harald Frentzen, que havia sido demitido justamente na Jordan.

Já Mazzacane durou apenas quatro corridas e foi logo substituído por Luciano Burti, mas o brasileiro sofreu um acidente gravíssimo na Bélgica e nunca mais competiu na F1. A Prost, que planejava ser o sonho de seu país em voltar a vencer, não tinha mais sequer um piloto francês, grandes patrocinadores franceses ou um motor francês.

O fim do sonho de Prost

De mal a pior, a equipe já acumulava dívidas, estimadas em US$ 30 milhões, o que deixava a operação à beira de sucumbir. Alain Prost, que sentia o golpe, culpava os resultados ruins de 2000 e a economia global após os atentados de 11 de setembro para explicar a enorme crise que se instaurava.

Últimas temporadas da Prost na F1 foram recheadas de problemas dentro e fora da pista
Últimas temporadas da Prost na F1 foram recheadas de problemas dentro e fora da pista

Para piorar, o sócio  brasileiro Pedro Paulo Diniz, que tinha a opção contratual de se tornar acionista majoritário da equipe, pulou fora do barco por se desentender com Prost.

Sem muitas alternativas, a Prost entrou em uma espécie de recuperação judicial em novembro de 2001, sendo que sua única alternativa realista seria arrumar um novo dono. Houve alguns potenciais compradores, o que incluiu um príncipe saudita e um conglomerado canadense, mas não houve uma única oferta francesa.

Em janeiro de 2002, a justiça decretou a falência da Prost Grand Prix. Alain Prost considerou o episódio a sua maior derrota na F1, o que também era um fracasso total para a França. Assim, a equipe fechou as portas após cinco temporadas e 83 GPs, onde conquistou três pódios.

Mas a história não acabou totalmente ali. Em fevereiro de 2002, um empresário britânico adquiriu o espólio da Prost, e planejava retomar as operações. A nova equipe se chamaria Phoenix, também conhecida como DART, e teria suporte técnico da TWR, empresa do veterano Tom Walkinshaw, que também era dono da Arrows.

A salada também contava com antigos motores Hart, e os pilotos Gastón Mazzacane e Tarso Marques como os mais cotados. Porém, depois de uma longa disputa com a FIA nos tribunais, a Phoenix não foi autorizada a correr.

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