Prost ensaiou retorno à F1 por pelo menos duas vezes após aposentadoria

Campeões que se aventuraram na F1 depois da aposentadoria

Por muitas vezes, a despedida da F1 pode ser um momento difícil para um piloto. Afinal, nem sempre é fácil se desapegar da categoria e virar a página, aceitando o fato de que a passagem pelo Mundial chegou ao fim.

É por isso que já vimos alguns pilotos que desistiram da ideia no meio do caminho. Exemplos não faltam, como Michael Schumacher, que voltou a competir pela Mercedes em 2010, depois de três anos aposentado. Ou Fernando Alonso, que se afastou da F1 em 2018, mas que retornará à ativa em 2021 com o carro da Alpine, novo nome da Renault.

Existem ainda os casos de nomes consagrados que flertaram com o fim da aposentadoria, chegaram a realizar testes na F1, mas que não materializaram seus retornos. Citaremos quatro exemplos, e alguns estiveram mais perto de voltar do que outros.  

Nigel Mansell na Jordan em 1997

A despedida de Nigel Mansell da F1 não foi um dos momentos mais positivos de sua trajetória. Em 95, o inglês teve dificuldades para caber no carro da McLaren, competiu em apenas duas corridas e foi dispensado, o que marcou um fim melancólico de sua notável carreira. Porém, foi por pouco que a história não teve mais um capítulo.

Em 96, Mansell flertou com a Jordan, que ainda buscava um piloto para a temporada seguinte. Mesmo aos 43 anos de idade, o “Leão” estava interessado na vaga, e o salário proposto pela patrocinadora principal do time, estimados em £ 8 milhões, deixava o cenário ainda mais atrativo.

Para avançar com as conversas, Mansell foi escalado para participar de testes em Barcelona em dezembro de 96. Ele completou 59 voltas em um dia e meio de atividades, e registrou um tempo 0s4 mais lento que Ralf Schumacher, que já estava confirmado para fazer sua estreia na F1 pela Jordan em 97.  

Mansell chegou a avaliar que tinha “60% de chances” de retornar ao grid, mas o plano não teve continuidade. A Jordan lhe propôs um contrato com cláusula de performance, o que brecou o acordo. Desta forma, a vaga na Jordan ficou com Giancarlo Fisichella, e a carreira de Nigel Mansell na F1 se encerrou definitivamente. 

Mika Hakkinen na McLaren em 2006

Mika Hakkinen competiu pela última vez na F1 na temporada de 2001, só que por muito tempo o público questionava se o bicampeão ainda não poderia retornar. Ele chegou a ser sondado por equipes como Williams e BAR, mas sua volta aos cockpits aconteceu por sua velha conhecida McLaren. 

Ao fim de 2006, Hakkinen participou de um teste coletivo com a McLaren em Barcelona. Na época, sondava-se a possibilidade do finlandês se tornar uma espécie de consultor para a equipe, e o treino ajudaria o veterano a entender todas as mudanças que a F1 havia tido nas cinco temporadas em que esteve ausente. Já a McLaren esperava, sobretudo, que o feedback de Hakkinen facilitasse na transição dos pneus Michelin para os Bridgestone, que seriam obrigatórios a partir de 2007. 

Hakkinen, que tinha 38 anos na época do teste, não estava totalmente enferrujado, pois ele vinha atuando de forma regular no competitivo DTM. Ele registrou 79 voltas, e, segundo suas próprias palavras, nem se preocupou muito com os tempos marcados – afinal, ele usou um único jogo de pneus durante o tempo inteiro. Ao fim do dia, Hakkinen ficou com o 18º e último tempo marcado – cerca de 3s mais lento que o piloto mais veloz, Luca Badoer, da Ferrari, e 2s2 atrás do jovem Lewis Hamilton, que havia acabado de ser confirmado pela McLaren como titular para 2007.

Hakkinen brincou e admitiu que seria melhor se a tabela de tempos estivesse de cabeça para baixo. Porém, ele reforçou que não priorizou os tempos marcados, e que, se colocasse pneus novos e forçasse o ritmo, provavelmente poderia virar até 2s mais rápido do que virou, o que o colocaria mais perto da melhor volta de Hamilton. Aquela seria a última aparição oficial de Hakkinen em um carro de F1. 

Alain Prost na McLaren em 1995

De todos os citados nesta lista, Alain Prost parece ser aquele que teve a chance mais concreta de voltar à F1 depois de ter anunciado sua aposentadoria. Poucos meses depois de deixar as pistas com a conquista do tetracampeonato, o francês foi sondado pela McLaren para ser parceiro de Mika Hakkinen em 94, já que o time buscava um nome de peso para ocupar a vaga que era até então de Ayrton Senna.

Mas Prost ainda tinha alguns pontos de interrogação sobre seu retorno. Primeiro porque ele ainda estava vinculado contratualmente com a Williams, e teria de pagar uma multa caso quisesse voltar a competir. Segundo, não se sabia exatamente o quão competitiva a McLaren seria, já que a equipe estava prestes a iniciar uma parceria técnica com a Peugeot. Para tirar esta dúvida, Prost foi escalado para fazer um teste com a McLaren em março de 94, no circuito do Estoril, em Portugal. 

Em três dias de atividades, o francês chegou a virar na casa de 1min13s7, o que não o deixou tão animado. A efeito de comparação, Senna havia registrado um tempo 1s2 mais rápido quando testou no mesmo circuito com a Williams dois meses antes. Prost, então, confirmou que permaneceria aposentado, e a McLaren escolheu Martin Brundle para ficar com a vaga. 

Mas a história não acabava ali. Em 95, Prost realizou mais testes com o carro da McLaren, e o namoro entre as duas partes ficou ainda mais forte depois do acidente de Hakkinen em Adelaide, já que inicialmente ninguém sabia ao certo como o finlandês iria se recuperar. Mas, novamente, as conversas não avançaram como o esperado, e Prost se tornou consultor da McLaren em 96, inclusive realizando novos testes esporádicos. 

Depois de muitas sondagens, o francês só faria um retorno em definitivo à F1 em 97, mas não como piloto, e sim como chefe de equipe, já que ele se tornou dono da Ligier para fundar a Prost Grand Prix.

Niki Lauda pela Jaguar em 2002

Niki Lauda já tinha 53 anos quando voltou a testar um F1, então seu exemplo não se encaixa nos casos de pilotos que ponderaram o retorno. Porém, seu episódio com a Jaguar já se tornou parte do folclore da categoria, então seu nome não poderia ficar de fora desta lista. 

Em 2001, o austríaco se tornou chefe da Jaguar, e ficava intrigado com a quantidade de aparatos eletrônicos dos carros da época – especialmente itens como controle de tração, controle de largada, câmbio borboleta e direção hidráulica, que não existiam na época em que Lauda competia. 

Assim, o ex-piloto, que não guiava um F1 de forma séria desde sua última temporada, em 85, fez questão vestir o macacão e experimentar o carro da Jaguar na prática. Ele queria entender por que os pilotos e os engenheiros passavam tanto tempo discutindo sobre estes detalhes. Afinal, a sua tese era de que até um macaco seria capaz de guiar um carro de F1 com tantos recursos de pilotagem. 

Mas, segundo Lauda, “macaco fala, macaco faz”. Ele foi à pista de Valência, na Espanha, em janeiro de 2002, guiando o carro da Jaguar do ano anterior. E o choque de realidade foi grande. 

Logo em sua segunda volta, Lauda rodou na Curva 2 do circuito, deixou o carro morrer e precisou ser rebocado aos boxes. Quando retornou à ação, escapou de novo, no mesmo ponto da pista. No total, o tricampeão conseguiu dar oito voltas cronometradas e virou na casa de 1min29s, sendo que os carros da Jaguar chegavam a virar até 15s mais rápido que isto.

Apesar de seu dia todo atrapalhado, Lauda não perdeu seu habitual bom humor. Ele disse que o culpado por suas rodadas era Pedro de la Rosa, titular da Jaguar, e que havia lhe passado os pontos de frenagem da pista. Brincadeiras à parte, o austríaco disse que precisava forçar o ritmo para mostrar aos seus pilotos que estava tentando andar rápido, caso contrário eles “sequer voltariam a olhar na sua cara”. 

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