Red Bull chegou a promover um programa para buscar pilotos americanos para a F1
(Red Bull)

Conheça o programa de pilotos dos EUA da Red Bull que fracassou

O programa de jovens pilotos da Red Bull é um dos mais bem sucedidos da história do automobilismo. Foi de lá que, nas últimas décadas, surgiram pilotos que se consolidaram na F1, obtiveram vitórias e até se tornaram campeões mundiais. Mesmo com uma gestão que às vezes é considerada polêmica, é inegável que o programa da Red Bull já revelou diversos talentos das pistas.

No entanto, nem sempre foi assim. Houve uma época em que a Red Bull chegou a criar um outro programa de pilotos, paralelo ao esquema habitual: o Red Bull Driver Search, que tinha o objetivo específico de colocar pilotos americanos de sucesso no grid da F1. E esse plano não deu muito certo.

Para começar a contar essa história, precisamos voltar ao ano de 2002. Era um período bem diferente para a Red Bull no automobilismo, pois sua equipe de F1 ainda não existia, e seu envolvimento com a categoria se limitava à posição de patrocinadora da Sauber, além de apoiar Enrique Bernoldi na Arrows. Ela também tinha sua própria equipe na F3000, categoria equivalente à atual F2. Já o seu programa de jovens pilotos existia formalmente desde o ano anterior, e naquela época contava com nomes como o adolescente Sebastian Vettel, Christian Klien e Vitantonio Liuzzi, que anos mais tarde chegariam à F1 com o apoio da Red Bull, e Patrick Friesacher e o brasileiro Ricardo Maurício, pilotos da equipe Red Bull na F3000.

Enquanto isso, o ex-piloto Danny Sullivan tinha outros planos. Campeão da CART, das 500 Milhas de Indianápolis e ex-piloto da F1, o americano queria recolocar um piloto dos Estados Unidos na categoria. Até porque o país estava ausente do grid desde 1993, na complicada passagem de Michael Andretti pela McLaren.

Esta era uma ideia bastante atrativa do ponto de vista mercadológico, já que o desenvolvimento da F1 nos Estados Unidos sempre foi um prato cheio para as grandes marcas. Então, foi criada uma aliança entre Sullivan e a Red Bull, e disso surgiu o programa Red Bull Driver Search, ou, em uma tradução livre, “a busca da Red Bull por pilotos”. 

Programa americano da Red Bull irritou pilotos

O Red Bull Driver Search avaliaria pilotos de 16 a 24 anos, que passariam por testes em pista na Europa, e destes, quatro seriam os escolhidos da primeira edição. Uma série de “olheiros disfarçados” estavam espalhados pelos Estados Unidos, na busca por talento. O objetivo era misturar pilotos bem jovens com outros um pouco mais experientes, sendo que estes quatro selecionados teriam uma temporada financiada pela Red Bull em alguma categoria de base na Europa em 2003. 

A primeira turma de candidatos foi divulgada cheia de pompa no fim de semana do GP dos Estados Unidos, em Indianápolis, e contava com 15 nomes. Alguns deles até se tornariam conhecidos no automobilismo internacional, como os californianos Scott Speed e AJ Allmendinger, o texano Ryan Hunter-Reay, e Joey Hand, de Ohio. Mas, pouco a pouco o entusiasmo dos pilotos com a oportunidade deu espaço a um sentimento de estranheza.

Primeiro, os pilotos passaram por um teste físico ainda no fim de semana em Indianápolis, sendo que muitos consideraram que na verdade aquilo foi apenas uma atividade de publicidade. Depois os pilotos teriam de assinar pré-contratos com a Red Bull, só que a primeira versão do acordo contava com termos considerados bastante abusivos do ponto de vista financeiro. Os candidatos se recusaram a assinar, o que obrigou a empresa a refazer parte do contrato. Nisto, Hunter-Reay e Allmendinger, dois dos nomes mais promissores da lista, deixaram o programa na hora, o que reduziu o número de candidatos para 13.

Em outubro, os postulantes participaram de quatro dias de testes no circuito de Paul Ricard, na França, usando vários modelos diferentes, desde F3 e F3000 até pequenos carros que tinham até 170 cv de potência. E, para variar, novos problemas apareceram. Os pilotos reportaram que havia muita discrepância de rendimento entre os modelos utilizados no teste, sem contar que o circuito de Paul Ricard (que não possui grama ou caixa de brita) possibilitava que alguns cortassem caminho para ganhar tempo. 

No meio de toda essa confusão, o painel de jurados do Red Bull Driver Search (que, além de Danny Sullivan, contava com nomes como Skip Barber e Helmut Marko) definiu seus primeiros eleitos: Scott Speed, Paul Edwards, Grant Maiman e Joel Nelson, que correriam de fórmula na Europa em 2003 e entrariam no programa de pilotos da Red Bull.

Turma de 2002 do Red Bull Driver Search durante as sessões em Paul Ricard
Turma de 2002 do Red Bull Driver Search durante as sessões em Paul Ricard (Foto: Red Bull)

Para 2003, o programa ficou mais abrangente. Além da seleção feita pelos olheiros, também seriam levados em consideração vários eventos de kart realizados pelos Estados Unidos, incluindo alguns organizados pela própria Red Bull. 24 avançariam à semifinal, usando carros da fórmula Skip Barber em Sebring, e seis sobrariam para a final, desta vez com carros de F3 no circuito do Estoril, em Portugal. 

Os escolhidos foram Colin Fleming, Matt Jaskol e Dominique Claessens. Porém, Paul Edwards, Grant Maiman e Joel Nelson, três dos escolhidos em 2002 e que tiveram temporadas fracas na Europa em 2003, perderiam o apoio da Red Bull. Já em 2004, o Red Bull Driver Search manteve mais ou menos o mesmo formato do ano anterior, com a diferença que passou a limitar a idade de seus participantes a jovens de 13 a 17 anos. O escolhido daquele ano foi John Edwards, que tinha 13 anos de idade. Mas uma outra tendência permaneceu, já que Edwards entrou, e Jaskol e Claessens, da turma de 2003, foram cortados. 

Em 2005, já havia sinais de uma iniciativa que estava enfraquecida. Dois pilotos passaram à fase final, que seria um teste de F-BMW em Portugal. Só que desta vez seria diferente: os americanos entrariam numa seletiva geral, que contaria com 21 pilotos de 15 nacionalidades diferentes para ver quem entraria no programa da Red Bull. Ambos ficaram de fora da escolha final, e o Driver Search não premiaria nenhum americano em 2005.

Neste meio tempo, a Red Bull mudou as prioridades no automobilismo. 2005 marcou o início da Red Bull Racing, enquanto que, em 2006, foi criada a Toro Rosso, que seria a equipe B da marca de bebidas energéticas. Já o seu programa convencional de jovens pilotos estava cheio de nomes que precisavam de uma orientação, então o Driver Search ficou em segundo plano, com cada vez menos atenção do público.

Fim do projeto e novo foco da empresa

Em quatro anos do Red Bull Driver Search, foram poucos os que avançaram nos degraus do automobilismo. A exceção foi Scott Speed, da primeira safra, que foi campeão das F-Renault Alemã e Europeia em 2004, e terceiro colocado na GP2 em 2005, quando também fez seus primeiros testes e treinos livres com a Red Bull na F1. Para 2006, Speed seria titular da Toro Rosso, sendo a primeira e única cria do Driver Search a chegar à F1.

E esta foi a deixa para que a Red Bull encerrasse o programa. Afirmando que já havia atingido o objetivo principal de colocar um americano na F1, a empresa descontinuou o Driver Search ao fim de 2005 – ela seguiria observando os talentos americanos mundo afora, mas sem contar com um programa especial para eles. 

Mas qual foi o legado do Red Bull Driver Search? Bem, ele de fato cumpriu a missão de por os Estados Unidos no grid. Por outro lado, em alguns momentos o próprio programa traçou metas mais ambiciosas, como povoar de americanos nas categorias de base da F1, ou até de desenvolver um novo campeão do mundo. Este até era um dos slogans do programa, e isto não chegou nem perto de acontecer. Isso porque Speed não durou muito na F1 – ele permaneceu um ano e meio na Toro Rosso, sem conseguir marcar pontos, e deixou a equipe brigado com a temporada de 2007 em andamento, substituído por Sebastian Vettel. 

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