André Ribeiro é o único brasileiro a vencer uma prova da Indy no país
(Foto: IMS)

André Ribeiro e o marco para o Brasil e a Honda na Indy

A década de 90 foi de um crescimento enorme para a Indy no Brasil. Mesmo após o racha da categoria, que a dividiu em duas em 1996, a categoria ganhou muita popularidade. Tudo começou com as vitórias de Emerson Fittipaldi na virada dos anos 80 para os 90, e teve continuidade com uma nova geração que chegou com conquistas importantes. Entre esses pilotos, estava André Ribeiro, que morreu no último sábado (22), aos 55 nos, em decorrência de um câncer.

Para se ter ideia de como estava a atenção do público local, para 1996, a Brahma chegou a investir em uma parceria com a Patrick para formar uma equipe que levasse seu nome. Um dos pilotos, claro, era um representante do país, Raul Boesel.

Fittipaldi, aproveitando o momento, já vinha trabalhando nos anos anteriores para levar uma corrida da Indy para o Brasil. Em 1995, com apoio do governo local, o empresário Jorge Cintra, da companhia Intag, conseguiu fechar o acordo para o ano seguinte.

O GP do Brasil de F1 tinha retornado a Interlagos, em São Paulo, em 1990, depois de dez anos no Rio. Entre os diversos motivos para a mudança, estava a desistência da prefeitura carioca de seguir investindo em Jacarepaguá. Querendo retomar o protagonismo em eventos deste tipo para a cidade, o prefeito Cesar Maia topou investir em uma reforma no autódromo para receber a corrida da Indy.

E além de todo glamour de uma prova internacional na cidade com as praias mais famosas do Brasil, um dos charmes era o novo traçado oval que seria construído dentro de Jacarepaguá. Bem, quase um oval. Aproveitando parte da pista tradicional, os organizadores resolveram montar um circuito em formato de trapézio, com quatro curvas, sendo duas que obrigavam os pilotos a realizarem fortes freadas. Um desafio bastante diferente.

Como era de se esperar, a obra passou por polêmicas. Para começar, existia uma regra na época em que a FIA só homologava ovais fora dos Estados Unidos com 3 km de extensão. Como era filiada da federação internacional, a CBA então se colocou contra e prometeu até mesmo ir à justiça contra o projeto original para a Indy, de 2 km. No final das contas, entrou-se num acordo para aumentar o trajeto para o requisitado pela FIA.

André Ribeiro foi um dos nomes importantes do Brasil na Indy nos anos 90
André Ribeiro foi um dos nomes importantes do Brasil na Indy nos anos 90 (Foto: Honda)

Isso fez o custo da reforma subir de R$ 9 milhões para R$ 15 milhões ao final de 1995. A grande reta oposta do traçado de F1 passaria a ser a de cronometragem da Indy, com o ponto de largada, e receberia novos boxes. Além disso, também seriam construídas novas instalações para a TV, cronometragem e dos comandos de prova, entre outros.

Depois de muita briga, as obras começaram apenas em novembro e ficaram prontas às pressas para a corrida, em 17 de março de 1996, segunda etapa da temporada.

Show de André Ribeiro, desorganização e festa da torcida

A Ganassi parecia ter o grande pacote da temporada, com seu Reynard-Honda, e já vinha de uma vitória em Miami, com o americano Jimmy Vasser. No Rio, eles lacraram a primeira fila com Alex Zanardi na pole, acompanhado de Vasser, segundo. Em seu Lola-Honda da equipe Tasman, André Ribeiro, no entanto, mostrava sinais que estava na briga.

O público ainda tinha boas expectativas com Gil de Ferran, da Hall, em seu Reynard-Honda, que tinha sido segundo colocado na prova de abertura. No total, eram oito brasileiros no grid, incluindo os ex-F1 Emerson e Christian Fittipaldi, Raul Boesel, Maurício Gugelmin e Roberto Pupo Moreno, além do próprio Gil, Ribeiro e Marco Greco.

Saindo da sétima posição do grid, De Ferran escalou o pelotão e chegou a assumir a ponta, até sofrer com pane seca e precisar ser rebocado para o pit, perdendo chance de brigar pelas primeiras posições. Greg Moore tomou o controle da prova, mas sofreu um problema mecânico a 18 giros do final. Ribeiro, que se manteve entre os três primeiros durante praticamente toda a prova, herdou a ponta e não perdeu mais.

Logo após a bandeira quadriculada, enquanto os carros ainda se encaminhavam para o pit, o público invadiu a pista. Ribeiro se tornou herói dos amantes do automobilismo brasileiro, que viviam tempos difíceis na F1 após a morte de Ayrton Senna, pouco menos de dois anos antes.

A corrida marcou 21 pontos de audiência no SBT, que transmitia a Indy na época, o que era considerado um ótimo resultado. As arquibancadas, no entanto, passaram longe de estarem cheias, com apenas 30 mil ingressos vendidos dos 70 mil colocados à venda. De qualquer maneira, aquele 17 de março acabou se tornando um marco para o automobilismo brasileiro, com a primeira prova da Indy no país, vencida ainda por um representante local.

Antes de herói do Rio, Ribeiro abriu caminho para a Honda

Como a maioria dos pilotos brasileiros, André Ribeiro começou sua carreira com o foco na Europa e na F1. Seguiu o caminho natural da época de correr na F3 Britânica, e até terminou na quinta posição do campeonato de 1993, à frente de três futuros F1, Pedro de la Rosa, Ricardo Rosset e Jan Magnussen.

Porém, sem espaço para crescer, em 94, ele virou sua carreira para os Estados Unidos, onde correu na Indy Lights, categoria preparatória para a Indy. Ele terminou com o vice-campeonato pela equipe Tasman, atrás do companheiro de equipe, Steve Robertson (hoje um empresário de pilotos com sucesso), e à frente da futura estrela Greg Moore.

A Tasman resolveu subir para a Indy em 1995 e resolveu apostar em Ribeiro para a empreitada. A Honda tinha estreado na categoria na temporada anterior e estava investindo para crescer. Assim, fechou acordo com o novo time para ser um de seus clientes. E não ficou decepcionada.

André Ribeiro foi responsável pela primeira vitória da Honda na Indy
André Ribeiro foi responsável pela primeira vitória da Honda na Indy (Foto: Honda)

O ano foi de muitas quebras e problemas para a Honda, mas o trabalho se pagou com as novas evoluções do equipamento na segunda metade do campeonato. E finalmente, no oval curto de Loudon, Ribeiro conquistou a pole position e depois confirmou o bom acerto do conjunto para vencer a corrida, conquistando a primeira vitória da história da marca japonesa na Indy.

Em 96, além do triunfo no Rio de Janeiro, Ribeiro ainda venceria a corrida no super oval de Michigan, e fechou o campeonato na 11ª posição.

Mudança para a Penske e aposentadoria precoce

Após duas boas temporadas, o campeonato de 1997 foi mais claudicante para a equipe Tasman. Para o ano seguinte, Ribeiro aceitou proposta da poderosa. Penske. O time, um dos mais fortes e importantes da história da Indy, passava, no entanto, por uma fase bastante difícil.

Assim, nem o brasileiro nem o seu experiente companheiro de equipe, Al Unser Jr, conseguiram conquistar vitórias. O americano terminou em uma apagada décima posição do campeonato e Ribeiro ficou apenas em 22º.

Aos 32 anos, o piloto brasileiro revolveu então deixar as pistas e aceitou a proposta de Roger Penske de comandar a abertura de uma operação de concessionárias no Brasil. Chegava ao fim a carreira de 68 provas na Indy, com três vitórias, duas pole positions e quatro resultados entre os três primeiros.

Ribeiro seguiu até o final da vida trabalhando no setor de concessionárias, mas paralelamente chegou a voltar a se envolver com automobilismo. Primeiro, entre 2002 e 2006, como sócio de Pedro Paulo Diniz na criação da F-Renault Brasil. Depois, ele se tornou empresário da pilota Bia Figueiredo, uma das revelações da competição nacional, chegando a ajudá-la a chegar à própria Indy.

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