Fittipaldi venceu sua primeira Indy 500 pela equipe Patrick com chassi da Penske
(Foto: IMS)

Patrick: as glórias, título de Fittipaldi e patrocínio brasileiro

No dia 5 de janeiro de 2021, morreu na cidade de Phoenix, nos Estados Unidos, aos 91 anos, Pat Patrick, um dos mais lendários donos de equipe da história da Indy. O time participou das três fases da categoria com sucesso: a Usac, a CART e depois a IRL/IndyCar.

Pat não era exatamente um garagista que entendia de carros como Roger Penske, mas um empresário de sucesso que sabia muito bem administrar uma operação e contratar as pessoas certas para os lugares certos.

A Patrick Racing participou de forma ininterrupta das 500 Milhas de Indianápolis de 1970 a 95, deixando de correr por alguns anos apenas por conta do racha da IRL/CART em que ele ficou do lado da Associação de Equipes. No total, foram três vitórias na prova mais importante dos Estados Unidos e dois títulos nacionais.

Além desta enorme participação e simbolismo no automobilismo americano, o dirigente e sua equipe têm uma relação interessante com o Brasil, já que foram os responsáveis pela primeira vitória nas 500 Milhas de Indianápolis e o título da Indy de Emerson Fittipaldi, ambos em 1989, e uma parceria com a cervejaria Brahma, que chegou a ser o nome do time em 1997.

Pat Patrick começou seu envolvimento no automobilismo como patrocinador. Formado e com carreira como contador até os 33 anos, ele fundou em 1962 uma empresa de extração de petróleo, a Patrick Petroleum. A companhia teve sucesso financeiro rápido e Patrick se tornou um rico empresário do Michigan.

Apenas cinco anos depois, ele topou patrocinar o carro de um amigo, também do ramo de petróleo, Walt Michner, nas 500 Milhas de Indianápolis. O piloto do time, Mickey Shaw, não conseguiu se classificar entre os 33 do grid, porém, o bichinho do automobilismo parece ter mordido Patrick, que não demorou muito tempo para resolver se tornar dono de equipe e passar a alinhar seus próprios carros.

O começo da Patrick Racing

Em 1970, Patrick comprou parte da equipe de Michner e fundou o time com o seu nome. Assim, ele alinhou um chassi Eagle com motor Offenhauser pela primeira vez nas 500 Milhas de Indiánapolis, com o piloto Johnny Rutherford ao volante.

O conjunto logo se mostrou forte ao classificar na segunda posição do grid de largada, mas a empreitada acabou com abandono por problema no propulsor na volta 135. Mesmo assim, a partir deste momento, o time só cresceu conseguindo alguns resultados importantes.

Em 1973, Patrick perdeu Rutherford para a McLaren e contratou para seu lugar Gordon Johncock, piloto que já tinha ficado por três vezes entre os cinco primeiros no campeonato da Usac (entidade que organizava as provas de fórmula do que viria a ser a Indy). Curiosamente, Rutherford largou na pole, mas quem ficou com a vitória foi Johncock, a primeira da Patrick em Indianápolis. Nesta época, o Eagle-Offenhauser do time já levava a lendária pintura da empresa STP, que ficaria tão marcada por seu envolvimento com a organização.

Patrick viu espaço para mais crescimento e em 1975 resolveu passar a construir seus próprios carros. O chassi foi batizado de “Wildcat”, que em tradução livre seria algo como “jogo-arriscado”, forma como o empresário começou seu negócio no ramo de petróleo que lhe rendeu sua fortuna. O modelo não fez feio, com Johncock terminando na segunda posição da Indy 500 daquele ano, e conquistando a vitória na etapa de Trenton. No ano seguinte, o conjunto foi campeão da Usac com duas vitórias no campeonato, o primeiro grande título da organização.

No final daquela década, Patrick, Roger Penske e Dan Gurney lideraram o movimento que rompeu com a Usac ao formarem a Championship Auto Racing Teams, mais conhecida simplesmente pela sua sigla, CART. Já em 1979, a associação passou a organizar seu próprio campeonato que viria a se tornar a base da Indy que explodiu internacionalmente entre o final dos anos 80 e começo dos 90. O Projeto Motor tem um texto sobre os vários rachas e entidades que se dividiram na organização da Indy pela história.

Além desse protagonismo fora das pistas, Patrick seguiu forte dentro. Em 1981, ele quase levou pela segunda vez a Indy 500. Seu piloto na época, Mario Andretti, chegou inclusive a ser declarado vencedor na segunda-feira pós-corrida após os comissários concordarem com um protesto da Patrick que reclamava que Bobby Under, da Penske, teria passado diversos carros na saída de um de seus pits sob bandeira amarela. Só que a Penske também apelou nos dias seguintes e conseguiu reverter a punição.

O troco viria logo na edição seguinte, com Johncock batendo Rick Mears, da Penske, por apenas 0s16 na linha de chegada, em uma das chegadas mais emocionantes da história das 500 Milhas. A Patrick voltava a vencer em Indianápolis.

O Brasil e a Patrick

Bicampeão mundial, Emerson Fititpaldi chegou aos Estados Unidos para uma segunda fase de carreira após o fim da equipe de sua família na F1, a Copersucar-Fittipaldi. Após as primeiras participações na Indy em 1984 pelas equipes WIT Racing e H&R, o brasileiro já fez algumas provas no final daquela temporada pela Patrick e assinou para a temporada completa em 85.

Neste campeonato, ele já venceu sua primeira corrida na categoria, em Michigan, terra da empresa de Pat Patrick, e terminou na sexta posição na classificação geral. O time tinha deixado de fabricar seus carros em 83, e tinha naquele momento um conjunto March-Cosworth.

A evolução continuou com Fittipaldi conquistando mais uma vitória na Indy pela Patrick em 86 e duas tanto em 87 como em 88. Neste último ano, o conjunto mostrou força em Indianápolis com o ex-F1 terminou as 500 Milhas na segunda posição, atrás de Rick Mears.

Em 1989, Patrick estava pensando em se aposentar. Ele vendeu parte de sua equipe para Chip Ganassi, que se tornaria diretor esportivo naquele ano e que em 90 levaria os ativos (carros, sede e contratos) para fundar o próprio time depois. Além disso, o empresário ainda fez um acordo com Roger Penske em que trocava o contrato de Emerson a partir de 1990 (ele seguiria no time em 89) em troca do fornecimento do chassi da Penske já em 1989.

O negócio deixou a Patrick bastante forte para a temporada, com um piloto experiente e veloz, Fittipaldi, um patrocínio importante da Marlboro e um carro extremamente competitivo. Isso tudo também com uma equipe que já tinha diversos nomes importantes nos boxes. Além de Ganassi coordenando a operação, o lendário Jim McGee, campeão com diversas equipes diferentes, era o chefe dos mecânicos e o engenheiro Morris Nunn, ex-F1, cuidava do carro.  

E esse time de craques não decepcionou. Fittipaldi venceu as 500 Milhas de Indianápolis após uma emocionante briga com Al Unser Jr nas voltas finais, e levou o título da categoria ao final da temporada, antes de se despedir da equipe. Foram tanto a última vitória na Indy 500 como título da Patrick.

Emerson vence a Indy 500 de 1989 pela Patrick
(Foto: IMS)

A partir de 90, Pat Patrick partiu para uma empreitada quase que completamente nova ao se despedir desse time todo. Chip Ganassi formou sua futura multicampeã equipe com a estrutura de seu time, e Fittipaldi partiu para a Penske. O dirigente, no entanto, montou uma aliança com a Alfa Romeo, que tentou por dois anos, sem muito sucesso, se estabelecer na Indy.

Depois disso, Patrick mais uma vez vendeu a estrutura de seu novo time, agora para Bobby Rahal. Parecia que era o fim, mas ele fez um acordo para montar uma operação para testar os pneus da Firestone, que entraria na Indy em 95. Com tudo funcionando, o trabalho serviu de motivação e Patrick resolveu mais uma vez seguir com sua equipe.

Em 97, mais uma vez o Brasil cruzou o caminho do time. A cervejaria Brahma, de olho no crescimento da popularidade da Indy no país, patrocinou em 1996 a equipe Green, comprando inclusive o nome do time, que passava a competir sob a bandeira de Brahma Sports Team. A ideia era vender ao público que existia uma equipe brasileira no campeonato.

No segundo ano do projeto, o acordo com a Green não foi renovado e a Brahma desembarcou na Patrick, trazendo além de dinheiro, o piloto Raul Boesel. O orçamento dava a chance para a operação inclusive se estender para o um segundo carro, que teve o americano Scott Pruett. O time, no entanto, seguiu sua sina nos anos 90, sem resultados mais fortes. Pruett e Boesel ficaram em nono e décimo lugares do campeonato.

O projeto da cervejaria brasileira foi encerrado e o time seguiu o seu caminho no pelotão intermediário até voltar a brilhar em 2000, quando voltou a ter um brasileiro entre seus pilotos. A dupla da Patrick foi formada naquela temporada pelo mexicano Adrián Fernández e Roberto Pupo Moreno.

Os dois venceram três provas durante o ano e terminaram em segundo e terceiro, respectivamente, no campeonato, com Fernádez apenas 10 pontos atrás do campeão, Gil de Ferran, da Penske.

Declínio e últimos anos da equipe

A Patrick seguiu na ChampCar até o final de 2003, sem resultados importantes e andando no meio do pelotão. Em 2004, o dirigente, percebendo o declínio na categoria decorrente do racha com a IRL de anos antes, resolveu seguir outras equipes e mudar para o campeonato rival, que se tornaria a atual Indy.

Só que a participação durou apenas uma temporada com uma campanha abaixo da média. Sem patrocinadores para 2005, Pat Patrick finalmente resolveu fechar o time, colocou os ativos da empresa à venda e deixou as pistas, pelo menos como dono de equipe.

Seu legado de mais de 30 anos com uma organização extremamente competitiva, no entanto, ficou mais forte do que a imagem de declínio dos anos finais.

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