Carlos Sainz e Sebastian Vettel em 2015
(Foto: Lars Baron/Getty Images/ Red Bull Content)

Como mudanças de Vettel influenciaram a carreira de Sainz na F1

É curioso pensar como decisões de um piloto podem afetar diretamente a vida de outro. Ainda mais quando isso acontece mais de uma vez e envolve nomes que nem parecem ter uma ligação muito direta. No caso de Carlos Sainz, é difícil saber se ele sequer estaria na F1 se não fosse por uma opção feita por Sebastian Vettel há dez anos.

Era reta final da temporada de 2014 e depois de um domínio de quatro anos do conjunto formado pela Red Bull e Vettel, a F1 tinha uma nova força predominante: a Mercedes de Lewis Hamilton e Nico Rosberg. A mudança aconteceu principalmente pela introdução de um novo regulamento técnico e de motores.

Além de ficar longe da disputa pelo título pela primeira vez em cinco anos, Vettel também enfrentou um momento difícil internamente na Red Bull. Ele tinha um novo companheiro de equipe Daniel Ricciardo, promovido da equipe B do grupo de energéticos para o lugar de Mark Webber, que resolveu se aposentar da F1 ao final de 2013.

Em sua primeira temporada dividindo o time principal da Red Bull, Vettel foi superado pelo novo parceiro, algo que ele ainda não tinha experimentado desde sua estreia na F1, em 2007. Ao final do ano, Ricciardo tinha três vitórias e a terceira posição da classificação geral com 238 pontos, atrás apenas da dupla da Mercedes. Já o alemão tetracampeão mundial não ganhou corridas e marcou apenas 167 pontos, ficando na quinta posição do campeonato.

Claro que a situação incomodou Vettel, que resolveu então tomar uma atitude drástica: aceitar uma proposta da Ferrari. A equipe italiana também passava por uma crise, andando longe das primeiras posições. Mais do que isso, a relação com Fernando Alonso, no time desde 2010, estava bastante desgastada.

Assim, a escuderia rompeu com o espanhol e apostou suas fichas no piloto alemão, tentando talvez repetir a história de Michael Schumacher, ídolo de Vettel. O curioso é que a decisão do tetracampeão causou um efeito dominó que deu uma chance na F1 para Sainz que naquele momento parecia improvável.

Como Sainz recebeu sua primeira chance na F1

Filho de Carlos Sainz, um dos maiores pilotos de rali da história, Carlos Sainz Jr preferiu seguir uma carreira no automobilismo de pista e, em especial, nos monopostos. Após destaque no kart, ele estreou nos carros de competição em 2010 na F-BMW, já fazendo parte do programa de formação da Red Bull.

No ano seguinte, o espanhol teve uma boa temporada nas categorias da F-Renault, se sagrando campeão da versão NEC (Norte da Europa) e ficando com o vice da série continental europeia. Em ambas, ele ficou à frente de Daniil Kvyat, seu concorrente dentro do time júnior da Red Bull.

Os dois anos seguintes, porém, não foram de muito brilho para Sainz. Se ele passou longe de fazer campanhas horríveis, mas também não conseguiu chamar a atenção do mundo com seus resultados. Em 2012, ele foi quinto na F3 Europeia e sexto na versão britânica, conquistando ainda um quarto lugar no Masters de F3. No ano seguinte, terminou na 10ª posição na GP3 dividindo equipe com Kvyat, campeão com sobras da competição.

Com o resultado, a Red Bull resolveu promover o russo para sua equipe B na F1, que na época se chamava Toro Rosso (depois se tornaria a AlphaTauri e atual RB). Sobrou para Sainz uma chance na F-Renault 3.5 em 2014, que na época era uma espécie de concorrente da F2.

Sainz cumpriu seu papel conquistou o título da categoria de base, batendo outro futuro F1, Pierre Gasly, que não fazia parte do programa da Red Bull ainda. Porém, as vagas do time austríaco estavam ocupadas para 2015, com Vettel e Ricciardo no time principal e Kvyat e o novato Max Verstappen na Toro Rosso.

O jovem espanhol ainda seguiria no programa da Red Bull, mas já em conversas para competir na Super Fórmula Japonesa, competição em que a empresa tradicionalmente enviava seus pilotos júnior que ainda não tinham conseguido espaço na F1.

Só que o cenário mudou radicalmente em 20 de novembro de 2014. Vettel comunicou a Red Bull que iria deixar o time e se transferir para a Ferrari. E assim, o time austríaco teve que fazer uma grande revisão dos planos para seus pilotos.

A situação, que não estava nos planos da Rede Bull, fez a empresa precisar rever todo seu projeto de linha sucessória de pilotos. Kvyat, que só tinha uma temporada de experiência na Toro Rosso, foi promovido para o lugar do alemão no time principal ao lado de Ricciardo. E Sainz ganhou uma chance na categoria máxima no lugar do russo para ser companheiro de Verstappen no time B.

Obrigada a rever planos para seu time júnior, a Red Bull anunciou as estreias de Carlos Sainz e Max Verstappen na F1 em dezembro de 2014
Obrigada a rever planos para seu time júnior, a Red Bull anunciou as estreias de Carlos Sainz e Max Verstappen na F1 em dezembro de 2014 (Foto: David Robinson / Red Bull Content)

Nova guinada de Vettel mexe de novo com carreira de Sainz

Os anos se passaram e Sainz nunca conseguiu espaço para se tornar prioridade dentro do programa da Red Bull, que cada vez mais passou a focar em Verstappen.

Depois de duas temporadas na Toro Rosso e vendo o holandês sendo promovido para o time principal da empresa ao lado de Ricciardo, o espanhol sentiu que não teria uma chance no curto prazo e fatalmente acabaria sendo obrigado a abrir caminho para algum novato do programa júnior da Red bull em breve.

Então, ele buscou novas oportunidades e conseguiu convencer seus empregadores a emprestá-lo para a Renault, que estava reestruturando sua equipe na F1. No time francês, ele surpreendeu muita gente ao equilibrar a batalha interna com Nico Hulkenberg (ficou à frente 2017).

Para 2019, no entanto, a Renault preferiu apostar suas fichas em outro ex-Red Bull, Daniel Ricciardo. Com resultados consistentes, Sainz ganhou uma chance na McLaren, que passava por uma grande reformulação e preferiu abandonar sua dupla de pilotos formada por Fernando Alonso e Stoffel Vandoorne para contratar o espanhol e promover o estreante Lando Norris.

O desafio para Sainz não era pequeno já que a equipe britânica vinha de anos a deriva e agora ele enfrentaria um novato cotado como futura estrela da F1 e que era cria da casa. Mesmo assim, ele se mostrou forte para dominar Norris de maneira bastante consistente durante a temporada de 2019, marcando quase o dobro de pontos do britânico, e ainda conquistando o seu primeiro pódio na F1, quebrando também um jejum de mais de cinco anos da McLaren.

Foi quando Vettel surgiu de novo na vida de Sainz. Desta vez, não por uma opção do alemão, mas pelos caminhos de sua carreira. O tetracampeão vinha sendo suplantado pelo jovem Charles Leclerc e sua relação com a Ferrari sofria grande destaque.

Assim, no começo de 2020, a escuderia italiana anunciou que não renovaria o contrato de Vettel ao final daquela temporada e que estava contratando Sainz para 2021. Ambos ainda correriam aquele ano por Ferrari e McLaren, respectivamente, em uma situação bastante parecida com que o próprio espanhol enfrenta agora enquanto aguarda o fim de seu acordo para dar lugar a Lewis Hamilton em 2025.

Em sua quarta temporada pela Ferrari, Sainz soma três vitórias pela equipe
Em sua quarta temporada pela Ferrari, Sainz soma três vitórias pela equipe (Foto: Xavi Bonilla / DPPI /Ferrari)

Desta forma, Sainz chegou à Ferrari onde conquistou – até o momento – todas as três vitórias de sua carreira na F1 e 18 de seus 20 pódios. Com uma olhada pela carreira do espanhol, difícil dizer se ele chegaria a este estágio sem as mudanças surpreendentes de Vettel, porém, é impossível não conectar a história do espanhol com os rumos da carreira do alemão.

Vettel não está mais na F1 para influenciar os próximos passos da carreira do espanhol, que, de qualquer maneira, se estabeleceu de uma forma até surpreendente no Mundial, deixando poucas dúvidas sobre seus méritos para permanecer na categoria pelos próximos anos.

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