(Foto: LAT/Mercedes)

Hamilton volta a chocar a F1 em segunda mudança de equipe na carreira

Apesar de pequenos rumores e alguns flertes, a ideia de uma transferência de Lewis Hamilton para a Ferrari nunca pareceu muito concreta. A situação ficou ainda menos realista quando em agosto de 2023, o britânico anunciou a renovação de seu contrato com a Mercedes por mais dois anos, o que o levaria a competir pelo time alemão até o final de 2025, quando já estaria com 41 anos.

Só que assim como os carros na pista, os bastidores da F1 também se mexem rápido. E neste primeiro dia de fevereiro, a poucos dias do início dos lançamentos dos novos modelos de 2024, a bomba caiu no mercado de pilotos pegando quase que todos de surpresa: Lewis Hamilton será piloto da Ferrari a partir de 2025.

Após alguns relatos na Itália e Espanha, a informação foi relatada com mais firmeza na imprensa inglesa pelas emissoras Sky Sports e BBC. Depois, foi confirmada pelo tradicional jornal italiano Gazzetta dello Sport.

Diante de tamanho debate, que colocou a Ferrari e Hamilton como assuntos mais comentados nos trendings topics mundiais, tanto a escuderia italiana como a Mercedes confirmaram oficialmente a informação quase que de forma simultânea, mostrando certa orquestração.

O comunicado de imprensa da Ferrari, replicado também nas redes sociais, contou apenas com uma frase: “A Scuderia Ferrari tem o prazer de anunciar que Lewis Hamilton irá se juntar a equipe em 2025 em um contrato de vários anos”.

Já a Mercedes, incluiu mais algumas informações apontando que “Lewis acionou uma opção de liberação de seu contrato anunciado no último agosto e esta temporada será assim a sua última pilotando pelas Flechas de Prata”. Ou seja, não existiu uma negociação dos dois lados. O inglês tomou uma decisão unilateral e aproveitou uma cláusula contratual que o permitia seguir por um novo caminho a partir de 2025. Em 24, seu contrato segue válido.

O time ainda lembrou da relação de 17 anos entre a marca e o piloto, que recebeu patrocínio e suporte da montadora alemã já nos tempos do kart e teve apoio durante as categorias de base até a estreia na F1 pela McLaren, que na época era a equipe de fábrica da Mercedes no Mundial.

O comunicado ainda traz palavras tanto de Toto Wolff, chefe da Mercedes que comandou o time durante os seis títulos de Hamilton, quanto do piloto. “Em termos de parceria piloto-equipe, nossa relação com Lewis se tornou a de maior sucesso que a categoria já viu, e isso é algo que podemos olhar para trás com orgulho. Lewis sempre será uma parte importante da história da Mercedes no automobilismo”, afirmou o dirigente austríaco.

“No entanto, sabíamos que nossa parceria iria chegar a um fim natural em algum momento, e esse dia chegou. Aceitamos a decisão de Lewis de buscar um novo desafio, e nossas oportunidades para o futuro são animadoras. Mas agora, ainda temos uma temporada pela frente, e estamos focados em fazer um 2024 forte”, completou.

Como era de esperar por ser um comunicado da Mercedes, a declaração de Hamilton é bem focada em sua relação com a marca e a equipe de F1. “A Mercedes fez parte da minha vida desde que eu tinha 13 anos. É o lugar onde eu cresci, então, a decisão de sair é uma das mais difíceis que já tive que tomar. Mas o momento é o certo para eu dar esse passo e estou animado pelo novo desafio”, afirmou o piloto, que ainda destacou que está “100% comprometido” com a temporada de 2024 pelo time.

O impacto do acordo de Hamilton com a Ferrari

Hamilton é o piloto mais vitorioso da história da F1. Mais do que isso, ele é talvez um dos nomes que possuem o maior impacto fora do ambiente dos autódromos que a categoria já teve. Ele é reconhecido facilmente mesmo por quem não acompanha o esporte a motor pelo seu engajamento social e pela própria forma como gere sua imagem nas redes sociais, sua participação em negócios como investidor em várias áreas na economia e incursão do setor da moda.

Por isso, sua união com a equipe que também é de longe a mais reconhecida da F1, e de forma tão repentina, é uma bomba tão grande para o esporte em geral. Para se ter ideia, as ações da Ferrari na bolsa de Nova York tiveram uma valorização de 9,2% apenas durante o dia do anúncio da transferência, o que representa um ganho de valor de aproximadamente 5,5 bilhões de euros. É a união de piloto pop star com uma das marcas do grid que é praticamente sinônimo de corrida de carros e F1.

Correr pela Ferrari sempre foi um enorme atrativo e vários campeões mundiais já fizeram esse caminho. Vários, porém, não tiveram vida fácil. Isso aconteceu com Alain Prost, Fernando Alonso e Sebastian Vettel, que chegaram como grandes nomes da F1, e acabaram se envolvendo em crises e nunca conseguiram conquistar um novo título vestindo vermelho.

Apenas dois pilotos conseguiram chegar na Ferrari já campeões e voltaram a erguer a taça pela escuderia: Juan Manuel Fangio e Michael Schumacher. Não existe muita dúvida que se existe alguém para competir no nível deles, Hamilton é um dos melhores candidatos.

Mas será que perto do final e sua carreira, Hamilton dá um passo certo ao trocar de equipe para competir ao lado de Charles Leclerc, que fez parte da academia de formação do time italiano e compete pela equipe na F1 desde 2019, trocando a comodidade do time pelo qual corre há 11 anos e conquistou seis campeonatos mundiais?

Lewis Hamilton e Charles Leclerc serão companheiros na Ferrari
Lewis Hamilton e Charles Leclerc serão companheiros na Ferrari (Foto: Jiri Krenek/Mercedes)

Troca anterior também chocou a F1

A Ferrari será apenas a terceira equipe pela qual Hamilton irá competir em sua carreira de 16 anos na F1. Neste tempo na categoria, ele nunca correu em um carro que não fosse equipado com um motor que não fosse o Mercedes.

Mas se hoje parece que sua carreira foi apenas um passeio de cruzeiro em que ele deu sorte de estar sempre em equipes grandes, sua transferência em 2013 da McLaren para a Mercedes foi algo que chamou muito atenção na F1 na época.

Hamilton estreou no Mundial em 2007 para ser uma espécie de piloto aprendiz de Fernando Alonso na McLaren. Ninguém esperava que ele logo de cara bateria de frente com o espanhol, que na época era o principal pilotodo grid e então bicampeão mundial de 2005 e 06. A história mostra o que aconteceu (você pode conferir em vários conteúdos produzidos aqui no Projeto Motor sobre o período) com Hamilton se destacando e se sagrando campeão logo em sua segunda temporada.

Só que no começo da década de 2010, a McLaren começou a sofrer com altos e baixos. Paralelamente, a Mercedes, que era fornecedora e acionista do time comandado de Woking, viu a oportunidade de começar a criar sua própria operação ao comprar a Brawn GP.

O projeto inicial da Mercedes contou com Nico Rosberg e Michael Schumacher e entre 2010 e 12, se arrastou com mais decepções do que alegrias. A primeira vitória aconteceria de forma circunstancial com Rosberg em 2012. Só que na mesma temporada, o time sequer passava com seus carros do Q2 da classificação em diversas etapas.

Vendo, no entanto, um movimento de engenheiros importantes saírem da McLaren, entre eles Paddy Lowe, que trocava o time inglês justamente pela Mercedes, Hamilton, após não conseguir avançar em uma negociação com a dominante Red Bull, resolveu aceitar o desafio proposto pelo então consultor do time alemão, Niki Lauda, de se transferir para Brackley.

É muito importante contextualizar aqui que Hamilton estava trocando uma equipe que tinha lhe dado um título Mundial e vencido 18 corridas entre 2010 e 12 por uma que tinha apenas uma vitória nos três anos anteriores e passava por uma ampla reformulação.

Para se ter ideia de como a transferência era vista na época, em uma participação no programa “Top Gear” da emissora britânica “BBC” após o anúncio, ainda em 2012, Hamilton foi questionado pelo apresentador da época, Jeremy Clarkson, se trocar a McLaren pela Mercedes não seria o mesmo que trocar o Manchester United (que tinha vencido quatro das últimas cinco edições da Liga Inglesa de futebol) pelo West Ham (pequeno clube de Londres que nunca foi campeão inglês).

Hamilton passou uma primeira temporada de adaptação no time, em que já conseguiu sua primeira vitória, enquanto o novo companheiro, Rosberg, conquistou outras duas. O inglês, no entanto, terminou à frente do alemão no campeonato, na quarta posição na classificação geral, o que já mostrava que existia algum potencial em vista.

O pulo do gato (e de Hamilton), no entanto, estava em 2014. A Mercedes investiu alto para a grande mudança de regulamento daquela temporada, que além de mudar bastante os carros, ainda introduzia os novos motores V6 híbridos, utilizados até hoje na categoria.

Logo de cara, a Mercedes passou a ser a equipe dominadora – enquanto a McLaren passou a enfrentar um longo jejum de vitórias – e Hamilton venceu seis dos sete campeonatos seguintes, mostrando que ele tinha razão na troca de equipe.

A situação de agora até chama atenção para algumas semelhanças. A Mercedes perdeu diversos engenheiros importantes nos últimos anos e tem enfrentado bastante dificuldade para se adaptar ao novo regulamento de chassi introduzido em 2022. Sua mudança em 2025 acontecerá um ano antes justamente de uma nova alteração de regras, que volta a mexer na configuração da unidade de potência.

E nas negociações para a transferência para a Ferrari, que, segundo relatos da imprensa internacional, aconteceram diretamente entre Hamilton e o chefe do Conselho da montadora de Maranello, John Elkann, foi mostrado ao inglês os planos de curto e médio prazo da equipe que continham todo o investimento financeiro e técnico para tornar a Ferrari a nova líder nas novas tecnologias de unidades de potência.

As conversas teriam se arrastado de forma informal por vários meses, mas durante janeiro de 2024, Hamilton teria finalmente se convencido de que era hora de um novo passo em sua carreira. Se ele estará certo de novo sobre o movimento, só o tempo dirá.

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