Toto Wolff celebra mais uma vitória da Mercedes
(Foto: Steve Etherington/Daimler)

Toto Wolff: o ex-piloto frustrado e investidor que comanda a Mercedes

Em meio às confusões de Lewis Hamilton e Nico Rosberg, chama a atenção cada vez mais a importância de Toto Wolff na Mercedes. Após chegar à F1 como um mero investidor e agente de pilotos, hoje ele é um dos principais dirigentes da categoria.

Curiosamente, para muitos, este austríaco apareceu meio que do nada, primeiro ali na Williams e depois para assumir o departamento esportivo de uma das principais fabricantes de automóveis do mundo. Mas ele tem um histórico bastante ligado ao automobilismo, começando, como muitos dos principais dirigentes da história, como piloto, para depois se tornar um investidor e, hoje, um dos principais dirigentes do esporte.

Nascido em 12 de janeiro de 1972, em Viena, Torger Christian Wolff começou sua carreira de piloto na F-Ford Austríaca, sem nenhuma experiência no kart. Nos anos seguintes, seguiu competindo neste nível, participando paralelamente da versão alemã do campeonato. Sem sucessos, ele rapidamente viu que não poderia continuar se dedicando em tempo integral para ser um profissional do volante, já mostrando sua personalidade racional e fria para tomar decisões.

“Percebi que não tinha o talento, que provavelmente eu era muito alto e que eu não tinha a base para ter uma carreira de sucesso até a F1. Meu interesse era só de chegar ao topo, no caso, a F1. As coisas simplesmente não se encaixavam e então fui trabalhar com finanças”, explicou em uma peça promocional de um patrocinador da Mercedes. “Foi uma experiência tão dolorosa de abandonar o que eu amava, que passei meses no banco em que eu trabalhava chorando nos intervalos. Eu tentei ser realista. Em um mundo de especialistas, você precisa entender qual seu talento, trabalhar naquilo e desenvolver”, continuou.

A partir desde momento, ele passou a competir em provas GT, incluindo o FIA GT, mas sempre como gentleman driver. Em 2006, Wolff chegou vencer as 24 Horas de Dubai enquanto também competiu no campeonato austríaco de rali.

Seu foco, porém, passou a ser fora das pistas. No final dos 90, o austríaco começou a construir uma carreira como investidor, especialmente no setor de tecnologia e internet. Não demorou muito para que, após alguns anos, conseguisse unir sua paixão aos negócios. E foi neste momento em que ele iniciou sua relação com a Mercedes.

Em 2006, ele comprou 49% da HWA AG, empresa que nasceu da AMG, e que é responsável pelo desenvolvimento de chassis e motores da Mercedes na categoria alemã e outros certames como campeonatos de F3 e GT.

Wolff também iniciou no final da década de 2000 uma parceria com o ex-piloto Mika Hakkinen em uma empresa de agenciamento de pilotos, pela qual assumiu a carreira de nomes como Bruno Spengler, Alexandre Premat e Valtteri Bottas. Mas ele chegou mesmo à F1 em 2009 através de uma oportunidade na equipe Williams, que passava por dificuldades e precisava de um novo investidor que pudesse injetar algum dinheiro na operação.

“Quando eu recebi a ligação para uma reunião com Frank Williams, eu tirei o dia de folga. Fui lá, conheci a fábrica e Frank foi muito direto: ‘eu preciso pagar a hipoteca da casa, por isso quero vender algumas ações e ouvi dizer que você tem condições de comprar’.”

O austríaco comprou 15% da tradicional equipe e entrou no Conselho. Três anos depois, ele assumiu o cargo de diretor executivo da empresa e passou a ter mais espaço e direito a opiniões no dia-a-dia do time.

Ao fim de 2012, a Mercedes já somava três temporadas desde seu retorno como equipe oficial e sem sucessos. Uma reestruturação começou a ser feita. Norbert Haug, que desde 1990 chefiava o departamento esportivo da fabricante, abandonou o cargo. Ross Brawn, que seguia como um dos principais dirigentes na F1 da companhia, após a venda da Brawn GP, também perdeu espaço.

Niki Lauda já tinha chegado para assumir um cargo não executivo, principalmente para fazer uma ponte entre a empresa e a escuderia de F1 . Após uma rápida negociação, o Conselho resolveu apostar também Toto Wolff para ser seu novo diretor esportivo e principal nome à frente da equipe de F1, além de adquirir 30% das ações do time.

O trio Toto Wolff, Niki Lauda e Ross Brawn colocou a Mercedes no trilho das vitórias na F1
O trio Toto Wolff, Niki Lauda e Ross Brawn colocou a Mercedes no trilho das vitórias na F1 (Foto: Daimler)

O austríaco assumiu um posto em que cuida mais das questões políticas e comerciais, deixando a parte técnica com o engenheiro Paddy Lowe. Ele participa ativamente da administração do time, até mesmo com relação da forma como lidar com seus pilotos, mas repete como um mantra que a figura de um chefe geral em uma equipe de F1 está com seus dias contados.

“A F1 era diferente. As equipes eram muito menores em tamanho, com 150 a 200 pessoas. Não funciona mais assim. Somos 1.200 pessoas. Você não consegue administrar tudo sozinho. Você não consegue ter a base e a habilidade necessária para administrar parte de corrida, de engenharia, esportiva, política, buscar patrocinadores, negociar com o detentor dos direitos comerciais…”

Com esta mentalidade, Wolff criou durante 2013 a estrutura que acreditava ser necessária para que a equipe de F1 funcionasse de forma mais redonda. E deu certo. Com a grande mudança de regulamento aerodinâmico e de motores de 2014, a equipe passou a dominar o Mundial e hoje tem como maior responsabilidade lidar com os egos de seus pilotos. E por suas demonstrações de racionalidade e firmeza nos bastidores, já mostrou que não deve ter medo de tomar decisões mais duras quando necessário, o que cada vez mais lhe dá autoridade dentro do time.

Wolff, aos poucos, já se desfez de sua parte na Williams, onde sua esposa, Susie Wolff, permaneceu como piloto de testes até o final de 2015. Atualmente, ela é chefe da equipe Venturi, da Fórmula E. Ele segue, paralelamente ao seu papel na Mercedes, com a empresa de agenciamento de carreiras – apesar de ter se tornado apenas acionista e não ter mais papel atuante nas negociações dos pilotos – e com investimentos nos setores de tecnologia e indústrias médias listadas em bolsa.

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