O que Bortoleto fez diferente de outros brasileiros para chegar à F1
Gabriel Bortoleto foi anunciado nesta quinta-feira (06) como novo piloto titular da Sauber na F1 para 2025. A equipe suíça segue com o seu tradicional nome na próxima temporada, mas foi comprada pela Audi, que fará a transição total da alcunha da operação e motor em 26. Ele será companheiro do experiente alemão Nico Hulkenberg.
O paulista de 20 anos se tornará o 32º piloto brasileiro da história a correr na F1. Bortoleto encerra também um hiato de sete anos sem um representante do país de forma regular no grid.
O último titular brasileiro na F1 a competir por toda uma temporada foi Felipe Massa, pela Williams, em 2017. Depois disso, Pietro Fittipaldi também largou em duas corridas em 2020, porém, apenas como substituto pontual na Haas de Romain Grosjean, que tinha se lesionado em um grave acidente no GP do Bahrein daquele ano.
A saga brasileira por um piloto na F1 nestes últimos anos deixou a torcida bastante frustrada em vários momentos. Enzo Fittipaldi, Felipe Drugovich, Caio Collet e Gianluca Petecof foram alguns dos candidatos que surgiram com mais força e todos chegaram a participar de programas oficiais de equipes do Mundial.
Fittipaldi e Drugovich venceram corridas na F2, sendo que o segundo se sagrou campeão da principal categoria da base da F1 em 2022, encerrando um jejum brasileiro de 22 anos do Brasil no campeonato.
Drugovich segue ainda hoje como piloto da Aston Martin, participando de testes e treinos livres, mas com o bicampeão Fernando Alonso e o filho do proprietário do time Lance Stroll como titulares, segue com poucas chances de ser promovido na equipe britânica.
Considerando então que vários desses brasileiros que orbitaram a F1 nos últimos anos mostraram talento em algum momento, o que deu certo para Bortoleto que não deu certo para seus conterrâneos?
Existem vários fatores que se encaixaram para o jovem piloto. E tudo precisou se alinhar com alguma precisão para ele ter sua chance, já que apenas uma dessas situações claramente seria pouco.
Inclusive, várias dessas outras promessas brasileiras também acumularam algumas destas questões, mas a verdade é, por situações próprias ou que estavam fora do controle, nunca juntaram o pacote completo como Bortoleto.
Planejamento, staff e empresário de Bortoleto
No automobilismo, talento é primordial, mas precisa ser acompanhado de investimento e boas relações. Bortoleto teve desde pequeno uma estrutura trabalhando em sua carreira para garantir as melhores oportunidades para ele mostrar seu trabalho.
A família de Bortoleto é bastante ligada ao automobilismo. Seu pai, Lincoln Oliveira, é um empresário de muito sucesso no ramo de telecomunicações, internet e telefonia celular como controlador da companhia America Net.
Em 2020, ele foi um dos principais investidores do fundo United Partners, que adquiriu o controle da Vicar, empresa que organiza a Stock Car entre outras categorias como a F4 Brasil, Turismo Nacional, TCR Brasil e TCR South America.
Para completar, há pouco mais de um mês, em outubro, a Vicar anunciou que Oliveira irá substituir o atual CEO, Fernando Julianelli, como o comandante da empresa a partir de 2025, a princípio de forma interina.
O irmão mais velho de Gabriel é o ex-piloto Enzo Bortoleto, de 26 anos. Enzo atualmente é chefe da equipe KTF, de propriedade da família, que compete na Stock Car e na Endurance Brasil.
Além disso, ele também trabalha na Audace Tech, braço do grupo atualmente responsável pelo departamento técnico da Stock Car, como o desenvolvimento dos carros e motores da categoria nacional.
Com todo esse envolvimento e Gabriel mostrando já nos tempos de kart que tinha talento para ir longe na escada do automobilismo internacional, a família desde cedo tratou de cercá-lo de um time de comunicação, marketing e pessoas influentes para ajudá-lo na caminhada.
Em 2022, mais um passo importante para criar essa estrutura foi dado. Bortoleto assinou contrato com a empresa A14 Management de agenciamento de pilotos. Entre os proprietários da empresa está Fernando Alonso, que passou não só falar do brasileiro em entrevistas, estar ao seu lado em corridas que aconteciam junto da F1 e até mesmo enviar mensagens de apoio, como ainda participar pessoalmente de reuniões com equipes para negociar contratos.
A influência do espanhol junto com o restante do time da agência abriu diversas portas importantes na F2 e na F1 para Bortoleto.
Resultados fortes de Bortoleto de forma constante
Em tempos de pontuação por resultados na base para a Superlicença da F1 e teto orçamentário, não adianta apenas ter contatos e verba de marketing sem provas de talento para chegar à F1.
Desde muito jovem, Bortoleto se mostrou um competidor forte. Em 2018, ele foi terceiro colocado nos campeonatos Mundial e Europeu de kart. Em 2020, estreou nos carros aos 16 anos com um quinto lugar na F4 Italiana. Em 22, terminou em sexto na Freca (F-Regional Europeia por Alpine).
Seu nome despontou de vez em 23, quando ele sagrou campeão da F3 FIA logo em sua primeira temporada na categoria e de forma dominante, com mais de 40 pontos de vantagem para o segundo colocado.
A campanha o levou a assinar um contrato com a academia de formação da McLaren. O acordo lhe abriu as portas para conhecer o trabalho interno da equipe, utilizar o simulador e estrutura do time britânico da F1, além de ter um acompanhamento técnico para seu desenvolvimento.
Em 24, ele mais uma vez chamou a atenção de todos do paddock ao realizar uma campanha de destaque na F2 logo em sua primeira temporada na categoria. Apesar de um começo turbulento, ele logo se adaptou e conseguiu iniciar uma recuperação.
Há algumas semanas, quando seu nome ainda era um rumor nos bastidores para uma possível promoção ao Mundial, Bortoleto teve uma atuação de muito evidência na prova principal da rodada de Monza em que venceu após largar na última posição do grid.
Hoje, faltando apenas mais duas rodadas para o final do campeonato, ele lidera a classificação geral e se coloca como um dos favoritos ao título. O fato dele brigar pela taça no último degrau da F1 em seu ano de estreia, logo após conquistar a F3, definitivamente o colocou entre os cotados para uma vaga no grid do Mundial.
[Atualizado 08/12/2-24] Já com o contrato assinado para a F1, ele seguiu com boas atuações e conquistou o título da F2 na rodada final em seus ano de estreia, logo após conquistar a F3, o que confirmou o seu bom momento e abriu muitos sorrisos nos rostos dos principais dirigentes da Sauber/Audi.
Timing
Não tem jeito. Em uma categoria com apenas 20 carros no grid, chegar na hora certa é essencial. Não só brasileiros, mas vários outros talentos da história recente da base da F1 sofreram ao amadurecerem suas carreiras em um momento em que não existiam vagas ou com as existentes já reservadas para integrantes de programas internos das equipes.
Talvez, se precisasse fazer uma segunda temporada na F2, algo bastante comum entre os pilotos da base, Bortoleto poderia perder sua chance mesmo com seus resultados e estrutura extra pista.
Em 26, com uma grande mudança de regulamento tanto de chassi como de motores, muitos times devem optar por não arriscar em novatos. Além disso, para 25, aconteceram movimentos importantes em uma espécie de dominó de eventos que abriram novas vagas no Mundial.
A chegada da Audi comprando e reorganizando a Sauber também criou uma oportunidade. A nova administração da equipe resolveu apostar em uma mudança total de sua dupla já de olho na entrada definitiva da marca em 26.
Assim, a equipe percebeu a oportunidade de juntar a experiência de Hulkenberg para contribuir com a transição com a juventude de Bortoleto, ainda com tempo de ganhar experiência e se provar antes de vestir de vez o macacão com as argolas da marca alemã.
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