(Foto: Dutch Agency/F2)

Drugovich encerra jejum do Brasil na principal categoria antes da F1

Felipe Drugovich conquistou neste sábado (10) o título da F2, principal categoria da base da F1. Desta forma, o paranaense colocou fim a um hiato de 22 anos em que nenhum piloto brasileiro conquistava o campeonato, seja nas duas encarnações da F2, e suas versões com nome F3000 e GP2.

Em 55 anos de história desses campeonatos que teoricamente levam à F1, Drugovich passa a ser apenas o quinto brasileiro campeão, o que mostra a importância da conquista. O último tinha sido Bruno Junqueira, em 2000, ainda na época em que a competição tinha o nome de F3000.

O título de Drugovich é ainda mais valorizado neste sentido pelo fato da atual F2 ter se tornado nos últimos anos uma categoria quase que obrigatória para chegar à F1, principalmente após a introdução da nova regra da Super Licança pela FIA. Antes, muitos pilotos pulavam esse último degrau.

Assim, apesar da F2 Euro, que era o certame mais próximo da F1 entre os anos 60 e começo dos 90, a F3000, entre os 90 e 2000, e a GP2, até metade da última década, já serem bastante importantes, elas nunca foram necessariamente um passo obrigatório, principalmente para pilotos que já destacavam em campeonatos menores, como a F3 Britânica ou Europeia da época.

Como a F2 atual (para os três primeiros) e a Indy (para o campeão) são os únicos campeonatos do mundo que já distribuem pontos que podem levar a uma Super Licença da F1 de forma direta, quase nenhum piloto teve nos últimos quatro anos como driblar a categoria.

A jornada de Drugovich

Nascido em Maringá, no interior do Paraná, o piloto de 22 anos tem uma carreira de altos e baixos, em que precisou por diversas vezes buscar o caminho que nem sempre era o mais óbvio para chegar à uma posição de protagonismo na base. Isso aconteceu principalmente pelo fato dele nunca ter se aliado ou entrado em nenhum programa de formação de marcas ou equipes da F1.

A carreira de Drugovich foi basicamente bancada pela família, que possui uma empresa de autopeças no Paraná, e alguns patrocinadores que surgiram durante o caminho por conta do destaque cada vez maior que ele conquistou.

Com vitórias no kart brasileiro, principalmente em competições no sul do país, ele partiu para competir em campeonatos importantes na Europa em 2014. Apesar de não conquistar títulos importantes, nos dois anos correndo no Velho Continente, ele se manteve sempre entre kartistas de mais destaque nos Mundiais, Copas e Europeus.

Assim, em 2016, aos 16 anos, ele fez sua estreia nos carros, participando da F4 Alemã, terminando na 16ª posição. No final daquela temporada, ele participou do MRF Challenge, competição com sede na Índia tradicionalmente utilizada por pilotos da base como uma espécie de pré-temporada. Ele ficou na quarta posição, logo atrás de Mick Schumacher, futuro F1.

Com mais experiência em fórmulas, ele retornou em 2017 à F4 Alemã, e ficou desta fez na terceira posição do campeonato, com sete vitórias. No final do ano, ele retornou ao MRF Challenge e conquistou seu primeiro título internacional, com 10 vitórias em 16 corridas.

Em 2018, ele levantou nova taça, na Euroformula Open, competição sucessora da F3 Espanhola. Nesta, Drugovich teve uma campanha dominadora, com 14 vitórias e 16 pódios em 16 corridas.

Com esses dois títulos debaixo do braço, o brasileiro partiu em 2018 para a F3 FIA, competição que já faz parte da programação das etapas da F1. Porém, a equipe Carlin teve grandes dificuldades na temporada e não conseguiu ter um carro competitivo.

Drugovich terminou apenas na 16ª posição no campeonato, mas à frente dos dois companheiros. Um deles era o americano Logan Sargeant, que seria terceiro no ano seguinte pela Prema, e que atualmente é o terceiro colocado da F2 e bastante cogitado para uma vaga na F1.

Drugovich na F2

Em vez de tentar mais uma temporada na F3 em mais uma equipe intermediária, Drugovich preferiu dobrar a aposta e subir logo, aos 20 anos, para F2. Ele fechou com a equipe MP, um time de médio porte, para fazer a estreia em 2020.

E mesmo com as dificuldades de um novato, a primeira participação do paranaense chamou a atenção principalmente pelas três vitórias e quatro pódios. No entanto, a inconstância tanto dele quanto de sua equipe (com estratégias questionáveis), o deixaram longe da briga pelas primeiras posições do campeonato, fechando a temporada em nono lugar.

Para a temporada de 2021, Drugovich deu um salto que parecia ser a grande chance de sua carreira. Ele fechou com a UNI-Virtuosi, uma das equipes com estrutura de ponta na F2. O resultado, no entanto, acabou sendo decepcionante. O brasileiro não se adaptou ao time e ficou apenas em oitavo no campeonato, enquanto seu companheiro, o chinês Zhou Guanyu, ficou em terceiro, 78 pontos à sua frente.

Drugovich celebra vitória na etapa de Zandvoort da F2
Drugovich celebra vitória na etapa de Zandvoort da F2 (Foto: Dutch Photo Agency/F2)

Drugovich então deu um passo aparentemente para trás em 2022 ao retornar para a MP em sua terceira temporada na F2. Só que desta vez, o encaixe foi perfeito. O brasileiro já começou bem a temporada e assumiu em definitivo a liderança do campeonato ao final da quarta rodada dupla.

Até Monza, penúltima etapa, foram 12 rodadas em que Drugovich conquistou cinco vitórias (quatro delas na corrida principal do final de semana), quatro pole positions e nove pódios. Ele lidera todas as estatísticas, mostrando a consistência no campeonato.

Neste sábado, mesmo com um abandono por conta de um acidente na primeira volta, o resultado ruim do rival Théo Pourchaire o deixou em posição em que não pode ser mais alcançado. Assim, ele garantiu o título com três baterias de antecedência (uma em Monza e duas em Abu Dhabi).

[Atualizado em 12/09/2022 às 14 horas] Agora, como campeão, ele não pode voltar a competir na F2. Drugovich assinou um contrato em que se torna o primeiro membro do Programa de Desenvolvimento de Pilotos da Aston Martin. O time inglês sequer tinha reservas e usava, quando necessário, pilotos da parceira Mercedes. Isso aconteceu, inclusive, na sexta-feira do GP da Itália, quando Nyck de Vries substituiu Sebastian Vettel, para a equipe cumprir o regulamento de participação de pilotos jovens em treinos livres durante a temporada da F1.

Segundo o comunicado da Aston Martin, Drugovich se torna automaticamente piloto reserva da equipe e irá participar já em 2022 do primeiro treino livre do GP de Abu Dhabi no lugar de Lance Stroll, além dos testes pós-temporada, também em Yas Marina, para jovens pilotos.

Em 2023, ele irá passar por um programa de testes com o carro de 2021 da Aston Martin, além de participar de algumas sessões de treinos livres em GPs.

Os outros brasileiros campeões da principal categoria de base da F1

Roberto Pupo Moreno (1988)

Quando conquistou o título da F3000, Roberto Moreno já era um piloto experiente. Para se ter ideia, ele já tinha participado de três GPs de F1. Um pela Lotus, em 1982, em que não conseguiu se classificar para o grid, e dois pela AGS, em 1987, em que conquistou um ponto pela pequena equipe francesa com um sexto lugar no GP da Austrália.

Moreno também já tinha participado de uma temporada completa da Indy, em 1986, terminando na 16ª posição pela equipe Galles Racing. E na própria F3000, ele já tinha certa experiência, com cinco corridas entre 1985 e 86, com um quinto lugar como melhor resultado.

Para 88, Moreno assumiu um dos carros da equipe inglesa Bromley Motorsport, que não estava entre as mais bem estruturadas do campeonato. Mesmo assim, o brasileiro fez uma bela campanha com quatro vitórias, três pole positions e quatro pódios em 11 etapas.

Desta forma, ele terminou com o título à frente de diversos pilotos que viriam no futuro a correr na F1, como Olivier Grouillard, Martin Donnelly, Pierluigi Martini, Bertrand Gachot, Mark Blundell, Gregor Foitek, Johnny Herbert, Éric Bernard, Jean Alesi, Marco Apicella, Jean-Denis Délétraz e Andrea Chiesa.

Roberto Moreno foi o primeiro brasileiro campeão da F3000 Internacional, categoria de base mais próxima da F1

No ano seguinte, Moreno fez quatro corridas pela pequena Coloni na F1 e passou quase toda a temporada de 90 lutando na pré-classificação pela EuroBrun.

Nas últimas duas etapas daquele campeonato, no entanto, veio sua grande chance, quando foi chamado para substituir Alessandro Nannini na Benetton. E logo na primeira participação, não decepcionou. Ele terminou em segundo no GP do Japão, completando a dobradinha da equipe atrás do compatriota Nelson Piquet.

Moreno seguiu na Benetton na temporada de 1991 e teve dois quartos lugares como melhores resultados. Mas ele acabou demitido antes da 12ª etapa para dar lugar a estrela em ascensão Michael Schumacher. Ele ainda conseguiu vagas para terminar o ano no grid fazendo duas corridas pela Jordan e a última pela Minardi.

Em 92, ele começou o ano pela pequena e desorganizada Andrea Moda, e teve o famoso desempenho em que conseguiu classificar o fraquíssimo carro da equipe italiana para o grid no GP de Mônaco. A última passagem dele pela F1 aconteceria em 1995, pelo time ítalo-brasileiro Forti-Corsi, que tinha um carro problemático e que se arrastava no fundo do pelotão.

Moreno então voltou sua carreira para os Estados Unidos, se tornando um piloto regular da Indy, conquistando duas vitórias e ficando na terceira posição no campeonato de 2000.

Christian Fittipaldi (1991)

Com nome de peso, filho de Wilson Fittipaldi e sobrinho do bicampeão mundial Emerson, Christian era no começo dos anos 90 uma das principais promessas do automobilismo brasileiro.

Em sua época do kart, dividiu as atenções e títulos com seu principal rival em pistas brasileiras, Rubens Barrichello. Em 1990, ele partiu para a Europa e competiu na F3 Britânica, que na época era uma das principais categorias de base no caminho da F1. Ele terminou em quarto em temporada que foi vencida pelo futuro bicampeão mundial Mika Hakkinen.

Em 1991, ele entrou na F3000 pela britânica Pacific Racing, equipe com certa tradição em F3, mas que ainda não tinha conquistado títulos na principal categoria de base.

Em uma temporada bastante dura, Fittipaldi acabou com o título superando outros dois futuros F1, Alessandro Zanardi e Emanuele Naspetti. Naquele ano, também participaram do campeonato Damon Hill, Karl Wendlinger, Heinz-Harald Frentzen entre outros pilotos que chegaram à categoria principal no futuro.

Christian Fittipaldi foi campeão da F3000 logo em sua primeira temporada na categoria

Fittipaldi conseguiu uma vaga na F1 em 1992 pela equipe Minardi, time que ficava da metade para trás do pelotão. Ele terminou o ano com um ponto (o único do time italiano), conquistado no sexto lugar do GP do Japão.

Em 1993, ele seguiu na Minardi em uma temporada que conseguiu resultados um pouco melhores, terminando o ano com cinco pontos conquistados com o quarto lugar no GP da África do Sul e o quinto em Mônaco.

Mas a relação com a Minardi se desgastou durante o ano e ele procurou novos ares para 94. Assim, ele se transferiu para a Arrows, onde conquistou mais seis pontos para o seu currículo com mais dois quartos lugares nos GPs do Pacífico e da Alemanha.

Sem chance de ter um carro competitivo na F1 para 95, Fittipaldi preferiu olhar para os Estados Unidos e partiu para uma carreira na Indy. No ano de estreia, conquistou um memorável segundo lugar nas 500 Milhas de Indianápolis. Ao total, ele competiu em 138 corridas na categoria americana por sete anos, conquistando duas vitórias.

Christian também construiu uma sólida carreira no endurance, vencendo por três vezes as 24 Horas de Daytona e uma vez as 12 Horas Sebring e conquistando em duas oportunidades o campeonato americano de provas de resistência, antecessor da atual IMSA.

Ricardo Zonta (1997)

Entre os vários nomes brasileiros que partiram para uma carreira na Europa durante a década de 90, Ricardo Zonta foi um dos que mais se destacou. Campeão da F3 Sul-Americana de 1995, batendo Max Wilson, ele subiu diretamente para a F3000 em 96. E não fez feio.

Mesmo como estreante e nenhuma experiência no automobilismo europeu, ele ficou na quarta posição do campeonato, vencendo duas corridas e subindo quatro vezes no pódio. Paralelamente, ele também participou de duas etapas do DTM, campeonato alemão de turismo, pela Mercedes.

No ano seguinte, pela equipe italiana Draco Engineering, ele conquistou o título da F3000, com três vitórias e cinco pódios, batendo Juan Pablo Montoya por apenas 1,5 ponto. O título chamou a atenção de uma das principais equipes de F1 da época, e Zonta foi contratado pela McLaren para ser piloto de testes do time.

Zonta foi campeão em sua segunda temporada na F3000 Internacional

Mantendo também uma ligação com a Mercedes, que era fornecedora de motores e acionista da McLaren na época, quando não estava testando pelo time da F1, Zonta também teve a oportunidade de competir no FIA GT pela marca alemã. E, pela terceira vez em quatro anos, ele mais uma vez encerrou a temporada com título, batendo outros pilotos que correriam mais tarde pela F1 como Mark Webber e Allan McNish.

Em 99, Zonta conseguiu a sua chance para estrear da F1. Ele recebeu uma proposta da nova equipe BAR, que chegada à categoria com um grande investimento de uma marca tabagista. Ele foi liberado de seu contrato de piloto de testes da McLaren e se tornaria companheiro de equipe do campeão mundial Gilles Villeneuve.

Em duas temporadas pelo time, no entanto, Zonta teve pouco sucesso no time. O paranaense foi regularmente batido por Villeneuve e entregou poucos resultados. Assim, ao final de 2000, ele acabou deixando a equipe. Para o ano seguinte, ele voltou a ser piloto de teses, agora da Jordan. Ele ainda chegou a participar de duas provas no lugar do contundido Heinz-Harald Frentzen.

Em 2022, ele deu um passo atrás voltando para uma categoria de base. Ele correu na Nissan World Series, antecessora da F-Renault 3.5 World Series, que nos anos 2000 chegaria a se tornar uma das principais séries da base europeia. E, mais uma vez, ele mostrou a sua força ao abocanhar mais um título importante.

Desta forma, ele conseguiu retornar à F1, ainda como piloto de testes, na Toyota. Ele seguiu com a equipe japonesa por quatro anos, chegando a participar de cinco provas neste período, durante a temporada de 2004, substituindo o compatriota Cristiano da Matta, que perdeu a vaga após desentendimentos com direção da equipe.

Zonta ainda ficaria mais uma temporada ligado a um time da F1, como piloto de testes da Renault, em 2007. Mas foi uma passagem rápida, com ele já começando a focar no que seria o futuro da sua carreira: a Stock Car. Ele segue até hoje na categoria brasileira, não dispensando, no entanto, a chance de fazer algumas provas internacionais, principalmente no endurance.

Bruno Junqueira (2000)

O último campeão brasileiro da principal categoria da base da F1 antes de Drugovich chegou a Europa após conquistar o título da F3 Sul-Americana de 1997. E ele subiu diretamente para F3000, a princípio, pela equipe Draco Engineering.

Em 99, a Petrobrás abriu uma equipe própria na F3000, com apoio técnico do time Super Nova Racing. A estatal brasileira, que também patrocinava a Williams na F1, fez um grande investimento no time, com o objetivo principal de impulsionar a carreira de jovens pilotos brasileiros.

Junqueira foi um dos beneficiados desta ação e competiu pela nova equipe, além de passar a testar o carro de F1 da Williams a partir daquela temporada. No primeiro ano da experiência, o piloto mineiro, então com 23 anos, terminou na quinta posição do campeonato. Em 2000, ele conquistou a taça, em temporada que teve Mark Webber terminando na terceira posição e Fernando Alonso, em quarto.

Mesmo com o título e duas temporadas de trabalho como piloto de testes da Williams, Junqueira nunca conseguiu uma chance da F1. Em 2001, então, ele migrou sua carreira para os Estados Unidos para competir na Indy, chegando a vencer 9 provas na ChampCar.

A partir de 2011, seu foco passou a ser no endurance americano, principalmente na IMSA.

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