Briatore é uma das figuras mais polêmicas da história da F1

Tem até assassino: sete chefões da F1 que fazem Briatore parecer santo

Flavio Briatore talvez seja a figura mais controversa da F1 nos últimos 30 anos. Reconhecidamente um homem de negócios habilidoso e empresário astuto, o italiano também tem em seu currículo uma série de ações polêmicas e pouco aceitáveis eticamente.

Por exemplo, foi ele Briatore quem, ao lado de Pat Symonds, arquitetou o malogrado acidente proposital de Nelsinho Piquet no GP de Singapura de 2008, que culminouna vitória de Fernando Alonso e em sua saída definitiva da categoria (pelo menos por enquanto).

Também era Briatore o chefe da Benetton quando, em 1994, a escuderia virou suspeita de implantar assistências eletrônicas proibidas no B194 que levou Michael Schumacher a seu primeiro título mundial. Um ano depois, o dirigente comandou uma estranha transação de compra da Ligier, que permitiu a seu time passar a contar com os motores Renault a partir da temporada seguinte.

Em 2015, Briatore foi condenado pela Justiça italiana a um ano e 11 meses em liberdade condicional, por sonegar 3,6 milhões de euros em impostos para navegar e abastecer o iate Force Blue, famoso reduto de festas em fins de semana de GPs de Mônaco.

Por todo esse “lastro”, dá para afirmar com serenidade que Briatore não é flor que se cheire. Mas há gente pior, e algumas dessas pessoas também se tornaram dirigentes de escuderias na F1. O Projeto Motor lembra sete dessas figuras, em uma lista que reúne desde clássicos criminosos do colarinho branco até perigosos assassinos. Confira:

Akira Akagi (Leyton House): o fraudador

Herdeiro da empresa japonesa do ramo imobiliário Kenzai, ajudou a criar o grupo Leyton House em 1984, junto com outras 20 companhias, para investir nas áreas de imóveis, turismo, restaurantes, roupas e… esportes. A modalidade priorizada foi o esporte a motor: Akagi patrocinou a Genoa Racing March na F3000 e, empolgado com os bons resultados de Ivan Capelli, tornou-se patrocinador principal da reavivada March na F1 a partir de 87.

Foi além, virando sócio do time em 89 e, poucos meses depois, proprietário integral. Em setembro de 91, contudo, acabou preso, indiciado em um grande escândalo de empréstimos fraudulentos envolvendo empresários e bancos japoneses. Com a imagem arranhada, vendeu o time para um consórcio britânico.

Andrea Sassetti (Andrea Moda): o caloteiro

Dono de uma empresa fabricante de calçados chamada Andrea Moda, resolveu brincar de chefe de equipe na F1 e, no fim de 1991, comprou o espólio da falida Coloni. Através de contrato com a Simtek Research, reativou um recente projeto de monoposto encomendado pela BMW, que estava engavetado.

O comprometimento parecia sério, mas logo se transformou numa série de vexames: o time foi excluído do GP da África do Sul por não arcar com a taxa de inscrição para novas equipes, de US$ 100 mil; perdeu o fornecimento de motores Judd por falta de pagamento no GP do Canadá; e faltou à etapa da França porque uma greve de caminhoneiros atrasou a chegada a Magny-Cours.

A gota d’água veio na Bélgica: Sassetti recebeu voz de prisão dentro do padoque, por emitir notas fiscais frias para comprovar pagamentos a fornecedores. Por conta do escândalo, a FISA decidiu banir a esquadra do certame.

Didier Calmels (Larrousse-Calmels): o matador de esposas

Empresário francês de boas relações, ajudou Gérard Larrousse a fundar a Larrousse-Calmels, em 1987. Apesar das limitações, a escuderia tentava evoluir em seus primeiros anos de vida, tendo até contratado o renomado projetista Gerard Ducarouge para servir de engenheiro-chefe.

No fim de 89, quando tudo parecia bem encaminhado, Calmels cometeu um crime bárbaro: matou sua esposa a tiros após uma briga doméstica, sendo condenado à reclusão por sete anos. Gérard Larrousse se viu sozinho no projeto e, sem as habilidades de negociação do antigo sócio, enfrentou dificuldades financeiras e teve de vender metade da equipe para o grupo japonês Espo nos últimos meses daquele ano.

Seria o início de um ciclo que o deixaria refém de investidores aventureiros até deixar de vez o certame, em 95.

Don Nichols (Shadow): o espião

Fundador da Shadow, respeitada esquadra de F1 e também de competições de protótipos dos anos 70, o soturno americano se envolveu em um imbróglio de espionagem com a Arrows, equipe recém-criada em 1978 por ex-membros de seu time.

Nichols acusou o chassi FA/1 de ser uma cópia do DN9, e processou os novos concorrentes por espionagem industrial. Durante o processo, vencido por ele, mostrou-se um profundo conhecedor das leis de espionagem. Não era por menos: pouco depois, o garagista revelou ter sido um espião profissional da CIA nos anos 50 e 60, lotado no Japão para coletar informações sobre países como Coreia e Vietnã, em meio ao auge da Guerra Fria.

Fernando Gonzalez Luna (GLAS-Lamborghini): o golpista

O Projeto Motor já contou o fiasco protagonizado pela Lamborghini em 1991, quando tentou se tornar construtora na F1. Um dos grandes responsáveis pelo fracasso foi Fernando Gonzalez Luna, jovem empresário mexicano que tinha (ou pelo menos aparentava ter) a ambição de se tornar dono de uma operação na série mais importante do automobilismo.

Luna conseguiu mobilizar um grupo de conterrâneos a investir na ideia e, com US$ 20 milhões em caixa e promessa de arrecadar muito mais, convenceu dirigentes da marca italiana a fornecer motores e projetar os carros da GLAS Racing (sigla para Gonzalez Luna Association).

A estreia ocorreria em 1991. Só que, um dia antes da apresentação oficial à imprensa, em junho de 90, Luna sumiu do mapa e levou consigo todo o dinheiro, deixando patrocinadores e a própria montadora chupando os dedos.

Jean-Pierre Van Rossem (Onyx): o guru picareta

Jean-Pierre Van Rossem, sócio da equipe Onyx de F1 nos anos 80

Dá para levar a sério um sujeito excêntrico que se autodenomina economista, político anarquista, guru e filósofo? Pois muita gente confiou. Nos anos 80, Van Rossem ficou famoso por “criar” um supercomputador capaz de prever todas as flutuações do mercado financeiro e garantir um método infalível de aplicações sem risco de perdas.

A suposta máquina, na verdade, nunca existiu. Mesmo assim, a promessa de dinheiro fácil levou milhares de pessoas a aplicarem US$ 860 milhões no negócio, fazendo do belga um milionário.

Parte desse montante (US$ 150 milhões, para ser mais preciso) foi usada para patrocinar empreitadas automobilísticas, incluindo uma sociedade com Paul Shakespeare na recém-promovida à F1 Onyx, em 89. Van-Rossem foi além e, em setembro daquele ano, comprou o restante da esquadra, centralizando todas as operações.

À base de canetadas, livrou-se de todos que ousaram discordam de suas ideias: o piloto Bertrand Gachot; os fundadores Greg Field e Mike Earle; o sócio Jo Chamberlain; e até o projetista Alan Jenkins. Com tantos alicerces destruídos, e após perder um contrato de fornecimento de motores com a Porsche para a Footwork Arrows, Van Rossem se encheu da brincadeira e vendeu a esquadra para o empresário suíço Peter Monteverdi.

Klaus Walz (Venturi Larrousse): o assassino profissional

O coitado do Gérard Larrousse se meteu em cada uma… No final de 1992, a pequenina fabricante de carros Venturi, que se associara ao seu time no ano anterior, resolveu vender sua fatia, equivalente a 50% da companhia, ao fundo de investimentos francês Comstock.

O líder do grupo era o obscuro alemão Rainer Walldorf, que na verdade não existia: o verdadeiro nome do germânico era Klauz Walz, ex-assassino profissional procurado em vários países, por participação em pelo menos quatro mortes. Ele usava um pseudônimo para poder se esconder das autoridades.

Poucas semanas após o anúncio do acordo, a polícia francesa descobriu a fraude e tentou capturar Walldorf (ou Walz, você escolhe) em sua residência, próxima a Nice, mas acabou sofrendo um golpe: munido de uma granada que guardava em casa, o criminoso disfarçado de investidor evitou a prisão e ainda obrigou o inspetor da Polícia a levá-lo, de carro, ao topo de uma colina para, então, algemá-lo ao volante e fugir. Ele só seria preso, mesmo, um mês depois, ao ser reconhecido em um hotel na Alemanha.

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